Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/real/ed086h.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/08/00 23:03:36
Edição 086 - JUN/2000 

Obra

Empire State, o símbolo dos arranha-céus

Ele não é o edifício mais alto do mundo, desde que a Sears Tower foi concluída em Chicago, em 1973. Mas nenhum arranha-céu tem o charme do velho Empire State, que, aos 70 anos, até hoje rivaliza com a Estátua da Liberdade no status de cartão postal de Nova Iorque. 

Construído durante a Depressão, o edifício foi o centro de uma competição que envolveu arquitetos e executivos da indústria automotiva, inclusive Walter Chrysler (Chrysler Corp.) e John Jacob Raskob (General Motors) para ver quem construiria o edifício mais alto do mundo.

Foram duas as inovações que tornaram viável a construção dos arranha-céus. A primeira foi a estrutura interna de aço, forte e leve. Ela tirou a carga das paredes externas dos prédios que puderam, a partir daí, ser feitas de materiais mais finos e, preferivelmente, resistentes ao fogo.

O outro avanço tecnológico necessário, também teve a ver com a altura. As pessoas não conseguem subir a pé mais que uns poucos andares, sem perder o bom humor. Felizmente, em 1853, Elisha Graves Otis inventou o elevador de segurança que não só levava as pessoas a grandes alturas, mas também podia permanecer estacionado se o cabo de suporte se partisse. Inicialmente movido a vapor, em 1889 (o ano em que Gustav Eiffel construiu a sua torre) o elevador uniu-se à eletricidade. 

E os arranha-céus tornaram-se possíveis.

O tecnicamente possível encontrou no leito de rocha firme do subsolo de Manhattan, o campo fértil ideal para proliferar, adubado pelo espírito empreendedor e pela prosperidade econômica dos anos dourados da década de 20.

E foi na segunda metade da década de 20 que Nova Iorque passou por um boom sem precedentes na construção civil. Chegou-se ao ponto em que a obra de um novo arranha-céu já raramente despertava atenção. Só em Manhattan havia mais de 180 prédios com 21 andares ou mais. Mesmo assim, no número 40 de Wall Street, o arquiteto H. Craig Severence dedicava-se a quebrar mais um recorde de altura: o edifício do Bank of Manhattan, que ele estava construindo, teria 282,5 metros ultrapassando, finalmente, os 241 metros do venerável Edifício Woolworth. 

Mas o antigo sócio de Severence, que se tornara seu rival, William Van Alen, estava desenvolvendo um projeto quase paralelo na esquina da rua 42 com a Avenida Lexington. Ali seria erguida a sede corporativa da Chrysler. Esbelto e prateado, o Edifício Chrysler – até hoje considerado um dos mais belos arranha-céus do mundo – teria toques ornamentais que lembrariam o estilo cromado dos mais modernos automóveis Chrysler da época. Conforme divulgado, ele terminaria numa cúpula totalizando 282 metros, quase igualando, mas ainda aquém do recorde de Severence.

Portanto, quando o prédio do Bank of Manhattan foi concluído, ele foi dado como o edifício mais alto do mundo. Van Alen, no entanto, ainda tinha uma carta na manga. Poucas semanas depois, com o Edifício Crhysler quase pronto, uma coisa estranha começou a se erguer do seu topo. Em vez de uma cúpula achatada, o alto do prédio seria uma torre de aço inoxidável, pesando 27 toneladas, construída em segredo dentro do próprio prédio. 

Quando os operários terminaram de fixar a torre, o Edifício Chrysler totalizava 319 metros de altura, ultrapassando não só o do Bank of Manhattan, por uma boa margem, mas também os 300 metros da própria Torre Eiffel. 

O recorde não duraria muito tempo.

O Empire State ofuscou o brilho da cúpula art deco do Edifício Chrysler com 60 metros a mais. Sua construção quebrou todos os recordes. Erguido à velocidade de um andar por dia, o Empire State deteve, durante mais de 40 anos, o título de arranha-céu mais alto do mundo.

“Incrível realização em termos de logística e construção civil”

John J. Raskob, ex-executivo da General Motors, vinha acompanhando de perto a disputa, com mais do que mera curiosidade. Raskob também começara a se envolver no ramo imobiliário e tinha divulgado sua intenção de construir um prédio de 80 andares com 305 metros de altura.

Passada a comoção causada pelo Edifício Chrysler, Raskob pediu à sua firma de engenharia, Shreve, Lamb & Harmon, que rapidamente incluísse mais alguns andares na planta. Foi assim que o Empire State ganhou seus últimos seis andares e ainda um elegante, mas totalmente inútil (devido às correntes de vento de Manhattan) mastro para atracação de dirigíveis. 

Com seus 381 metros e 102 andares, o Empire State foi concebido nos últimos anos exuberantes da década de 20, mas construído na situação muito diferente da Grande Depressão que se seguiu. E mesmo vindo de uma era de prosperidade econômica, o desenho do Empire State é muito simples, quase austero, usando o estilo art deco com parcimônia. 

Mas mais do que um grande edifício, o Empire State é uma incrível realização em termos de logística e construção civil. Sem espaço para armazenagem à sua volta, os materiais tinham que ser entregues em ritmo perfeitamente sincronizado com a construção. Subindo em média 5 andares por semana (embora o recorde durante a obra tenha sido de 14 andares e meio em 10 dias), o arranha-céu foi totalmente construído pela equipe de 3.500 homens em 1 ano e 45 dias, num total 7 milhões de horas/homem. A construção da Grande Pirâmide, ao que se sabe, empregou 100.000 pessoas e levou 30 anos. A pressão era tamanha que um dos empreiteiros morreu de enfarte logo após a inauguração do prédio e outro se aposentou após um colapso nervoso.

