Especial: Água
Resposta
da Sabesp gera novas questões
Empresa não respondeu
justamente a questão principal: o reservatório
Carlos Pimentel Mendes (*)
A resposta
da Sabesp suscita mais dúvidas do que certezas. Por exemplo, soma
as
produções de todos os sistemas que compõem sua Unidade
de Negócio da Baixada Santista, deixando para o entendimento nas
entrelinhas o detalhe de que não é plena a integração
dos sistemas, já que Guarujá e Bertioga têm sistemas
isolados, por questões geográficas. Assim, a soma das produções
significa menos do que parece, pois não se deve esperar que eventual
sobra de água em Bertioga seja transferida para o abastecimento
de Santos.
A Sabesp comenta bastante as obras
de captação no Sistema Sul, que permitirão dobrar
a produção de água para Praia Grande, Mongaguá,
Itanhaém e Peruíbe. Cabe perguntar qual a capacidade de intercâmbio
entre as redes Sul e Centro, para que a água produzida em Itanhaém
beneficie, se necessário, os consumidores da ilha de São
Vicente, mesmo que seja pelo efeito inverso da redução da
necessidade de se transferir água do Sistema Centro para o Sistema
Sul.
De qualquer forma, restou sem resposta
justamente a questão central feita à empresa: o que está
sendo feito para complementar a capacidade do túnel-reservatório
sob os morros Santa Terezinha/Voturuá - planejada para equilibrar
oferta e demanda apenas até 2006?
Quanto aos investimentos, leitura
atenta mostra que estão sendo ou serão feitos na captação
de água e seu tratamento, e na coleta/sistema de esgotos, e/ou no
tratamento ambiental. Nenhuma linha sobre ampliação da capacidade
de reservação.
Isso quer dizer que, a partir de
2006, a garantia de oito horas de abastecimento (calculadas pelo dia de
maior consumo) começará a baixar. Na prática, se um
acidente na Serra do Mar obrigar à interrupção das
atividades da ETA em Cubatão, será cada vez menor o período
em que os reservatórios conseguirão manter normal o
abastecimento da rede de distribuição domiciliar.
Informações da época
de sua construção indicavam que o custo para a construção
de um reservatório de água comum ficava em US$ 160 a 200
por metro cúbico. Ou seja, para um reservatório comum de
110 mil metros cúbicos, seria preciso investir uns US$ 22 milhões.
O reservatório-túnel, escavado no morro, custou metade desse
valor, por ser mínima a necessidade de desapropriações
e a própria rocha facilitar a obra. A Sabesp não fala sequer
em obras planejadas para um novo reservatório, que será mais
difícil de construir, com a falta de locais disponíveis.
O jogo de números que acena
com investimentos até de um banco japonês esconde nas entrelinhas
que são investimentos em recuperação ambiental na
questão dos esgotos, ampliações na captação
nos subsistemas Norte e Sul e na estação de tratamento em
Cubatão. Não é dito nada sobre justamente o que foi
perguntado: a ampliação da capacidade de reservação
de água para a ilha de São Vicente.
A imprecisão dos números
fornecidos impede melhor análise sobre os parâmetros com que
a Sabesp trabalha atualmente, especialmente em termos de planejamento.
Nota-se razoavelmente bem nas torneiras que a Sabesp vem atendendo a demanda
atual de água na Baixada Santista, mas, com o aumento da população
fixa e flutuante (turistas) nos próximos anos, até quando
esse nível de qualidade pode ser mantido?
Para ficar claro o problema, imagine
um prédio com suas caixas d'água. Aumenta cada vez mais o
número de moradores, no alto verão (época de maior
consumo) o prédio recebe ainda todos os parentes desses moradores.
Aumenta um pouco o fornecimento de água, mas não a capacidade
dos reservatórios desse prédio. Fica claro que, se ocorrer
um corte no fornecimento de água a esse prédio, por qualquer
motivo, as caixas d'água de reserva serão esvaziadas mais
rapidamente, já que é bem maior o número de consumidores.
Pois é, a caixa d'água da Baixada Santista já precisa
de uma boa ampliação. Se ela não estiver concluída
a tempo, será necessário que cada apartamento desse prédio-exemplo
os moradores deixem alguns galões de água como reserva...
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
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