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História
do porto
de Santos
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Dez fases históricas
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Para
análise histórica, a evolução do porto santista
pode ser dividida em pelo menos dez fases, de sua inauguração
até hoje:
[01]
[02] [03] [04]
[05] [06] [07]
[08] [09] [10]
[Adendo]
[01]
– A construção – O período
1891/1909 marca a realização das primeiras obras. Os primeiros
100 metros de cais foram concluídos ainda em 1891, mas o tráfego
foi inaugurado apenas em fevereiro de 1892, ano em que o movimento geral
alcançou 124.739 toneladas. E as obras continuaram, destacando-se
cada vez mais o empreendimento, que em 1909, com o crescimento da produção
cafeeira (a principal responsável pelo movimento do porto), já
contava com 4.720 metros de cais e registrava a saída de 13.130.933
sacas, a maior exportação de café da história
do porto.
Demonstrando
a firmeza da economia do Planalto Paulista no início do século,
o porto – que movimentara mais de 500 mil toneladas de carga cinco anos
após a inauguração do primeiro trecho – já
em 1901 ultrapassava um milhão de toneladas, para chegar em 1913
a mais de dois milhões, demonstrando um desenvolvimento contínuo
até as vésperas da Primeira Guerra Mundial.
Em 1909,
o café sozinho foi responsável ainda com 787.856 toneladas,
por 95,8% do movimento do porto santista, proporção que predominou
por mais uma década ainda.
O próprio
movimento de importação é reflexo das cambiais fornecidas
pelo café exportado, e em 1909 a exportação global
pelo porto correspondia a 53,5% do movimento geral.
Nos pouco
mais de 4,5 km de amurada de acostamento, com os respectivos pátios
de movimentação de cargas havia já 26 armazéns
internos, um armazém frigorífico, 23 pátios cobertos
com um total de 64.500 metros quadrados de capacidade; 15 armazéns
externos com 122.000 metros quadrados de capacidade; dois tanques para
óleo combustível com a capacidade de 17.500 metros cúbicos
e 38.300 metros de linhas férreas e desvios.
[02]
– Primeira Guerra Mundial –Na segunda fase
considerada, entre 1910 e 1928, a extensão do cais não se
alterou. Foi uma época de depressão econômica, causada
pela guerra de 1914/19. Foi destruído o equilíbrio entre
importações e exportações: a relação
importação/exportação, às vésperas
da guerra, demonstrava um volume de descargas 2,33 vezes superior ao das
saídas.
Foi também
um período de queda no coeficiente de utilização do
cais, principalmente como reflexo imediato da primeira grande expansão
do cais: passou de uma média de 464 toneladas/metro/ano em 1913
para 337 em 1920. Contribuíram para esses índices a guerra,
particularmente nos seus dois últimos anos, e a grande geada que
prejudicou a colheita do café em 1918.
A década
de 20 foi caracterizada entretanto por uma euforia econômica em função
dos altos preços do café, motivando reservas de cambiais
para produtos importados e acarretando o sensível aumento do tráfego
importador. Com 200 mil metros quadrados de armazéns e pátios
de estocagem, mais que o dobro da estrutura existente em 1910, o porto
contava então com ampla hinterlândia, que, além do
interior do Planalto Paulista, penetrava pelo Sul de Minas Gerais, Triângulo
Mineiro, Sul de Goiás e do Mato Grosso e Norte Velho do Paraná.
Em 1928, o movimento de cargas foi de 3.183.809 toneladas.
[03]
– Ilha de Barnabé – O período
1929/1930 marca a construção da área para produtos
inflamáveis na Ilha de Barnabé, aumentando a extensão
do cais para 5.021 metros e livrando Santos dos perigos decorrentes da
movimentação de inflamáveis e explosivos.
Na ilha, que
já sediou uma fazenda de Brás Cubas (como Ilha Pequena),
já pertenceu aos jesuítas (quando se chamou Ilha dos Padres),
ao comendador santista Barnabé Francisco Vaz Carvalhaes e à
Câmara Municipal de Santos, foram então instalados grandes
depósitos de combustíveis pela Cia. Docas. Iniciando uma
nova fase na história da movimentação do porto de
Santos, que nos anos 60 atingiu o apogeu, chegando a dois terços
da tonelagem do movimento geral.
