Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [14] Do Capibaribe ao Amazonas
As cidades do rio
Carlos Pimentel Mendes (*)
Céu
limpo, surge de repente uma chuva forte, logo passa. Assim é o Amazonas,
que no "inverno" ou no "verão" mantém a média de 35
a 40 graus centígrados, amenizados em alguns lugares pelo vento.
Assim se passam os dias 21 e 22, em que o navio segue contra uma correnteza
de quase quatro nós, apra manter um avanço de apenas dez
milhas por hora.
Dia 21, passa por Almeirim, na foz do
rio Purus: apenas um clarão ao longe, às 2h25 da madrugada.
Às 11 horas, Monte Alegre e, às 16h50, Santarém, com
serrarias e muita fumaça, um silo vertical em destaque no centro
da cidade, e o porto administrado pela Portobrás (ou seus sucessores...),
com dois guindastes e os armazéns de carga, apropriadamente situado
junto à Enseada da Salvação (...do sistema portuário
nacional?!?). Como outras cidades importantes, Santarém situa-se
no encontro do Amazonas com algum rio: no caso, o Tapajós. O radiogoniômetro
assinala esa cidade pelas letras "STM", transmitidas em 3540 kHz.
Uma lancha-patrulha da Marinha acompanha
o navio, mantém contato pelo rádio. É constante a
presença da Armada na região: dia 21, às 8h45, o Bianca
passa pela lancha-patrulha Rondônia, e efetua o cumprimento
regulamentar, arriando a bandeira, estranhamente sem resposta. A lancha
nem tinha içado a bandeira, embora isso até se explique pela
questão do fuso horário: se estivesse orientada pelo
fuso horário de Manaus, só teria de hastear a Bandeira Nacional
quinze minutos depois, quando seriam 8 horas na capital manauara. O
Bianca preferiu alterar seu fuso horário no final da tarde,
véspera da chegada a Manaus.
Óbidos, com seu casario antigo,
é avistada a boreste na noite do dia 21, com passagem às
23h30, em velocidade mínima para não destruir os trapiches
onde atracam os gaiolas (típico barco a motor da região,
com dois conveses para transporte de passageiros, que dormem em redes).
Um desses barcos resolveu atravessar o rio justamente no momento da passagem
do navio, mostrando que segurança não é fator que
preocupe os pilotos regionais. Para agravar, de um de seus camarotes saía
forte luz vermelha, ofuscando sua luz verde de boreste, que serve para
indicar o sentido da navegação.
Depois de Óbidos, é
a foz do rio Trombetas, área de mineração de bauxita.
Por isso, um graneleiro de grande porte estava fundeado defronte a Óbidos,
aguardando o amanhecer para seguir viagem.
Dia 22, às 7h45, é a vez
de Parintins, já no Amazonas (a divisa estadual situa-se pouco antes
da cidade, na Serra de Parintins). Nesse começo de dia, muitas bicicletas
já circulam pelas ruas, alguns carros, e principalmente os gaiolas
e barcos menores. Ali, a Administração do Porto de Manaus
mantém um porto, com dois armazéns.
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