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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:46:46
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [11]
Do Capibaribe ao Amazonas

Quer apito

Carlos Pimentel Mendes (*)

Miragem não é fenômeno apenas dos desertos, como no cinema. Os marinheiros sabem que, no Amazonas, um navio - que pela curvatura da Terra não seria visível no horizonte - pode ser avistado numa posição irreal, à distância, devido ao efeito ótico causado pela refração entre camadas de ar com diferentes temperaturas. Mas, às 10h15, outro navio da Aliança empregado na cabotagem, o Ana Luísa, é confirmado no horizonte.

Cruzando com o navio Ana Luísa, também da armadora Aliança
Segundo o Regulamento do Tráfego Marítimo (RTM), a saudação oficial entre dois navios que se cruzam é um apito prolongado e o arriamento da bandeira nacional à meia adriça. Se isso é comum no encontro com um navio de guerra, o protocolo às vezes é esquecido entre navios mercantes. E o comandante do Bianca, Reynaldo Guedes Pereira, apostou que seu colega esqueceria o protocolo.
Cruzando com o navio Ana Luísa, também da armadora Aliança
Só às 10h40, quando não haveria mais tempo para uma correção tardia, pois os navios já se cruzavam, foi dada instrução para o apito e a movimentação da bandeira. 
Cruzando com o navio Ana Luísa, também da armadora Aliança
Nenhuma resposta foi percebida. Apenas, pelo transceptor VHF, a comunicação entre os tripulantes dos dois navios, cumprimentos, e a informação do comandante do Ana Luísa sobre os resultados das sondagens de profundidade no porto de Manaus (com a vazante, esta é a última viagem do período em que o Bianca atracará diretamente ao cais do terminal de conteineres manauara: nas próximas, terá de atracar ao cais flutuante...)
O Ana Luísa, em novembro de 1989 (foto: divulgação)
Às 14h10, Macapá a boreste. Constatada mais uma vez a "boa vontade" do operador de Macapá Rádio: como um canal de fonia VHF estava inaudível, ao invés de tentar outro canal, cortou a conversa com o navio e voltou ao canal básico de operação, o 16...
Cruzando com o navio Ana Luísa, também da armadora Aliança
(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 4 de setembro de 1990.