Novos tempos
Arquitetura vira arma de ataque e
defesa (1)
Carlos Pimentel Mendes (*)
“Intervenção
cirúrgica na paisagem” de NY foi preparada por estudantes de arquitetura
e urbanismo...
"Habitar
não é um ato simples e passivo, mas complexo e dinâmico,
uma luta entre o indivíduo e as condições que o rodeiam”,
segundo o conceito do arquiteto norte-americano Lebbeus Woods, diretor
do Instituto de Investigação para Arquitetura Experimental
(Perspectiva 94, 3/2001). Como ele, arquitetos
de todo o mundo vêm repensando o papel dessa profissão frente
não só a terremotos e outras manifestações
naturais como em relação a guerras e fenômenos sócio-culturais.
Além de mudar o cenário
político e econômico mundial, o ataque terrorista que destruiu
na manhã de 11/9/2001 as torres gêmeas do World Trade Center,
em New York (e uma seção do Pentágono, em Washington)
já é visto como um marco na mudança de paradigmas
da própria Arquitetura. Afinal, alguns dos terroristas que jogaram
os aviões contra os prédios estudaram Arquitetura na Alemanha
(Mohammed Atta, por exemplo, estudou Planejamento Urbano na Universidade
Técnica de Hamburg-Harburg, na Alemanha e recebeu bacharelado em
Arquitetura na Universidade do Cairo, no Egito, como informado em Architecture
Record) e planejaram os ataques usando o que aprenderam na escola,
de forma a causar o trágico efeito desejado.
Assim, o novo papel do arquiteto e urbanista
é pensar também na forma como a edificação
será usada e no papel que ela terá na comunidade a que servirá.
E até, prever as conseqüências de sua destruição.
No caso do World Trade Center, os construtores previram a resistência
dos prédios ao impacto normal de aviões, mas não o
que aconteceria se eles estivessem repletos de combustível e o calor
das chamas enfraquecesse as estruturas de sustentação.
Os terroristas-arquitetos perceberam
e atacaram justamente no ponto vulnerável, considerando até
mesmo a altura em que o impacto deveria ocorrer para os prédios
serem demolidos. Por exemplo, se os impactos tivessem ocorrido na base
das torres, o fogo resultante poderia ter sido controlado, evitando a queda
dos prédios.
Analisando o desastre – Publicações
especializadas em Arquitetura se dedicaram nos dias seguintes à
tragédia a buscar explicações para a total destruição
dos prédios gêmeos que marcavam o horizonte novaiorquino.
Foi apontado um efeito dominó, de destruição sucessiva
dos prédios, andar por andar, após o colapso da estrutura
– em efeito semelhante ao das implosões que nos acostumamos a ver
– só que em prédios desabitados. O engenheiro estrutural
Les Robertson, que projetou as torres, informou que as colunas de aço
foram previstas para resistir ao impacto até de um avião
Boeing 707, segundo notícia do jornal norte-americano Chicago
Tribune. publicada algumas horas após o atentado.
O fogo é destacado pelo professor
Wu Huanjia, da Universidade Qinghua, como o grande causador da destruição,
por enfraquecer as estruturas de aço que suportavam o peso dos 110
andares de cada prédio: “Materiais refratários (concreto)
são aplicados na construção, mas não se poderia
prever a resistência a largos conflitos”. Segundo especialistas consultados
pelo jornal chinês Diário
do Povo, quando em 1945 um avião militar americano colidiu
com o Empire State, o prédio suportou bem o impacto por ser causado
por um avião pequeno e com pouco combustível, que não
causou assim um grande incêndio. No caso das torres, os 20 mil galões
de combustível permitiram calor acima de 1.093 graus centígrados,
suficiente para enfraquecer as estruturas.
Recordando: em 28/7/1945, um bombardeiro
B-25 da Army Air Corps desorientado em meio à forte chuva e nebulosidade,
voando a 321,87 km/h, se chocou contra os andares 78 e 79 do edifício
Empire State, morrendo 14 pessoas com o impacto e o incêndio que
ele causou, segundo o noticiário ABC
News.
Por outro lado, o impacto dos aviões
pode ter danificado o sistema de sprinklers que deveria funcionar na proteção
das colunas de aço, segundo Joseph Burns, engenheiro principal em
Chicago da firma Thornton-Thomasetti Engineers (que preparou a estrutura
das torres gêmeas Petronas na Malásia, atualmente os maiores
prédios do mundo).
Os aviões Boeing 757 sequestrados
se transformaram em grandes bombas voadoras de 35 toneladas (estrutura
mais combustível), e voando a cerca de 900 km/hora, equivaliam a
um peso de 495 mil toneladas, resultando num impacto com a força
de cerca de 20 toneladas de explosivos. Se 800 kg desses explosivos bastariam
para destruir um prédio de 50 andares, é quase inimaginável
a força destrutiva daqueles aviões-bomba, segundo a análise
dos especialistas chineses.
Terremoto – O colapso das torres
gêmeas do WTC causou um impacto equivalente a um terremoto com magnitude
2.4 na ilha de Manhattan, que abriga o centro de New York, segundo notícia
da BBC de Londres. Cerca de 100 outros prédios nas proximidades
sofreram algum tipo de abalo em conseqüência da onda de choque
assim propagada.
Já o professor Shi Yongjiu,
diretor do departamento de Engenharia Civil da universidade chinesa Qinghua
e especialista em estruturas de aço, estranhou ainda que um edifício
próximo ao WTC, com 40 andares, tenha caído seis horas mais
tarde, pois as ondas de choque causadas pela destruição das
torres não teriam perdurado por tanto tempo, tanto que a própria
base das torres só foi destruída com a queda dos andares
superiores. Assim, ele conjectura que o trabalho destrutivo causado pelos
aviões poderia ter sido complementado por explosivos colocados por
terroristas em terra.
Apesar disso, engenheiros e outros
especialistas que acompanham os trabalhos nos escombros do WTC acreditam
que a base dos prédios no subsolo (de cerca de 324 por 162 metros,
com seis níveis de concreto reforçado, ancorados nas rochas
do subsolo por cordas de aço de 6,8 a 32,4 metros de comprimento)
tenha sofrido danos mínimos, permitindo a reconstrução
dos prédios usando as mesmas fundações.
Um dos cuidados é com a penetração
de água do subsolo, especialmente na parede Oeste, mais próxima
do rio Hudson. Eles especulam com pelo menos três métodos
de reconstrução, talvez replicando o projeto original de
1966 – ainda será necessária uma análise mais profunda
sobre o comprometimento das fundações dos prédio,
a ser feita após os trabalhos de remoção das vítimas
e dos escombros –, como aponta a publicação eletrônica
especializada Construction.com.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
Veja também:
Empire
State, o símbolo dos arranha-céus
Arquitetura
vira arma de ataque e defesa (2 - estatísticas/fotos)
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vira arma de ataque e defesa (3 - anatomia do desastre) |