Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/porto/diario12.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:47:00
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [12]
Do Capibaribe ao Amazonas

Prático a bordo

Carlos Pimentel Mendes (*)

Sete minutos após a capital do Amapá, é novamente atravessada a linha do Prático sobe pela escada quebra-peito do navioEquador, no rumo 210 graus. Logo depois, reduz-se a rotação do motor e o navio pára defronte a Fazendinha para esperar os práticos que mostrarão o caminho até Manaus e voltarão com o navio até este ponto, no retorno do Bianca a Santos.

Um camarote já está reservado aos práticos Ricardo Campbell Rebello e Armando Menezes Filho. Eles explicam a aparente contradição dos armadores preferirem o acesso ao rio pela barra Norte, ao invés do antigo caminho passando por Belém. É que, se o navio chegar à região às 18 horas, terá de esperar 12 horas porque a navegação noturna é perigosa nos estreitos de Breves, próximos a Belém. Além da pequena largura do canal, há muitos comboios de empurradores e barcaças, geralmente sem sinalização noturna e equipamentos de radiocomunicação. Outros estão rebocando toras de madeira, atravessando o canal, não deixando espaço para o navio passar.

Comparação entre as rotas Norte e Sul de acesso ao Rio Amazonas
Há também o argumento econômico: embora o caminho pela barra Norte signifique encompridar a viagem em cerca de 50 milhas, é evitado o desperdício de tempo com o navio parado à noite e pode-se embarcar o prático em Fazendinha, bem mais Prático sobe pela escada quebra-peito do naviobarato que se tivesse de embarcá-lo em Salinópolis, no litoral paraense.

Entre as bases de Belém, Manaus e Fazendinha, são 52 práticos da Bacia Amazônica, operando na barra Norte, na calha principal do Amazonas e nos rios Jari e Trombetas. Já os práticos de Salinópolis pertencem a outro grupo, que acompanha os navios até Belém.

Ricardo Rebello conta que, aos 31 anos de idade, já possui dez anos de experiência na profissão. E comenta que um dos grandes problemas no rio é a falta de habilitação de pilotos nos empurradores que sobem e descem os rios da região. É comum, à noite, chamarem o cozinheiro para pilotar, dizendo apenas para se manter a certa distância da margem do rio. Se esse cozinheiro-piloto encontrar um navio pela frente, agirá da mesma forma que um motorista inapto quando encontra outro veículo: não saberá sequer para  que lado desviar. Os abalroamentos são comuns...

Lancha da praticagem no Amapá
(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 4 de setembro de 1990.