Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [11] Do Capibaribe ao Amazonas
Quer apito
Carlos Pimentel Mendes (*)
Miragem
não é fenômeno apenas dos desertos, como no cinema.
Os marinheiros sabem que, no Amazonas, um navio - que pela curvatura da
Terra não seria visível no horizonte - pode ser avistado
numa posição irreal, à distância, devido ao
efeito ótico causado pela refração entre camadas de
ar com diferentes temperaturas. Mas, às 10h15, outro navio da Aliança
empregado na cabotagem, o Ana Luísa, é confirmado
no horizonte.
Segundo o Regulamento do Tráfego
Marítimo (RTM), a saudação oficial entre dois navios
que se cruzam é um apito prolongado e o arriamento da bandeira nacional
à meia adriça. Se isso é comum no encontro com um
navio de guerra, o protocolo às vezes é esquecido entre navios
mercantes. E o comandante do Bianca, Reynaldo Guedes Pereira, apostou
que seu colega esqueceria o protocolo.
Só às 10h40, quando não
haveria mais tempo para uma correção tardia, pois os navios
já se cruzavam, foi dada instrução para o apito e
a movimentação da bandeira.
Nenhuma resposta foi percebida. Apenas,
pelo transceptor VHF, a comunicação entre os tripulantes
dos dois navios, cumprimentos, e a informação do comandante
do Ana Luísa sobre os resultados das sondagens de profundidade
no porto de Manaus (com a vazante, esta é a última viagem
do período em que o Bianca atracará diretamente ao
cais do terminal de conteineres manauara: nas próximas, terá
de atracar ao cais flutuante...)
Às 14h10, Macapá a boreste.
Constatada mais uma vez a "boa vontade" do operador de Macapá Rádio:
como um canal de fonia VHF estava inaudível, ao invés de
tentar outro canal, cortou a conversa com o navio e voltou ao canal básico
de operação, o 16...
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