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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 06/14/01 21:36:12
Edição 096 - MAI/2001 

Opinião

Para entender a crise energética 

Alberto Goldman (*)

Não é possível uma análise séria da crise energética, sem conhecer os dados a respeito do ciclo hidrológico e da situação dos reservatórios, que guardam o combustível para movimentar as turbinas de nossas hidroelétricas. 

Em 1997, os reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste chegaram no pico, a 88% de sua capacidade. E o ponto mais baixo, na época seca, a 62%, acima da média dos anos anteriores.

Em 1998, o pico cai para 83% e o piso vai a 44%, números que mostram quedas consideráveis. No período de chuvas de 1999, os reservatórios chegam a apenas 70%. E na seca, uma queda brutal para 19%. Isto é, não só o menor índice como a maior queda da década (de 70% para 19% portanto, 51% escoaram neste ano).

No ano 2000, com as chuvas, os reservatórios chegam a 59% e, no final do ano caem para 28.5%, com tendência ao crescimento face ao novo período chuvoso. Porém isso não acontece. Em janeiro de 2001 os reservatórios passam a 31.4% no Sudeste e a partir daí, pouco variam, indicando um comportamento atípico, imprevisível e sem qualquer referência nas últimas décadas. 

Além do inesperado comportamento das chuvas, é preciso que se ressalte que contribuiu para a situação atual dos reservatórios o permanente crescimento do consumo de água e de energia, seja pelo uso múltiplo daquela, seja pelo crescimento do consumo de energia, particularmente comercial e residencial, superior ao crescimento do PIB.

Ao tratar da capacidade instalada de energia elétrica é importante ressaltar que não é correto afirmar que o país não tenha investido no seu aumento. Em 1995 era de 55.800 MW. Em 2000 de 67.700MW, crescimento de 21,3%. 

Importante ainda é lembrar o principal motivo da nossa opção histórica pelas hidroelétricas como modelo gerador de energia elétrica. Ela é explicada em função da abundância de águas no país. Além disto, a ausência de reservas substanciais de petróleo e carvão, o medo do uso da energia nuclear e a hesitação nas definições quanto as termoelétricas, fez com que se consolidasse no Brasil o modelo das hidroelétricas.

Enfim, estes são alguns pontos para o melhor entendimento da crise. Porém, a maior lição nos dá o consumidor. Para surpresa de muitos e decepção dos pescadores de águas turvas, a sua reação é construtiva e patriótica. Está participando, sem que tenha sido organizado, de um movimento cívico como poucas vezes se viu na história brasileira.

(*) Alberto Goldman é Deputado Federal (PSDB/SP).