Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [17]
Do Capibaribe ao Amazonas
"Existe essa estação?"
Carlos Pimentel Mendes (*)
Novamente, um alô à Embratel, responsável pela rede do Serviço Móvel Marítimo. São muitas as queixas contra rádios da Embratel no Norte, e os marítimos - que consideram excelente o
atendimento em Almeirim e Santarém, criticam abertamente o serviço em Parintins ("Existe essa estação?") e Itacoatiara.
Logo após passar por Parintins, o Bianca tentou chamar, por longo período, a Parintins-Rádio em VHF. Nenhuma resposta. Já a embarcação Onze de Maio, que também tentava a Parintins-Rádio, desistiu e
chamou a escuta da agência de navegação Agemar, também em Parintins, que atendeu de pronto. Curiosidades da vida fluvial: o chamado era para solicitar a compra de uma caixa de palha-de-aço para aquela embarcação...
Às 10h45 do dia 22, o Bianca passa à distância pelo navio-transporte Ary Parreiras, atracado junto à margem do rio. Logo depois, o navio-motor Antonio Gesta (uma gaiola, que os
amazônidas orgulhosamente chamam de navio...) cruza com a embarcação da Aliança e a cumprimenta pelo rádio.
É muito comum encontrar essas embarcações regionais. Em Manaus, o capitão dos portos de Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, capitão-de-mar-e-guerra Francisco Conde Rodriguez, explicaria depois que essa capitania
controla 24 mil embarcações registradas (fora as não registradas...), sendo a maior capitania do mundo, entre as congêneres, em área de ação (30 mil quilômetros quadrados). A capitania tem duas delegacias (Tabatinga e Porto Velho) e seis agências (Guajará-Mirim,
Boca do Acre, Eirunepé, Tefé, Itacoatiara e Parintins), estando agora em fase de criação mais duas (São Gabriel da Cachoeira, no Nordeste do Amazonas, e Caracaraí, em Roraima).
Itacoatiara - Durante a noite do dia 22, ocorre a passagem por Itacoatiara (às 21 horas, horário de Manaus), reconhecida pelo trapiche (há planos para a construção de um novo porto, para navios de grande
porte, especialmente graneleiros), pelo casario antigo e pela fumaça das serrarias.
É que, dessa região para o interior, é intensa a atividade madeireira. A madeira cortada é lançada n'água e amarrada, formando grandes jangadas, usando-se troncos de madeira leve como bóias para flutuarem a
madeira pesada. As jangadas, durante semanas, são rebocadas por pequenas embarcações até as serrarias das principais cidades, aproveitando-se o período de enchente para esse reboque. É uma das muitas atividades que ficam à mercê do nível das águas...
Maior do que parece para quem a vê do rio, Itacoatiara é uma das principais cidades do Amazonas, ligada a Manaus por uma estrada de 266 quilômetros totalmente asfaltados, percorridos em cerca de quatro horas. |