[04]
– “Primeira Classe” – Entre 1931 e 1944, não
ocorreram novas expansões na extensão do porto, que com a
crise econômica mundial de 1929 teve seu movimento reduzido para
1.803.855 toneladas (em 1932). Seis anos depois, entretanto, foi elevado
a Porto de Primeira Classe, por atingir um movimento geral superior a quatro
milhões de toneladas (4.084.941 t em 1938).
A crise
cafeeira, numa época de superprodução e baixos preços,
reduziu a entrada de divisas e consequentemente também a importação.
Ao mesmo tempo, ocorreu um movimento pela diversificação
da economia de exportação, e assim o café, em poucos
anos, teve sua participação nas exportações
reduzida de mais de 90% para cerca de 33,9% no final da década de
30. Todavia, os produtos de petróleo a granel tiveram movimentação
crescente, estimulados inclusive pela existência das instalações
da ilha de Barnabé.
O período
foi marcado por grandes crises na movimentação, também
ocasionadas pelas crises político-militares registradas em todo
o país durante a década de 1930 e pela Segunda Guerra Mundial
a partir de 1939.
A curva
de movimentação geral de mercadorias do porto reflete bem
os períodos específicos destas crises. Assim, a pequena movimentação
em 1932 é também reflexo do bloqueio militar por mais de
três meses a que o porto foi submetido durante a Revolução
Constitucionalista de São Paulo. Também o mesmo ocorreu em
1942/43, no apogeu da Segunda Grande Guerra, quando o movimento caiu para
quase a metade do que fora em 1938 e 1939 (em 1942, 2.808.086 toneladas,
e 2.856.547 t no ano seguinte), em função da guerra submarina
desenvolvida pelos países do Eixo.
Em 1944,
quando a movimentação de mercadorias voltou a superar a marca
de quatro milhões de toneladas, o coeficiente de utilização
do cais elevou-se das 337 t/m/ano em 1920 para 1816 t/m/ano em 1944 (em
1939, esse coeficiente foi de 855 t/m/ano, aliás).
[05]
– Pós-guerra – Em 1945, o porto santista
já contava com uma estrutura – toda construída ou adquirida
com recursos próprios da CDS – que compreendia: 5.213,91 m de cais
de atracação; 61.589 m² de armazéns para importações
e 233.636 m² de armazéns para exportações; 27.055
m² de pátios para serviços gerais; 25.000 m² de
armazéns para inflamáveis; 7.896 m³ de câmaras
frigoríficas; 201.682 m³ de tanques para combustíveis
líquidos; silos para 30.000 toneladas de trigo a granel; 1.900 metros
de esteiras transportadoras; 128 guindastes; seis empilhadeiras e seis
embarcadores com capacidade para 2.000 sacas por hora.
Dados do
ano seguinte acrescentavam que o porto possuía: rebocadores, ferry-boats,
dragas, lanchas, locomotivas, tratores, vagões, oleodutos e veículos
diversos para as operações de carga e descarga na faixa do
cais.
Os números
enfatizavam a tônica de investir com recursos próprios que
marcou os cerca de 60 anos iniciais da CDS. Mas, o crescimento da inflação,
logo depois da guerra, tornou praticamente impossível a captação
de novos capitais privados para investimentos sujeitos ao teto de renda
contratual de 10% ao ano. A moeda desvalorizava-se de acordo com índices
superiores ao rendimento legal permitido para o investimento portuário.
Assim, os investimentos privados diminuíram sensivelmente neste
e em outros setores, dificultando a expansão do porto.
Como continuava
havendo necessidade de tais investimentos, o governo federal instituiu,
em 1945, receita especial transformada em 1958 na Taxa de Melhoramento
dos Portos (TMP), ao mesmo tempo que também criou o Fundo Portuário
Nacional. Mesmo mantendo-se elevada a participação dos recursos
próprios da CDS nos investimentos, os recursos extras permitiram
a ocorrência de importantes transformações: o porto
foi reaparelhado, o cais ampliado para 6.259 metros e o tráfego
incrementado.
A exportação
de café, em declínio desde o início da Segunda Guerra
Mundial, registrou o embarque de 12.799.957 sacas em 1946, recorde apenas
inferior ao de 1909. Em 1954, o movimento geral do porto foi de 8.367.262
toneladas, o dobro do registrado dez anos antes.
