Opinião
Para entender a crise energética
Alberto Goldman (*)
Não
é possível uma análise séria da crise energética,
sem conhecer os dados a respeito do ciclo hidrológico e da situação
dos reservatórios, que guardam o combustível para movimentar
as turbinas de nossas hidroelétricas.
Em 1997, os reservatórios
no Sudeste/Centro-Oeste chegaram no pico, a 88% de sua capacidade. E o
ponto mais baixo, na época seca, a 62%, acima da média dos
anos anteriores.
Em 1998, o pico cai para 83% e o
piso vai a 44%, números que mostram quedas consideráveis.
No período de chuvas de 1999, os reservatórios chegam a apenas
70%. E na seca, uma queda brutal para 19%. Isto é, não só
o menor índice como a maior queda da década (de 70% para
19% portanto, 51% escoaram neste ano).
No ano 2000, com as chuvas, os reservatórios
chegam a 59% e, no final do ano caem para 28.5%, com tendência ao
crescimento face ao novo período chuvoso. Porém isso não
acontece. Em janeiro de 2001 os reservatórios passam a 31.4% no
Sudeste e a partir daí, pouco variam, indicando um comportamento
atípico, imprevisível e sem qualquer referência nas
últimas décadas.
Além do inesperado comportamento
das chuvas, é preciso que se ressalte que contribuiu para a situação
atual dos reservatórios o permanente crescimento do consumo de água
e de energia, seja pelo uso múltiplo daquela, seja pelo crescimento
do consumo de energia, particularmente comercial e residencial, superior
ao crescimento do PIB.
Ao tratar da capacidade instalada
de energia elétrica é importante ressaltar que não
é correto afirmar que o país não tenha investido no
seu aumento. Em 1995 era de 55.800 MW. Em 2000 de 67.700MW, crescimento
de 21,3%.
Importante ainda é lembrar
o principal motivo da nossa opção histórica pelas
hidroelétricas como modelo gerador de energia elétrica. Ela
é explicada em função da abundância de águas
no país. Além disto, a ausência de reservas substanciais
de petróleo e carvão, o medo do uso da energia nuclear e
a hesitação nas definições quanto as termoelétricas,
fez com que se consolidasse no Brasil o modelo das hidroelétricas.
Enfim, estes são alguns pontos
para o melhor entendimento da crise. Porém, a maior lição
nos dá o consumidor. Para surpresa de muitos e decepção
dos pescadores de águas turvas, a sua reação é
construtiva e patriótica. Está participando, sem que tenha
sido organizado, de um movimento cívico como poucas vezes se viu
na história brasileira.
(*) Alberto
Goldman é Deputado Federal (PSDB/SP). |