Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [12] Do Capibaribe ao Amazonas
Prático a bordo
Carlos Pimentel Mendes (*)
Sete
minutos após a capital do Amapá, é novamente atravessada
a linha do Equador,
no rumo 210 graus. Logo depois, reduz-se a rotação do motor
e o navio pára defronte a Fazendinha para esperar os práticos
que mostrarão o caminho até Manaus e voltarão com
o navio até este ponto, no retorno do Bianca a Santos.
Um camarote já está
reservado aos práticos Ricardo Campbell Rebello e Armando Menezes
Filho. Eles explicam a aparente contradição dos armadores
preferirem o acesso ao rio pela barra Norte, ao invés do antigo
caminho passando por Belém. É que, se o navio chegar à
região às 18 horas, terá de esperar 12 horas porque
a navegação noturna é perigosa nos estreitos de Breves,
próximos a Belém. Além da pequena largura do canal,
há muitos comboios de empurradores e barcaças, geralmente
sem sinalização noturna e equipamentos de radiocomunicação.
Outros estão rebocando toras de madeira, atravessando o canal, não
deixando espaço para o navio passar.
Há também o argumento
econômico: embora o caminho pela barra Norte signifique encompridar
a viagem em cerca de 50 milhas, é evitado o desperdício de
tempo com o navio parado à noite e pode-se embarcar o prático
em Fazendinha, bem mais barato
que se tivesse de embarcá-lo em Salinópolis, no litoral paraense.
Entre as bases de Belém, Manaus
e Fazendinha, são 52 práticos da Bacia Amazônica, operando
na barra Norte, na calha principal do Amazonas e nos rios Jari e Trombetas.
Já os práticos de Salinópolis pertencem a outro grupo,
que acompanha os navios até Belém.
Ricardo Rebello conta que, aos 31
anos de idade, já possui dez anos de experiência na profissão.
E comenta que um dos grandes problemas no rio é a falta de habilitação
de pilotos nos empurradores que sobem e descem os rios da região.
É comum, à noite, chamarem o cozinheiro para pilotar, dizendo
apenas para se manter a certa distância da margem do rio. Se esse
cozinheiro-piloto encontrar um navio pela frente, agirá da mesma
forma que um motorista inapto quando encontra outro veículo: não
saberá sequer para que lado desviar. Os abalroamentos são
comuns...
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