[06]
- Combustíveis – A fase seguinte, de
1955 a 1968, é marcada pelo incremento na movimentação
de derivados de petróleo, em função do surgimento
das refinarias Presidente Bernardes (Cubatão) e União (Capuava).
Os granéis líquidos acabaram dominando o tráfego do
porto santista, tendo o petróleo e seus subprodutos causado um incremento
de 98% na tonelagem movimentada em Santos.
Se os granéis
líquidos tinham em 1950 uma participação de pouco
mais de 24% no movimento geral, em 1957 esta já era de 47,73% e,
em 1963, de 60,66%. Ao mesmo tempo, a diversificação de cargas
aumentou com o incremento da industrialização do país
e particularmente de São Paulo.
Além
disso, foi construída densa rede de rodovias asfaltadas na hinterlândia
(zona de influência econômica) do porto santista, destacando-se
ainda o aumento de tráfego de veículos automotores e particularmente
a instalação, a partir de 1957, da indústria automobilística
no planalto paulistano. A própria industrialização
obrigou a um natural aumento das aquisições no exterior dos
implementos para a instalação de novas indústrias
(refinarias e petroquímicas, hidrelétricas, siderúrgicas,
automobilísticas etc.).
Ao lado
desta aparelhagem componente da carga geral importada pelo parque fabril
paulistano, haveria também um acréscimo nas importações
de granéis sólidos em função da própria
indústria, do aumento da população, do seu nível
de vida e do desenvolvimento das técnicas agrícolas.
Curiosamente,
nesta fase começou uma deformação importante da matriz
de transportes do país, com influência direta no porto: a
construção de rodovias provocou o declínio da navegação
de cabotagem de carga geral, e assim os produtos industriais paulistanos
destinados a outras áreas do país, em produção
crescente, registraram no entanto declínio na movimentação
por Santos.
Refletindo
entretanto a industrialização paulista, a aparelhagem mecânica
móvel introduzida em larga escala nessa fase incrementou enormemente
o seu tráfego, elevando seu coeficiente de utilização
do cais a mais de mil t/m/ano. Em 1940, a aparelhagem mecânica ainda
era relativamente modesta no cais santista, mas, vinte anos depois, tinha
crescido sensivelmente.
Num cais
que em 1968 atingiu 7.034 metros, o número de vagões – que
não ultrapassava 180 nos anos 40, atingiu mais de 400; os veículos
automóveis passaram de 60 para mais de 300; o material flutuante
e de dragagem passou de pouco mais de 40 unidades para 110. A capacidade
de movimentação de carga pelos guindastes elétricos,
desde que os hidráulicos desapareceram a partir de 1960, passou
de 0,45 mil t em 1940 para 1,0 mil t em 1960; quanto às empilhadeiras
automóveis, inexistentes em 1940, atingem 270 unidades em 1960.
Quanto aos
armazéns, verifica-se a tendência para construções
em grande área e em menor número de unidades; outra evolução
importante é na construção de tanques: passou de apenas
24 depósitos, com capacidade para cerca de 120 mil m³, em meados
da década de 1940, para 91 tanques, com capacidade para mais de
400 mil m³, em meados da década de 60.
[07]
– Novo cais – A sétima fase, de 1969
a 1976, começa com a criação da Comissão Orientadora
de Serviços Portuários de Santos (Coseps), em 1969. Um dos
primeiros problemas enfrentados pelo novo órgão foi o do
congestionamento do porto (que já vinha ocorrendo desde o início
da década de 60, ora devido a problemas trabalhistas com os operários
do porto, ora pelo próprio movimento excessivo de navios).
Além
de reduzir o custo operacional – aumentando a produtividade e fixando condições
de eliminar as sobretaxas -, a Coseps construiu uma faixa de cais maior
do que a feita em todos os 60 anos anteriores, novos armazéns e
pátios para volumes pesados, desenvolvendo ainda programas de dragagem
e reaparelhamento. O comparativo de 2.314 metros de cais construídos
nos 60 anos anteriores, com os 3.812 m de cais construídos a partir
de 1969, é bastante expressivo.
O conjunto
dessas medidas, combinadas com a execução do Programa dos
Corredores de Exportação e as providências de emergência
tomadas para a movimentação de contêineres e cargas
unitizadas (que então já atingiam movimentos superiores a
2.000 unidades/mês) trouxe ao porto condições excepcionais
para um melhor atendimento das importações e exportações
do país.
