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História
do porto
de Santos
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Começam as obras
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"As
obras que tiverem por objeto promover a navegação dos rios,
abrir canais ou construir estradas, pontes, calçadas ou aquedutos,
poderão ser desempenhadas por empresários nacionais ou estrangeiros,
associados em companhias ou sobre si”. A lei sem número, assinada
em 29 de agosto de 1828, dando continuidade ao ato de Abertura dos Portos
de 1808, já demonstrava a preocupação da Corte, ainda
nos primeiros anos da Independência, com o problema das comunicações
terrestres e marítimas no Brasil.
Entretanto,
porque o movimento marítimo fosse ainda inexpressivo ou por que
o Tesouro não tivesse recursos para as grandes obras que um porto
exige, o fato é que até 1869 o governo não havia adotado
qualquer providência efetiva, com referência a tais obras.
Em 13 de outubro
de 1869, o decreto-lei completava
o sentido da legislação de 1828, autorizando o governo imperial
“a contratar a construção, nos diferentes portos do país,
de docas e armazéns para carga, descarga e conservação
das mercadorias de exportação e importação”,
tornando possível a construção do porto santista,
como relatou o historiador Hélio Lobo.
A lei de
1869 estabelecia, entre outros itens: aprovação dos planos
pelo governo; determinação do capital; prazo máximo
de 90 anos, findo o qual as obras e o material ficariam pertencendo ao
Estado; formação de um fundo de amortização,
a contar de dez anos da conclusão dos trabalhos; percepção
de taxas para retribuição dos serviços prestados,
devendo se reduzir quando os lucros líquidos excedessem 12% sobre
o capital da Concessão; faculdade de emissão de warrants
(títulos de depósito, que permitem ao exportador obter crédito
bancário) sobre mercadorias; resgate pelo Estado, depois do primeiro
decênio da conclusão das obras; faculdade de execução
do serviço de capatazias e armazenagem, caso o Governo encarregasse
disso a empresa contratante; minuciosa fiscalização e arrecadação
dos direitos do Estado; desapropriação das propriedades e
benfeitorias particulares necessárias às obras; vantagens
e favores de que gozavam os armazéns e entrepostos etc.
Pelo decreto
4.584, de 31 de agosto de 1870 – três anos após a inauguração,
pelo Barão de Mauá, da ligação ferroviária
de Santos com o Planalto -, era concedido à companhia, que o Conde
de Estrela e Francisco Praxedes de Andrade Pertence organizassem, a autorização
para construir docas e fazer melhoramentos no porto. Diante do insucesso
da empreitada, seguiu-se a tentativa do governo da Província de
São Paulo, por meio do decreto 8.800, de 16 de dezembro de 1882.
O prazo estabelecido no decreto para o início dos trabalhos não
foi cumprido, a concessão foi declarada sem efeito e, pelo decreto
9.637, de 27 de março de 1886, o governo imperial chamou de novo
a si a construção do cais de Santos.
Em
19 de outubro de 1886, o Ministério de Viação e Obras
Públicas publicou edital reabrindo a concorrência para as
obras, de acordo com o projeto da comissão chefiada pelo engenheiro
Milnor Roberts, com as alterações introduzidas depois pelo
engenheiro Domingos Sérgio de Sabóia e Silva.
Das seis
propostas apresentadas, venceu a de um grupo de brasileiros: Cândido
Gaffrée, Eduardo Palassin Guinle, José Pinto de Oliveira,
Alfredo Camillo Valdetaro, Benedicto Antonio da Silva e Francisco Ribeiro,
Barros & Braga.
Através
do decreto 9.979, de 12 de julho
de 1888, foi celebrado o contrato (assinado oito dias depois), pelo prazo
de 39 anos (prorrogado para 90 anos em 7 de novembro de 1890). O documento
foi assinado pela Princesa Isabel e referendado pelo ministro da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas, o paulista Antonio da Silva Prado.
