Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [10] Do Capibaribe ao Amazonas
Entre o azul e o negro...
Carlos Pimentel Mendes (*)
Em plena
madrugada, o navio avança. A trepidação aumentou,
a velocidade diminuiu, agora o Bianca navega contra a correnteza.
De resto, no passadiço, apenas o clic-clic do piloto automático
corrigindo desvios de rumo e o blip do radar, ao completar o giro
de 360 graus para registrar obstáculos distantes até 90 milhas.
Eventualmente, o sinal do satellite navigator indicando desvios
do rumo previsto. Alguns graus acima do Equador, o navio segue no rumo
Sudoeste, deixando o mar atrás, com destino a Manaus.
O tanque de proa (que faz a diferença
de calado entre popa e proa) é enchido, pois surgem troncos de árvores
levados pelo rio, agora em época da vazante. De janeiro a julho,
o período das chuvas, é "inverno" na região amazônica,
e os rios estendem suas margens, tornam-se mais caudalosos, sobem 14 metros
ou mais (como o Rio Negro, junto a Manaus). No "verão" (entre aspas
porque não há mudança de temperatura, é sempre
quente e úmido), ocorre a vazante, e as águas arrastam consigo
árvores, capinzais, até pedaços inteiros das margens
(assim surgiu a ilha de Marajó). Para evitar que esses troncos passem
por debaixo do casco do navio, danificando-o, a proa é baixada,
assim eles passam pelos lados.
No domingo, o trabalho foi reduzido,
os marinheiros tiveram quatro sessões de cinema, em vídeocassete
(só em raras horas, apesar da antena direcional, é possível
captar programas de televisão, e a armadora Aliança, por
isso, possui um Departamento de Produções Audiovisuais que,
a cada viagem, renova o estoque de programas em vídeo dos seus navios).
Agora, no da 20, uma segunda-feira,
recomeçam as fainas de manutenção do navio: pintura
de guindastes e mastros, por exemplo. O Bianca tenta avançar
a 14 milhas por hora (14 nós), mas a correnteza contrária
determina a velocidade de apenas 13,7 nós. E pode cair mais: as
cartas náuticas indicam correntezas de dois nós ou mais,
conforme a época.
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