No período
de 1972/77, São Paulo registrou forte predominância na exportação
de produtos industrializados, pelo longo curso, com quase 50% em valor
e 30% em quantidade, em relação ao total nacional do período.
No setor de manufaturados, essa participação chegou a 60%
em valor e 40,5% em quantidade.
Observe-se
que até 1968 praticamente a totalidade das exportações
era via porto de Santos. No decurso dos anos 70, diminuiu sua participação
no total das exportações paulistas, atingindo cerca de 87,2%
em 1976, mas isso em razão do aumento da participação
das exportações aéreas, que nesses período
passou de 1,3% para 7,5% em relação ao total exportado pelo
estado de São Paulo. Isto ocorreu pela expansão em certos
tipos de carga de pequeno volume e alto valor específico (como jóias),
ou de alta perecibilidade (flores), que não se coadunavam com o
transporte marítimo.
Nas importações,
até o período 1964/68 o porto de Santos respondia pela quase
totalidade das compras paulistas, tendo diminuído sua participação
exclusivamente pela entrada em funcionamento do porto estadual de São
Sebastião, que praticamente monopolizou as importações
de petróleo do estado com destino à refinaria de Cubatão,
a partir de 1974. As importações por via aérea no
estado de São Paulo cresceram bastante de 1964 a 1973, quando participaram
com 12,8%, caindo um pouco nos anos seguintes.
A participação
de São Paulo nas importações do país, que correspondia
a 51,1% no período de 1964/68, elevou-se, após algum declínio,
a 56,1% em 1974 e 54,7% em 1975. Mas Santos não acompanhou esse
crescimento, decrescendo de 48,2% (1964) para 33,4% (1975) do total das
importações brasileiras.
[08]
– Fim da concessão – A fase 1977/80,
de rápido aumento na quantidade de cargas movimentadas, foi marcada
principalmente pela transição no controle do porto. Em 1977,
começava a construção do Terminal de Contêineres
da Margem Esquerda do Porto (Tecon), por meio da Empresa de Portos do Brasil
S.A. (Portobrás), entregue em 1981. Enquanto isso, nos demais setores,
houve queda nos investimentos, na fase em que estava sendo constituída
a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), para assumir,
a 7 de novembro de 1980, o controle da administração do porto,
em substituição à CDS, que passou a se dedicar a seus
negócios em outros setores da economia, com o fim da concessão
imperial.
A própria
filosofia administrativa sofreu alterações, devido a pressões
tanto da comunidade marítima nacional como das autoridades do setor
econômico internacional, introduzindo-se de forma considerada ainda
rudimentar alguns conceitos do sistema port authority – a criação
do Conselho Especial de Usuários e do Conselho de Administração
do Porto.
Ao encerrar
sua participação na história do porto, a CDS registrava
um total de aproximadamente 379,5 milhões de t de carga movimentada
em toda a sua história, e um complexo portuário com 11.837
metros de cais, 32 armazéns externos e 21 internos, 23 pátios
internos cobertos e vários pátios externos, várias
instalações especializadas, usina de força própria
(a de Itatinga, única ainda em funcionamento no mundo pertencente
a um complexo portuário), ferrovia interna, embarcações
diversas, complexo sistema de telecomunicações, de processamento
de dados e de microfilmagem. Além disso, uma força de trabalho
de 13.357 funcionários, fora os trabalhadores indiretamente vinculados
à atividade portuária.
A sucessora
de Gaffrée, Guinle & Cia. já era então uma holding
classificada em 53º lugar na escala de importância dos grupos
econômicos brasileiros, participando do capital acionário
de empresas diversas (coligadas e controladas), como imobiliária,
agropecuária, informática e telecomunicações,
bancos etc.
[09]
- Contêineres – O dia 30 de agosto de
1981 marca de certa forma o início de uma nova época na história
do porto, pois a movimentação de contêineres, sensivelmente
em crescimento na década de 70, passou a se elevar cada vez mais
nos anos 80, a partir da inauguração naquela data do terminal
de contêineres do porto. Os efeitos da conteinerização
progressiva das cargas transformaram a paisagem da região, com o
surgimento de terminais retroportuários especializados e o uso de
todos os terrenos vazios disponíveis como depósitos de contêineres.
