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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/30/02 09:45:10
Edição 111 - AGO/2002 

Engenharia

Garantia do abastecimento de água expira em 2006 

Projetistas de imóveis em Santos devem buscar alternativas desde já

Carlos Pimentel Mendes (*)

Garantia: só até 2006. Portanto, os projetistas de edificações na ilha de São Vicente devem ficar atentos a essa data, pois a Sabesp, questionada sobre o assunto, comenta apenas ter capacidade para o atendimento da demanda atual, e a existência de investimentos para otimizar a captação, mas desvia da pergunta sobre a ampliação da capacidade de reservação. Aliás, a Sabesp fala em sistema integrado mas em seguida divide a região em três e cita que o Sistema Norte é isolado dos Sistemas Centro e Sul. E não seria a primeira vez que uma programação de investimentos deixe de se realizar por falta de verba (não basta a boa intenção).

Com a duplicação da rodovia Imigrantes, não pensada nos cálculos de 1980, mesmo a garantia de abastecimento até 2006 pode já precisar ser revista para menos. Como entre a decisão de executar uma obra e a sua conclusão há uma demora de vários anos, incluindo alocação de verbas, projeto, licitações e construção (sem contar com os comuns e indesejados atrasos por motivos diversos), e não consta a existência de obras para complementar a capacidade atual de reservação de água, resta aos construtores da região começar a planejar imóveis com caixas d'água bem maiores.

Explica-se: a última grande obra destinada a regular o abastecimento de água na área insular de Santos e São Vicente, garantindo o líquido nas torneiras mesmo com o pico da demanda nas férias de verão - quando a população triplica, em razão da presença dos turistas - foi o túnel reservatório escavado sob os morros Santa Terezinha/Voturuá, que armazena até 110 milhões de litros de água (maior em capacidade da América do Sul) e entrou em funcionamento em 16/11/1981. Dados divulgados pelo então superintendente regional da Sabesp, José Lopes dos Santos Filho, indicavam que, com a obra, o abastecimento de água ficaria garantido por 25 anos, até 2006.

Em 1980, o superintendente da Sabesp detalha os planos do reservatório (foto: 'A Tribuna', Santos,10/12/1980, página 4)
Falta anunciada – A Baixada Santista tem sérios problemas em termos de captação do líquido - que é feita diretamente nos rios (sem represas de acumulação), tratada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) mantida pela Sabesp em Cubatão, e enviada ao túnel-reservatório dos morros Santa Terezinha/Voturuá, que regula o abastecimento, complementando nas torneiras a diferença entre a demanda e a captação.

Já na época, foi problemático localizar uma área adequada à instalação do reservatório - o plano diretor de Santos para 1975 ainda não apresentava uma solução, que só foi descoberta a partir de um estudo preliminar da antiga Companhia de Saneamento da Baixada Santista (SBS) na década de 60, que previa a escavação em rocha de quatro galerias horizontais para uso como reservatório.

No final dos anos 70, a Sabesp retomou essa idéia e apontou como ideal para a obra o Morro de Santa Terezinha, por ter formação geológica adequada à escavação, situar-se na divisa entre Santos e São Vicente e no centro da área a ser atendida, por ter poucas áreas a desapropriar (mesmo nos acessos) e por não haver interferências importantes das obras na estabilidade do maciço, garantindo-se o equilíbrio do ecossistema existente. Além disso, seria possível instalar o reservatório com cota de 42 metros de altura, para que tanto o recebimento da água procedente de Cubatão como o abastecimento domiciliar fossem feitos por gravidade, evitando os custos de bombeamento do líquido.

Estação de Tratamento de Água (ETA-3) de Cubatão. Foto: Sabesp
Os números do problema – Em 1980, a produção máxima da ETA em Cubatão era de 3 metros cúbicos por segundo (259.200 m³/dia) contra uma demanda de 4,5 m³/s (388.800 m³/dia) no eixo Santos/São Vicente-Cubatão (agora, a Sabesp informa estar tratando 4,5 m³/s nessa ETA). A meta era garantir com o reservatório a demanda de um terço do dia de maior consumo de 2006, horizonte do plano diretor de Santos, que representaria 120 mil m³. O túnel-reservatório representaria essa garantia, estudando-se ainda a recuperação de dois reservatórios então desativados por falta de conservação (o do Saboó Alto, para 25 mil m³, e o do Barbosa Alto, para 9 mil m³).

Considerando a persistente polêmica entre as prefeituras e a Sabesp relativa ao controle da distribuição domiciliar de água; a ampliação do fluxo turístico representada pela duplicação em 2003 da Rodovia dos Imigrantes; o não resolvido problema da ampliação das formas de captação do líquido, e a própria demora em cada etapa da instalação de um novo reservatório (a começar pela definição do local, já que o adensamento populacional já elimina outras opções na própria ilha)... eis mais uma preocupação que os construtores da região devem levar em conta desde já. E uma dor de cabeça extra para os ocupantes dos imóveis já construídos.

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.

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