Opinião
Os pactos necessários
Artur Quaresma Filho (*)
A proposta
do PT de reduzir a jornada semanal de trabalho de 44 para 40 horas com
manutenção do salário, para motivar uma elevação
do nível de emprego, dificilmente atingirá seu objetivo se
for implementada sem o alcance simultâneo de outras metas. O mesmo
vale para a proposta da Força Sindical, de reduzir em 10% a jornada.
Entre essas metas estão a
aprovação de uma reforma tributária que diminua efetivamente
o custo dentro das cadeias produtivas; uma reforma previdenciária
que alivie o peso dos encargos sociais nas folhas de pagamento; e uma reforma
trabalhista e da Justiça do Trabalho para que as empresas sejam
estimuladas a contratar e não punidas quando precisarem demitir.
No caso da construção
civil, há outros fatores que devem ser levados em consideração.
A execução das obras concentra-se no período do ano
em que há poucas chuvas. É quando costuma haver mais contratações
que demissões. No restante do ano, ocorre o contrário. Em
algumas regiões, há um maior volume de obras. Conseqüentemente,
existe uma maior demanda de emprego que em outras.
Essa diversidade de situações
também se aplica aos diferentes tipos de atividade na construção
civil. Há municípios em que se executam muito mais obras
públicas que em outros. As construtoras direcionadas à habitação
popular podem ter conquistado novas obras, enquanto as voltadas a saneamento
básico estão paradas. O setor de construção
imobiliária, que durante meses teve atividade deprimida, pode experimentar
um boom, enquanto o segmento de infra-estrutura esfria.
Tudo isso acontece dentro de uma
conjuntura marcada pela retração dos investimentos. O produto
da construção no Brasil caiu quase 7% nos últimos
quatro anos, eliminando 71 mil empregos no setor. Sem a reversão
drástica dessa conjuntura recessiva, fica difícil imaginar
uma redução da jornada com manutenção dos salários.
Se ela fosse imposta neste momento, a construção civil, impossibilitada
de contratar, alargaria os cronogramas de execução de suas
obras.
As entidades empresariais e de trabalhadores
do setor têm buscado conter o desemprego e diminuir a rotatividade,
mediante a implementação do banco de horas e de processos
de qualidade que elevam os vínculos de trabalho. Entretanto, o resultado
tem sido frustrante quando se buscam novos meios de desonerar as folhas
de pagamento, como a tentativa de inclusão do setor no regime tributário
do Simples, até agora rechaçada pelo governo.
Se o país voltar a crescer
e as reformas forem implementadas, o aumento do emprego na construção
ainda dependerá de outras medidas, como políticas de habitação
e infra-estrutura com recursos estáveis e acessíveis. Apenas
naquele momento, a redução da jornada no setor estará
madura para entrar em múltiplas mesas de negociação,
podendo se aplicar a determinadas regiões ou segmentos da construção.
(*) Artur Quaresma
Filho é presidente do Sindicato da Indústria da Construção
Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) e coordenador da Comissão
da Indústria da Construção da Fiesp. |