Também
o trânsito se modificou, com o surgimento dos veículos especializados
em transporte de contêineres, e até de um viaduto especial
para a ligação das estradas às vias portuárias.
[10]
– Novas obras – Os anos 90 serão
marcados por outra radical transformação no complexo portuário
santista. Transformação física e de mentalidade. A
injeção maciça de recursos – do Adicional à
Tarifa Portuária (ATP), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), investimentos japoneses do chamado Fundo Nakasone e investimentos
próprios da Codesp – trará nos próximos cinco anos
diversas obras, como a ampliação do Terminal de Contêineres,
construção do cais Valongo-Paquetá, obras no Terminal
de Fertilizantes etc.
A mudança
de mentalidade, em busca de eficiência e redução de
custos, também já é sentida: hoje
o porto conta com cerca de 7.800 empregados, número que deve se
reduzir ainda mais; vem buscando atrair cargas, com o apoio da iniciativa
privada – como no caso dos convênios de utilização
do Corredor de Exportação para produtos cítricos e
soja, que já registram crescimentos de movimentação;
vem investindo em informatização, telemática e equipamentos,
e procurando dar mais condições de atuação
à iniciativa privada, ficando a Codesp cada vez mais no papel de
administradora do complexo na forma macro, deixando de participar diretamente
do controle das operações.
Adendo
de atualização: Foi mantido
o texto original. Em 1992, quando foi escrito, debatia-se ainda, há
mais de um ano, o esboço da Lei de Modernização dos
Portos, que só foi sancionada e entrou em vigor (como lei 8.630/93)
em 26 de fevereiro de 1993, abrindo o caminho para a privatização
dos serviços e para a mudança no sistema de trabalho vigente
nos últimos 60 anos. Mesmo essa transição não
foi pacífica, ocorrendo resistências que retardaram a aplicação
da lei por vários anos, tanto que em 1998 o sistema preconizado
pela lei 8.630 não foi completamente implantado.
A lei previa
a passagem dos serviços portuários para a iniciativa privada,
e foi assim que Santos ganhou, há cerca de dois anos, o Terminal
37, mantido pelo grupo armador Libra, com grandes investimentos em modernização
dos equipamentos. Outras áreas estão - neste ano de 1998
- passando pelos trâmites de licitação para a privatização
dos serviços (note-se que o terreno do porto pertence à União
e não pode ser alienado, como preceitua a Constituição).
A maior
parte da mão-de-obra operacional da administradora do porto, a Codesp,
já passou da condição de empregada de uma empresa
de economia mista (com 98% do capital em mãos do Governo Federal)
para a de trabalhadores avulsos, com registro no Órgão de
Gestão de Mão-de-Obra Portuária do Porto de Santos
(Ogmo/Santos), da mesma forma que os trabalhadores avulsos foram inscritos
nesse mesmo órgão. O OGMO tem uma direção colegiada
entre trabalhadores, empresários e governo e foi criado a partir
da lei 8.630 para prover o suprimento de mão-de-obra para as atividades
portuárias, seguindo diretrizes fixadas pelas negociações
entre os sindicatos patronais e trabalhistas, especialmente os acordos
coletivos de trabalho assinados entre as partes.
Quanto aos
investimentos, a crise econômica nacional levou o governo a se retrair,
nisso ajudado pela indefinição durante vários anos
quanto ao processo de privatização do porto. A ampliação
do trecho Valongo-Paquetá, com o avanço do cais até
180 metros sobre as águas do estuário, retificando a linha
dos atracadouros, acabou sendo paralisada pouco depois do início
das obras, que deveriam ficar concluídas em oito anos.
No momento,
a expectativa é quanto ao término do processo de privatização,
definindo as condições de competição entre
os detentores de terminais e consequentemente os investimentos a serem
feitos. Isso não impediu que o crescimento da conteinerização
das cargas levasse ao surgimento e à ampliação de
importantes instalações na chamada retroárea do porto
(como os terminais retroportuários alfandegados, os pátios
de movimentação e estocagem de conteineres e cargas, instalações
para reparo de conteineres e outros serviços), expandindo as atividades
relativas ao porto até mesmo a pontos mais distantes, como os bairros
da Zona Noroeste de Santos e toda a região próxima ao complexo
rodoviário Anchieta-Imigrantes. |