Durante os meses de construção, foram assentados 10.000 tijolos, despejados 47.000 metros cúbicos de concreto, fixadas 6.500 janelas e instalados 67 elevadores, com 11 quilômetros de cabos. Os aposentos foram equipados com 6.700 aquecedores e 2.500 vasos sanitários e pias. No acabamento foram usadas 10.000 toneladas de gesso e 30.000 metros quadrados de mármore.

O projeto do Empire State foi completado antes do tempo e abaixo do orçamento. Calculado inicialmente em 50 milhões de dólares, seu custo foi reduzido para US $40,948,900. 

Tantas pessoas visitaram os seus dois patamares de observação (4 milhões nos primeiros 5 anos) que os outros arranha-céus – inclusive a Torre Met Life, o Edifício Woolworth e o Edifício Chrysler – desativaram seus próprios observatórios por falta de procura. Entre os visitantes ilustres do Empire State, estão Fidel Castro, a Rainha Elizabeth, o Príncipe Charles, o Príncipe Andrew, a Duquesa de York, Nikita Krushchev, o Rei do Sião, Pelé, o grupo Kiss e Lassie.

Em julho de 1945, o Empire State foi atingido por um bombardeiro bimotor B-25, perdido no nevoeiro, entre o 78º e o 79º andares. 

Quando a construção civil voltou a ganhar força, depois da Segunda Guerra Mundial, o Empire State parecia uma obra da antigüidade. O charme do estilo art deco fora suplantado pela frieza do estilo moderno, muito mais econômico. Os arranha-céus típicos do pós-guerra tinham toda a complexidade geométrica de uma caixa de sapatos colocada na vertical. 

Os magnatas que construíram os arranha-céus estão hoje nas páginas da história e o título de edifício mais alto do mundo, nem sequer está mais nos Estados Unidos. Atualmente ele pertence à Petronas Towers, em Kuala Lumpur, na Malásia. Mas, tenha a altura que tiver, nenhuma torre de vidro irá ocupar o lugar do Empire State, que será sempre o símbolo dos arranha-céus.
 
 

Ficha técnica:
Arquitetos: Shreve, Lamb & Harmon Associates 
Construtores: Starrett Brothers and Eken 
Construção: Iniciada em 17 de março de 1930. A estrutura foi erguida ao ritmo de 4 andares e meio por semana. 
Alvenaria: Terminada em 13 de novembro de 1930. 
Tempo total de construção: 1 ano e 45 dias, inclusive domingos e feriados (antes do previsto).
Horas/homem: 7.000.000 
Custo: US$ 40.948.900 (inclusive o terreno) 
Custo da obra: US$ 24.718.000 (com a depressão, o custo da obra caiu pela metade) 
Área do terreno: 7.240 metros quadrados.
Fundação: 16,7 metros de profundidade.
Base: 10,6 metros de profundidade.
Saguão: 14,3 metros acima do nível do mar.
Altura total: 443,2 metros até o topo do pára-raio. 
Altura da antena: 62 metros 
Andares: 102 
Degraus: 1.860 do nível da rua ao 102o andar.
Volume: 1 milhão de metros cúbicos. 
Peso: 365.000 toneladas.
Estrutura de aço: 60.000 toneladas 
Material exterior: 5.664 metros cúbicos de calcário Indiana, 283 metros cúbicos de mármore Rose Famosa e Estrallante, 8.500 metros cúbicos de mármore Hauteville e Rocheron.
Janelas: 6.500 
Acesso à rua: 5 entradas na rua 33, na Quinta Avenida e na rua 34.
Elevadores: 73, inclusive 6 elevadores de carga. Nos elevadores de passageiros é possível chegar do saguão ao 80º andar em 45 segundos.
Escadas rolantes: Oito escadas rolantes de alta velocidade servem as áreas de acesso e até o segundo andar. 
Telecomunicações: Entre as amenidades à disposição dos ocupantes incluem-se cabos de fibra ótica, central telefônica, TV a cabo e website na Internet.
Aquecimento: Fornecido por concessionária de serviços públicos, através de 80 quilômetros de serpentina. 
Ar condicionado: Fornecido através de 7.450 toneladas de equipamento de refrigeração. (O ar condicionado foi instalado em 1950 e modernizado em 1984 e em 1997). 
Água: 112 quilômetros de encanamento levam água a caixas instaladas em vários andares, ficando a última delas no 101º andar. O consumo diário de água é da ordem de 750 metros cúbicos. 
Eletricidade: 762 quilômetros de fiação elétrica fornecem os 40 milhões de quilowatt/hora consumidos pelo prédio, por ano. 
Combate a incêndio: Um sistema especial leva água a 400 conexões para mangueiras espalhadas pelo prédio. Em 1998 foi instalado um moderníssimo sistema de alerta sonoro e de iluminação de emergência. 
Coleta de lixo: 100 toneladas de lixo são removidas do prédio, todos os meses. 
Pessoal: Aproximadamente 250 pessoas trabalham na administração do prédio, das quais 150 fazem parte da equipe de manutenção.