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História
do porto
de Santos
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CDS cresce com o porto
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"A
história da Companhia Docas de Santos, responsável pela construção,
organização e administração do porto de Santos,
está intimamente ligada à história do desenvolvimento
nacional. A empresa nasceu do pioneirismo de gente que, no final do século
passado, acreditava no futuro do país, e aplicou técnicas
e recursos nacionais, contribuindo com vultosos investimentos para a instituição
de um dos mais importantes serviços públicos do país.
O porto
era reclamado pelo comércio paulista – São Paulo surgia como
o pólo de riqueza do novo país, independente em 1822 e tornado
República em 1889 -, que sofria prejuízos econômicos
consideráveis com a perda das mercadorias nas ruas santistas. Com
o problema da febre amarela, marcando Santos como lugar maldito nos portos
de todo mundo, avolumavam-se as queixas dos transportadores marítimos.
Santos era
então um lugarejo de 20 mil habitantes – a capital paulista não
contava com mais de 150 mil habitantes -, com vida tumultuada em função
do embarque e desembarque de mercadorias em trapiches.
O registro
da Gazeta de Notícias de 30 de maio de 1896 mostra o clima
com relação ao porto: “É bem conhecida a história
do porto de Santos, que desde 1856 até 1888 procurou o Governo melhorar,
tudo envidando para isso já por meio de diversas concorrências
e estudos a que mandou proceder, já fazendo concessões a
particulares e à então Província de São Paulo
por decretos em que foram consignadas vantagens que bem remunerassem os
capitais empregados em tão útil quanto inadiável melhoramento.
Infelizmente, todas estas concessões caducaram, e o porto de Santos
foi piorando até tornar-se o espantalho da navegação
de longo curso pelas suas péssimas condições higiênicas
e o fato de pagar-se quase o dobro do frete exigido para o Rio de Janeiro
aos navios destinados àquele porto”.
O trabalho
para a construção dependeria do saneamento do estuário
de Santos. Estudos realizados pelo engenheiro inglês Minor Roberts,
com alterações introduzidas pelo engenheiro Domingos Sérgio
de Sabóia e Silva, foram a base para a concorrência e serviram
como ponto de apoio à realização das obras que a concessionária
iniciou em 1888.
O primeiro
trecho de cais, com 260 metros, foi entregue ao tráfego em 2 de
fevereiro de 1892, com a atracação do navio inglês
Nasmyth.
Devido à sua vital importância para o surto econômico
do estado, as obras prosseguiram dentro dos prazos estabelecidos, sob a
orientação técnica do engenheiro Weinschenk. No ano
seguinte, foi aberto o restante do cais contratado, perfazendo 846 metros,
e nesse mesmo ano, a 27 de julho, a São Paulo Railway ligou seus
trilhos aos da CDS.
Ainda em 1893,
a Associação Comercial de Santos assim comentou o trabalho
desenvolvido: “Pelo relevante serviço que já está
prestando o trecho em tráfego (260 metros), podemos ajuizar as vantagens,
as facilidades e os lucros que nosso comércio auferirá, quando
todo ele estiver construído, e quando tal se der, poderemos nos
orgulhar de possuir o melhor porto da América do Sul e um dos mais
notáveis, senão igual, aos mais afamados do mundo. Também
poucas vezes tem-se visto, entre nós, executar-se com tanta perfeição
e propriedade uma obra de tão elevado valor; é esta a opinião
dos competentes”.
Abertura
do capital – Consolidada poucos anos depois,
e já inexistindo dúvidas sobre o sucesso do empreendimento,
a Companhia Docas de Santos abriu seu capital, até então
constituído exclusivamente pelas quantias aplicadas pelos sócios
fundadores. Por subscrição em dinheiro, o capital social
foi em 1897 elevado para mais de 68 mil contos de réis. Confrontando-se
dados da CDS com os do então Ministério da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas, pode-se avaliar a magnitude dos valores envolvidos
nos anos considerados: a imobilização do capital da empresa,
que em 1888 era de 3.851:505$570, passou em 1892 para 19.067:131$043 e
em 1897 para 68.233:363$875. Nos mesmos anos, o orçamento federal,
a dotação orçamentária e a taxa do dólar
eram, respectivamente: 1888 – 141.230:104$834, dotação de
35.177:042$344, dólar a 2$270; 1892 – 205.948:264$128, dotação
de 67.172:576$355, taxa de 3$700; 1897 – 313.169:790$036, dotação
de 72.205:864$166, taxa do dólar a 8$176.
Ano |
Capital
da CDS |
Orçamento
federal |
Dotação
orçamentária |
Dólar/EUA |
1888 |
3.851:505$570 |
141.230:104$834
|
35.177:042$344 |
2$270 |
1892 |
19.067:131$043 |
205.948:264$128
|
67.172:576$355
|
3$700 |
1897 |
68.233:363$875 |
313.169:790$036
|
72.205:864$166
|
8$176
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Ao mesmo
tempo em que a empresa se capitalizava, com aumentos sucessivos do capital
social, as obras de ampliação do porto prosseguiam. Paralelamente,
e até como conseqüência, foi melhorando a situação
sanitária de Santos.
Isso foi
atestado pelo próprio órgão do Partido Republicano
Paulista, o Correio Paulistano, na edição de 4 de
janeiro de 1911: “Dois elementos com especialidade têm concorrido,
e poderosamente para isso, as Docas e as obras de saneamento, por meio
de drenagem. Não há muito tempo, o nosso principal porto
ainda se nos apresentava em condições bem precárias...
Santos era um foco de febre amarela e de bexigas, que todos temiam. Só
residiam lá as pessoas a isso obrigadas pelos seus próprios
interesses”.
Pouco antes,
na edição de 26 de dezembro de 1909, o Times de Londres
analisava o empreendimento portuário: “Em 1892, duzentos metros
de cais, construídos por uma firma local e com capitais próprios,
foram entregues ao tráfego. Dois anos depois, mais mil metros estavam
concluídos para o serviço do porto. Hoje, há uma muralha
de cais que se estende desde a estação da São Paulo
Railway, até os Outeirinhos, numa extensão de 4.800 metros,
com espaço amplo para os grandes transatlânticos que partem
da Europa com destino à América do Sul. O belo cais de granito
está aparelhado com os últimos e melhores guindastes hidráulicos.
O navio, trazendo ou levando 12.000 toneladas de carga, pode ser despachado
em dez dias. A cidade de Santos, que em 1892 não passava de vestígio
malsão dos tempos coloniais, transformou-se com as obras do cais
em conhecido porto de saúde, com belas ruas e avenidas, bonitos
edifícios e trens elétricos”.
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