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Edição 090 - OUT/2000 

Idioma

Quem sabe pronunciar esses nomes?

Denominações em outros idiomas causam problemas e prejuízos

Carlos Pimentel Mendes

Para você que sabe inglês, francês, italiano, vai ao exterior freqüentemente, vai parecer à primeira vista um assunto despropositado. Mas, tenha a certeza, trata-se de um problema para os outros 98% da população brasileira, que mal sabem assinar o nome e escrever algumas palavras em português. Ou, pelo menos, que não tiveram a oportunidade de estudar outro idioma. Trata-se dos nomes dos prédios e de suas dependências, que cada vez mais são grafados em outros idiomas, ou até numa salada de idiomas em que seu significado se perde totalmente.

Nossos ladrões são mais cultos, por isso o aviso na casa é em inglês... - Foto: Antonio Carlos Bodini Dias
O assunto já vem preocupando pessoas em todo o Brasil, que perceberam os prejuízos causados por essa prática, cada vez mais comum. Recentemente (em 22 de julho), o jornal Correio Braziliense, da capital federal, entrevistou porteiros de edifícios e entregadores de encomendas, descobrindo que eles estão usando códigos bem especiais para se entenderem no meio de prédios como Corporate Financial Centers (“corporete”, “aquele edifício azul”), Number One (“namberuane”), San Paul (“sampô”) e outros do gênero. 

Eles simplesmente não entendem o que significam tais nomes, acabam apelidando os prédios para se entenderem nas conversas com os colegas, e – o mais importante – perdem um tempo considerável tentando descobrir como pronunciar de forma inteligível tais nomes arrevezados e localizar o endereço para a entrega de uma encomenda.

Esse prejuízo pode parecer pequeno, como muitos outros que sofremos diariamente, mas basta uma pequena conta de multiplicação do tempo perdido numa entrega pelo total de entregas feitas em tais prédios numa cidade para se entender que os valores envolvidos são bastante consideráveis. 

Ou, então, ficar esperando por um documento decisivo para o fechamento de um negócio num desses Corporate Financial Centers e World Trade Centers, momentos antes de seguir para o aeroporto para outro compromisso, para entender como podem ser cruciais aqueles minutos perdidos pelo entregador. 

Placa de rua: para peixe é mercado, para as roupas é shopping?
Dimensão do problema - E nem pense que basta a firma de entregas contratar funcionários poliglotas, pois eles continuam tendo de conversar com pessoas para localizar os endereços. Pessoas que, em grande parte, mal sabem usar o português. E, como já ocorre em Minas Gerais, vão a uma lanchonete e pedem sanduíche “X-queijo”. Sem queijo, por favor.

Caso prefira, inverta a equação: diga ao motorista que precisa ir a um desses prédios de nome complicado, numa cidade em que acabou de chegar para uma reunião urgente de negócios com um cliente que não tolera atrasos. E, até o motorista entender que Washington é o que ele conhece como “Uaxinton”, por exemplo, vá contando os segundos. Um a um...

Se em outros lugares o problema é sério, imagine então em cidades como Salvador, em que o costume é identificar os endereços pelo nome do prédio, desconhecendo-se totalmente o nome da rua onde ele se situa?

Nem os funcionários sabem que o estabelecimento tem entrega em domicílio...
Lado de dentro – Mas, continuemos: diga rápido, ó membro da elite, o que significam precisamente em português termos como hall, living, room, WC, closet. Ótimo, você sabe. Agora, pergunte aos seus funcionários. Ou vá a uma loja que ostenta a placa “delivery” (leia “delivéri”, com sotaque nordestino) e pergunte se eles fazem entrega em domicílio. Entre na outra que coloca na entrada a faixa “50% off” e pergunte ao funcionário se tem desconto no preço. Ficará surpreendido com as respostas... aliás, experimente ver num dicionário o que significa “off” (eu fiz: vai de “maluco” a “estragado”, sem passar por “desconto”)...

O problema continua: recentemente, uma estudante universitária santista declarou a um jornal que não sabia como traduzir a palavra “shopping”. E estava em um conhecido centro de compras que costuma freqüentar. Talvez tivesse razão: nem os norte-americanos usam essa palavra, tão difundida no Brasil, pois para eles um “shopping center” é na verdade um “mall”. Como o canadense Edmonton West Mall e o estadunidense Mall of America, que Real Perspectiva mostrou na edição anterior.

Raciocine, então: se um universitário – pertencente a uma elite cultural privilegiada por ter se destacado em relação à média da população que só possui, quando muito, o primeiro grau – não sabe o que é um shopping/mall, vai entender o que significam outros termos estrangeiros usados na denominação e na descrição de um prédio? 

Não é por acaso que muito brasileiro quebra a cara na primeira viagem aos Estados Unidos, quando encontra na maçaneta da porta a inscrição “Push”. E puxa.