Engenharia
Garantia
do abastecimento de água expira em 2006
Projetistas de imóveis
em Santos devem buscar alternativas desde já
Carlos Pimentel Mendes (*)
Garantia:
só até 2006. Portanto, os projetistas de edificações
na ilha de São Vicente devem ficar atentos a essa data, pois a Sabesp,
questionada sobre o assunto, comenta apenas ter capacidade para o atendimento
da demanda atual, e a existência de investimentos para otimizar
a captação, mas desvia da pergunta sobre a ampliação
da capacidade de reservação. Aliás, a Sabesp fala
em sistema integrado mas em seguida divide a região em três
e cita que o Sistema Norte é isolado dos Sistemas Centro
e Sul. E não seria a primeira vez que uma programação
de investimentos deixe de se realizar por falta de verba (não basta
a boa intenção).
Com a duplicação da
rodovia Imigrantes, não pensada nos cálculos de 1980, mesmo
a garantia de abastecimento até 2006 pode já precisar ser
revista para menos. Como entre a decisão de executar uma obra e
a sua conclusão há uma demora de vários anos, incluindo
alocação de verbas, projeto, licitações e construção
(sem contar com os comuns e indesejados atrasos por motivos diversos),
e não consta a existência de obras para complementar a capacidade
atual de reservação de água, resta aos construtores
da região começar a planejar imóveis com caixas d'água
bem maiores.
Explica-se: a última grande
obra destinada a regular o abastecimento de água na área
insular de Santos e São Vicente, garantindo o líquido nas
torneiras mesmo com o pico da demanda nas férias de verão
- quando a população triplica, em razão da presença
dos turistas - foi o túnel reservatório escavado sob os morros
Santa Terezinha/Voturuá, que armazena até 110 milhões
de litros de água (maior em capacidade da América do Sul)
e entrou em funcionamento em 16/11/1981. Dados divulgados pelo então
superintendente regional da Sabesp, José Lopes dos Santos Filho,
indicavam que, com a obra, o abastecimento de água ficaria garantido
por 25 anos, até 2006.
Falta anunciada – A Baixada Santista
tem sérios problemas em termos de captação do líquido
- que é feita diretamente nos rios (sem represas de acumulação),
tratada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) mantida
pela Sabesp em Cubatão, e enviada ao túnel-reservatório
dos morros Santa Terezinha/Voturuá, que regula o abastecimento,
complementando nas torneiras a diferença entre a demanda e a captação.
Já na época, foi problemático
localizar uma área adequada à instalação do
reservatório - o plano diretor de Santos para 1975 ainda não
apresentava uma solução, que só foi descoberta a partir
de um estudo preliminar da antiga Companhia de Saneamento da Baixada Santista
(SBS) na década de 60, que previa a escavação em rocha
de quatro galerias horizontais para uso como reservatório.
No final dos anos 70, a Sabesp retomou
essa idéia e apontou como ideal para a obra o Morro de Santa Terezinha,
por ter formação geológica adequada à escavação,
situar-se na divisa entre Santos e São Vicente e no centro da área
a ser atendida, por ter poucas áreas a desapropriar (mesmo nos acessos)
e por não haver interferências importantes das obras na estabilidade
do maciço, garantindo-se o equilíbrio do ecossistema existente.
Além disso, seria possível instalar o reservatório
com cota de 42 metros de altura, para que tanto o recebimento da água
procedente de Cubatão como o abastecimento domiciliar fossem feitos
por gravidade, evitando os custos de bombeamento do líquido.
Os números do problema
– Em 1980, a produção máxima da ETA em Cubatão
era de 3 metros cúbicos por segundo (259.200 m³/dia) contra
uma demanda de 4,5 m³/s (388.800 m³/dia) no eixo Santos/São
Vicente-Cubatão (agora, a Sabesp informa estar tratando 4,5 m³/s
nessa ETA). A meta era garantir com o reservatório a demanda de
um terço do dia de maior consumo de 2006, horizonte do plano diretor
de Santos, que representaria 120 mil m³. O túnel-reservatório
representaria essa garantia, estudando-se ainda a recuperação
de dois reservatórios então desativados por falta de conservação
(o do Saboó Alto, para 25 mil m³, e o do Barbosa Alto, para
9 mil m³).
Considerando a persistente polêmica
entre as prefeituras e a Sabesp relativa ao controle da distribuição
domiciliar de água; a ampliação do fluxo turístico
representada pela duplicação em 2003 da Rodovia dos Imigrantes;
o não resolvido problema da ampliação das formas de
captação do líquido, e a própria demora em
cada etapa da instalação de um novo reservatório (a
começar pela definição do local, já que o adensamento
populacional já elimina outras opções na própria
ilha)... eis mais uma preocupação que os construtores da
região devem levar em conta desde já. E uma dor de cabeça
extra para os ocupantes dos imóveis já construídos.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
Veja mais:
Especial
água
Garantia
do abastecimento de água expira em 2006
A
resposta da Sabesp
Resposta
da Sabesp gera novas questões
Maior
reservatório de água da América Latina |