Editorial
De crise em crise
Luiz Carlos Ferraz, editor
Agora, com
a crise de energia elétrica, o presidente FHC tem um bom argumento
para justificar outra vez o adiamento da divulgação de um
Programa Nacional de Habitação – o que se estava esperando
para o seu discurso de 4/6/2001, durante o 2º Confic, no Rio de Janeiro.
Tudo indica que as expectativas serão frustradas. E mais: caso se
confirmem as previsões de que o controle no consumo de energia vai
durar nos próximos dois anos, isso significa que não será
mais neste governo que a indústria imobiliária será
finalmente contemplada com um plano de desenvolvimento.
Mudam-se as prioridades, mas no fundo
revela-se mesmo é a falta de vontade política para alavancar
o setor que possui a melhor resposta para gerar empregos, como se isso
não fosse mais preciso, pelo menos por ora. A falta de energia,
aliás, poderia transformar-se na luz do fim do túnel da construção
civil, caso o governo federal, de resto os estaduais e municipais, decidisse
discutir a escassez (?) crônica de recursos públicos e, especialmente,
se conscientizasse da necessidade de compartilhar a gestão do setor
habitacional com a iniciativa privada e a sociedade civil organizada.
Os três setores, como se sabe,
realizam planos limitados de produção habitacional, e juntos
poderiam obter melhores resultados. Modelos como o consórcio de
imóveis e o cooperativismo, aliados aos sistemas de administração
e financiamentos pelas próprias construtoras, têm-se revelado
eficazes para satisfazer nichos de mercado.
O sistema de mutirão, organizado
pelas próprias comunidades, também realiza inegáveis
avanços em camadas sociais específicas – o que acontece também
com o tímido programa oficial. Conjugar a gestão de todas
essas iniciativas é o que se deve fazer neste momento de indefinição,
no qual, sob o manto de mais uma crise, vai-se adiar sine die a solução
para o crescente déficit habitacional brasileiro. |