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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:47:42
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [14]
Do Capibaribe ao Amazonas

As cidades do rio

Carlos Pimentel Mendes (*)

Céu limpo, surge de repente uma chuva forte, logo passa. Assim é o Amazonas, que no "inverno" ou no "verão" mantém a média de 35 a 40 graus centígrados, amenizados em alguns lugares pelo vento. Assim se passam os dias 21 e 22, em que o navio segue contra uma correnteza de quase quatro nós, apra manter um avanço de apenas dez milhas por hora.

Santarém e suas serrarias
Dia 21, passa por Almeirim, na foz do rio Purus: apenas um clarão ao longe, às 2h25 da madrugada. Às 11 horas, Monte Alegre e, às 16h50, Santarém, com serrarias e muita fumaça, um silo vertical em destaque no centro da cidade, e o porto administrado pela Portobrás (ou seus sucessores...), com dois guindastes e os armazéns de carga, apropriadamente situado junto à Enseada da Salvação (...do sistema portuário nacional?!?). Como outras cidades importantes, Santarém situa-se no encontro do Amazonas com algum rio: no caso, o Tapajós. O radiogoniômetro assinala esa cidade pelas letras "STM", transmitidas em 3540 kHz.
Fazenda Tamoatá, na ilha do Marimarituba, entre Santarém e Óbidos
Uma lancha-patrulha da Marinha acompanha o navio, mantém contato pelo rádio. É constante a presença da Armada na região: dia 21, às 8h45, o Bianca passa pela lancha-patrulha Rondônia, e efetua o cumprimento regulamentar, arriando a bandeira, estranhamente sem resposta. A lancha nem tinha içado a bandeira, embora isso até se explique pela questão do  fuso horário: se estivesse orientada pelo fuso horário de Manaus, só teria de hastear a Bandeira Nacional quinze minutos depois, quando seriam 8 horas na capital manauara. O Bianca preferiu alterar seu fuso horário no final da tarde, véspera da chegada a Manaus.

Óbidos, com seu casario antigo, é avistada a boreste na noite do dia 21, com passagem às 23h30, em velocidade mínima para não destruir os trapiches onde atracam os gaiolas (típico barco a motor da região, com dois conveses para transporte de passageiros, que dormem em redes). Um desses barcos resolveu atravessar o rio justamente no momento da passagem do navio, mostrando que segurança não é fator que preocupe os pilotos regionais. Para agravar, de um de seus camarotes saía forte luz vermelha, ofuscando sua luz verde de boreste, que serve para indicar o sentido da navegação.

Depois de Óbidos, é a foz do rio Trombetas, área de mineração de bauxita. Por isso, um graneleiro de grande porte estava fundeado defronte a Óbidos, aguardando o amanhecer para seguir viagem.

Parintins, ao amanhecer, é a primeira cidade atingida dentro do estado do Amazonas
Dia 22, às 7h45, é a vez de Parintins, já no Amazonas (a divisa estadual situa-se pouco antes da cidade, na Serra de Parintins). Nesse começo de dia, muitas bicicletas já circulam pelas ruas, alguns carros, e principalmente os gaiolas e barcos menores. Ali, a Administração do Porto de Manaus mantém um porto, com dois armazéns.
Porto de Parintins e as embarcações típicas do Amazonas
(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 4 de setembro de 1990.