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Originalmente publicado pelo autor em 28/1/1992 no caderno
semanal Marinha Mercante do jornal O Estado de São Paulo
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:04:02
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História
do porto
de Santos
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O melhor local

Logo após a fundação (por Martim Afonso de Souza) da cidade de São Vicente, cellula mater da nacionalidade, Brás Cubas foi procurar um ponto mais abrigado na atual costa paulista para a atracação das caravelas. E fundou Santos, do outro lado da ilha de São Vicente, vislumbrando no estuário santista, onde se fixou, o porto ideal. Estava certo: séculos depois, ali se instalou o maior porto latino-americano de carga geral.

Desde cedo, o Brasil se preocupou com a navegação, bem como com a construção de portos, para as necessidades do seu comércio, devendo-se porém à Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, do príncipe-regente D. João VI, a abertura dos portos do Brasil para o comércio exterior com as nações amigas. Na verdade, a Inglaterra – que então dominava o comércio marítimo e começava a controlar a economia mundial, num papel parecido com o que Estados Unidos da América e o Japão têm em relação à moderna economia internacional.

Publicado no final do século XVI, faz parte do códice da Biblioteca da Ajuda (Portugal).
A partir do ato de 1808, as margens das baías e angras próximas aos povoamentos que se desenvolviam passaram a receber navios que carregavam e descarregavam as mercadorias, em operações rudimentares e morosas, servindo-se de pontes de madeira, de caráter precário e sem segurança (os trapiches).

Com a abertura dos portos ordenada em 1808 por D. João VI, as relações comerciais e a navegação de cabotagem da antiga Capitania de São Vicente foram ampliadas, ocorreu o desenvolvimento dos engenhos e das plantações: o açúcar era então a base da movimentação portuária (as capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as grandes produtoras de açúcar do Brasil Colonial).

Até o início da terceira década do século XVI, os navios fundeavam no ancoradouro onde o rio Santo Amaro desemboca, no canal de Barra Grande. Foi o fundador de Santos, Brás Cubas, que percebeu os inconvenientes que nisso havia para os embarcadiços, e resolveu criar outro porto no lado oposto a Santo Amaro, comprando para isso terras na orla oriental do córrego de São Jerônimo, pertencentes a Pascoal Fernandes e Domingos Pires. Nessa área, que compreende o Outeiro de Santa Catarina, marco da fundação de Santos, foi criado por Brás Cubas o porto que serviu de núcleo à nascente povoação, aproveitando o amplo estuário entre as ilhas de São Vicente (onde se localizam as cidades de Santos e São Vicente) e de Santo Amaro (onde fica Guarujá), que oferecia boa proteção aos navios.

Santos e a economia paulista – Definir se foi o desenvolvimento econômico paulista que determinou o crescimento do porto, ou se foi a influência de um porto em local bastante favorável que provocou o progresso da economia regional, toca às raias da célebre questão sobre quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha. O fato é que o desenvolvimento do porto de Santos está intimamente ligado à expansão econômica regional, acompanhando-a desde os tempos áureos do comércio cafeeiro até o momento atual, através da importação dos insumos básicos para a indústria e da exportação dos manufaturados.

E o porto, desde o tempo em que nem poderia ser assim chamado, séculos atrás, sempre refletiu as condições econômicas da região circundante. Assim, no período colonial, ocupou por muito tempo uma posição bem secundária em comparação aos demais portos brasileiros, tanto na importação como na exportação de mercadorias, como conseqüência da pequena expressão econômica de São Paulo naquele período. Segundo dados referentes a 1796, as mercadorias exportadas por Santos para a metrópole portuguesa correspondiam a somente 0,4% do total exportado pelas colônias. Já o Rio de Janeiro participava com 27%, a Bahia com 29% e Pernambuco com 16%. Na importação, Santos detinha 0,6% do total vindo da metrópole; o Rio de Janeiro, 32%; Bahia, 27% e Pernambuco 18%.

Até então, o comércio com Santo André da Borda do Campo e com a recém-fundada São Paulo de Piratininga fazia-se partindo do estuário, navegando-se em canoas pelos braços de rio que cortam a região, subindo pela Serra do Mar em lombo de burro e enfim atravessando as matas nevoentas do planalto paulista.

Tela de Benedito Calixto, final do século XIX..
A partir de 1850, em razão da riqueza cafeeira estar controlando aos poucos as antigas áreas canavieiras do então chamado Oeste Paulista, tornou-se cada vez maior o número de barcos em demanda de Santos. Esse movimento se ampliou muito mais a partir de 1867, quando foi inaugurada a São Paulo Railway, a primeira ligação ferroviária do litoral para o planalto, passando pela capital paulista, como conseqüência direta do incremento da exportação de café: em 1854, Santos já exportava quase 80% do café brasileiro.