Segundo
o contrato, o grupo vencedor da concorrência ficava obrigado a, no
prazo de seis meses a contar da assinatura do acordo, iniciar as obras
do porto, principalmente com a construção de um pequeno trecho
de cais e aterro, desde a Rua Brás Cubas até o extremo de
uma velha ponte da São Paulo Railway, no bairro do Valongo.
Sobre o
tema, comentava, seis dias depois da assinatura do contrato, o jornal A
Província de São Paulo (atual O Estado de São
Paulo): “Depois de longos anos gastos em firmar-se a competência
do Estado e da Província, foi afinal resolvida a questão
do cais de Santos. Agora começa o período das obras e da
fiscalização. Há quem sustente que o plano adotado
não pode ser levado a efeito com duração e solidez,
e que talvez em meio da construção seja tudo perdido, tendo-se
necessidade de voltar atrás e recomeçar a obra. Um profissional
demonstrou nesta folha que o plano aceito terá de ser alterado,
devendo custar mais cara a sua execução, ou não oferecerá
garantia e solidez”.
É
válido registrar que todos os contratantes eram brasileiros, utilizando
capitais exclusivamente privados e nacionais, bem como técnicas
e chefe dos serviços igualmente brasileiros. Usando como base técnica
o relatório de Sabóia e Silva, e sob o comando do engenheiro
Guilherme Benjamin Weinschenk, a obra foi iniciada então, utilizando-se
apenas alguns materiais e equipamentos estrangeiros, por não serem
fabricados no Brasil.
Quando Gaffrée
e Guinle planejaram a construção, organizaram (em 23 de julho
de 1888) a firma Gaffrée, Guinle & Cia., com capital inicial
de 3.851 contos de réis. Nessa época, a sociedade sofreu
alteração, com a substituição de Ribeiro, Barros
& Braga, entrando Francisco Justiniano de Castro Rabello e Hypolito
Veloso Pederneiras.
Com a necessidade
de novos investimentos, o capital social foi em 1890 elevado para cerca
de 15.000 contos de réis, e novamente a sociedade sofreu alterações
por falecimento ou retirada de alguns sócios.
Mesmo sendo
aquela uma quantia bastante elevada para a época, acabou sendo necessário
transformar (em 16 de outubro de 1892) a sociedade solidária Gaffrée,
Guinle & Cia. na Sociedade Anônima Companhia Docas de Santos,
sem solução de continuidade administrativa, e dirigida unicamente
por Gaffrée e Guinle.
Apesar da
febre amarela que grassava na região, da falta de mão-de-obra
especializada, da necessidade de importação de equipamentos,
e de ter de dragara quase cinco vezes mais do que o previsto, a empresa
entregou ao tráfego o primeiro trecho de cais, de 260 metros, em
2 de fevereiro de 1892, com a atracação do navio inglês
Nasmyth,
de Liverpool (da firma Lamport & Holt).
O fato foi
registrado no dia 4 de fevereiro de 1892 pelo jornal O Estado de São
Paulo, com esta pequena notícia: “O Sr. vice-presidente deste
Estado recebeu ontem, de Santos, dos srs. Gaffrée, Guinle e Companhia,
o seguinte telegrama: ‘Com satisfação comunicamos a Vossa
Excelência que foi entregue ao tráfego o primeiro trecho do
cais de Santos”.
No dia seguinte,
esse jornal descrevia: “O trecho do cais entregue ao tráfego tem
260 metros de comprimento e fica entre a rua nova aberta junto ao Arsenal
de Marinha e a Alfândega. Passada a quadra epidêmica, a Empresa
Melhoramentos do Porto de Santos conta que poderá entregar todos
os meses um novo pedaço para o serviço. A inspetoria da Alfândega
foi autorizada de acordo com as cláusulas 8ª e 9ª do contrato
celebrado com a empresa, a servir-se da parte do mesmo cais já concluída”.
Com essa
inauguração, Santos foi o primeiro porto a atender à
convocação imperial de 29/8/1828, e tornou-se o primeiro
porto organizado do país dentro do que também preconizou
o decreto 1.746, de 1869. |