Idioma
Quem sabe pronunciar esses nomes?
Denominações
em outros idiomas causam problemas e prejuízos
Carlos Pimentel Mendes
Para
você que sabe inglês, francês, italiano, vai ao exterior
freqüentemente, vai parecer à primeira vista um assunto despropositado.
Mas, tenha a certeza, trata-se de um problema para os outros 98% da população
brasileira, que mal sabem assinar o nome e escrever algumas palavras em
português. Ou, pelo menos, que não tiveram a oportunidade
de estudar outro idioma. Trata-se dos nomes dos prédios e de suas
dependências, que cada vez mais são grafados em outros idiomas,
ou até numa salada de idiomas em que seu significado se perde totalmente.
O assunto já vem preocupando
pessoas em todo o Brasil, que perceberam os prejuízos causados por
essa prática, cada vez mais comum. Recentemente (em 22 de julho),
o jornal Correio Braziliense, da capital federal, entrevistou porteiros
de edifícios e entregadores de encomendas, descobrindo que eles
estão usando códigos bem especiais para se entenderem no
meio de prédios como Corporate Financial Centers (“corporete”, “aquele
edifício azul”), Number One (“namberuane”), San Paul (“sampô”)
e outros do gênero.
Eles simplesmente não entendem
o que significam tais nomes, acabam apelidando os prédios para se
entenderem nas conversas com os colegas, e – o mais importante – perdem
um tempo considerável tentando descobrir como pronunciar de forma
inteligível tais nomes arrevezados e localizar o endereço
para a entrega de uma encomenda.
Esse prejuízo pode parecer
pequeno, como muitos outros que sofremos diariamente, mas basta uma pequena
conta de multiplicação do tempo perdido numa entrega pelo
total de entregas feitas em tais prédios numa cidade para se entender
que os valores envolvidos são bastante consideráveis.
Ou, então, ficar esperando
por um documento decisivo para o fechamento de um negócio num desses
Corporate Financial Centers e World Trade Centers, momentos antes de seguir
para o aeroporto para outro compromisso, para entender como podem ser cruciais
aqueles minutos perdidos pelo entregador.
Dimensão do problema -
E nem pense que basta a firma de entregas contratar funcionários
poliglotas, pois eles continuam tendo de conversar com pessoas para localizar
os endereços. Pessoas que, em grande parte, mal sabem usar o português.
E, como já ocorre em Minas Gerais, vão a uma lanchonete e
pedem sanduíche “X-queijo”. Sem queijo, por favor.
Caso prefira, inverta a equação:
diga ao motorista que precisa ir a um desses prédios de nome complicado,
numa cidade em que acabou de chegar para uma reunião urgente de
negócios com um cliente que não tolera atrasos. E, até
o motorista entender que Washington é o que ele conhece como “Uaxinton”,
por exemplo, vá contando os segundos. Um a um...
Se em outros lugares o problema é
sério, imagine então em cidades como Salvador, em que o costume
é identificar os endereços pelo nome do prédio, desconhecendo-se
totalmente o nome da rua onde ele se situa?
Lado de dentro – Mas, continuemos:
diga rápido, ó membro da elite, o que significam precisamente
em português termos como hall, living, room, WC, closet. Ótimo,
você sabe. Agora, pergunte aos seus funcionários. Ou vá
a uma loja que ostenta a placa “delivery” (leia “delivéri”, com
sotaque nordestino) e pergunte se eles fazem entrega em domicílio.
Entre na outra que coloca na entrada a faixa “50% off” e pergunte ao funcionário
se tem desconto no preço. Ficará surpreendido com as respostas...
aliás, experimente ver num dicionário o que significa “off”
(eu fiz: vai de “maluco” a “estragado”, sem passar por “desconto”)...
O problema continua: recentemente,
uma estudante universitária santista declarou a um jornal que não
sabia como traduzir a palavra “shopping”. E estava em um conhecido centro
de compras que costuma freqüentar. Talvez tivesse razão: nem
os norte-americanos usam essa palavra, tão difundida no Brasil,
pois para eles um “shopping center” é na verdade um “mall”. Como
o canadense Edmonton West Mall e o estadunidense Mall of America, que Real
Perspectiva mostrou na edição anterior.
Raciocine, então: se um universitário
– pertencente a uma elite cultural privilegiada por ter se destacado em
relação à média da população
que só possui, quando muito, o primeiro grau – não sabe o
que é um shopping/mall, vai entender o que significam outros
termos estrangeiros usados na denominação e na descrição
de um prédio?
Não é por acaso que
muito brasileiro quebra a cara na primeira viagem aos Estados Unidos, quando
encontra na maçaneta da porta a inscrição “Push”.
E puxa. |