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Edição 088 - AGO/2000 

Arquitetura

Feng Shui, arquitetura com harmonia

Falta porém harmonizar as opiniões dos diferentes mestres

Carlos Pimentel Mendes

"Vento e água” é o significado literal da técnica milenar chinesa de harmonização ambiental Feng Shui (os chineses pronunciam como fong suei), que nos últimos anos vem ganhando cada vez mais adeptos entre arquitetos e decoradores. Nada de transformar o apartamento num templo oriental, o objetivo é usar elementos simples para criar uma atmosfera de harmonia, melhorando a qualidade de vida do habitante desse imóvel. 
 
 

No Japão, a cidade de Kioto, que já foi capital do país, foi escolhida com base nos princípios dessa ciência para ser o local concentrador dos templos de orações e peregrinações japonesas

Em alguns casos, é uma simples questão de equilíbrio e senso comum, como orientar portas e janelas da construção de forma a obter maior iluminação solar, ou distribuir as cores do ambiente de forma harmônica e combinando com o uso de cada dependência da casa. Em outras situações, o Feng Shui está bem próximo de uma religião, com normas e práticas para melhorar os fluxos energéticos e permitir que a energia vital (chi) flua sem obstáculos, predispondo o local para a vinda das energias positivas.

Na verdade, existem argumentos lógicos para normas às vezes tão próximas das superstições: usar sempre a porta social melhora a auto-estima das pessoas, pois se mantiverem o hábito de usar a porta de serviço estarão praticamente se igualando ao lixo que deixa a casa por essa passagem. Os vazamentos de água, para o Feng Shui, devem ser evitados, pois levam consigo a riqueza e a prosperidade. Quem duvida que a água seja o símbolo do dinheiro, é porque nunca pagou a conta do fornecimento desse “precioso líquido” no fim do mês...

Objetos fora de uso devem ser removidos do local, pois entravam o fluxo da energia vital. Em palavras leigas, estorvam o caminho, atrapalhando a atividade das pessoas. Elementos vivos como plantas e animais, ao contrário, melhoram o astral do ambiente.

Ciência – Segundo seus praticantes, o Feng Shui é uma ciência que trata do equilíbrio energético dos ambientes em que o ser humano passa a maior parte do tempo (geralmente sua casa e seu local de trabalho). Na forma tradicional, é um conjunto de conhecimentos elaborado a partir da observação da Natureza, não estando ligado a qualquer religião. Baseia-se no I Ching, na Astrologia Chinesa e nos conceitos filosóficos taoístas sobre a estrutura e organização da Natureza e do Universo (Chi, Yin/Yang e a Teoria das Cinco Transformações da Energia). Alguns o definem como a Acupuntura da casa, não sem razão, pois na China antiga havia uma profunda ligação entre a cura das pessoas e de seu habitat – geralmente feita pelo mesmo profissional.

Dentro do objetivo de harmonizar a energia da residência ou do local de trabalho com as energias dos seus ocupantes e do Universo, a consulta de Feng Shui leva em conta as características físicas do local e da construção, seu formato, insolação, ventos, geografia, vizinhança; e seu interior, cores, distribuição, objetos de decoração. A relação do imóvel com as energias universais é determinada com base na sua orientação e data de construção. Esses elementos são comparados com os dados pessoais, obtidos através da data e hora de nascimento, e com os comentários feitos durante a entrevista, sejam eles os aspectos físicos, emocionais e financeiros - negativos ou positivos - observados pelos usuários do local. 

Exemplos – Segundo Maria Elena Passanesi (chilena de Viña Del Mar que também usa o nome oriental Sati), presidente da Sociedade Brasileira e Latino-Americana de Feng-Shui, toda a projeção urbanística atual da cidade de Cingapura foi baseada em princípios de Feng Shui.

No Japão, a cidade de Kioto (que já foi capital do país) foi escolhida com base nos princípios dessa ciência para ser o local concentrador dos templos de orações e peregrinações japoneses. Em Tóquio, o Jardim do Imperador e outros monumentos seguem esses princípios, bem como grande parte dos centros empresariais e financeiros. Parte do centro comercial subterrâneo de Kobe também respeita esses princípios.

Outro exemplo por ela pesquisado é Hong-Kong, “centro cultural de Feng Shui, onde os empreendimentos imobiliários têm como componente de preço as suas características de Feng Shui.” Ela também realizou pesquisas sobre o lado místico e religioso do Feng Shui em Taiwan (Formosa), especialmente no Memorial a Chan-Kai-Shek, uma das maiores referências à aplicação dessa técnica, e esteve na Malásia, onde pesquisou um templo dentro da montanha que representa um dos quatro animais sagrados do Feng Shui, o Dragão.

Veja também: Feng Shui no espelho