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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:46:10
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [9]
Do Capibaribe ao Amazonas

O rio briga com o mar

Carlos Pimentel Mendes (*)

Ainda no dia 19 (N.E.: de agosto de 1990), às 11h22, é assinalada na carta náutica a passagem pelo Cabo Gurupi. Faltando mais de 200 milhas para a foz do Amazonas, já é sentido o efeito da grande força de suas águas na luta contra o mar: o navio tem de alterar seguidamente o curso para compensar a correnteza fluvial. Isso é feito até 20h00 do dia 20, quando o Bianca chega às imediações da barca-farol (apagada...), que deveria assinalar a posição da barra Norte do Rio Amazonas.

A letra "G" do Racon (inoperante...), que deveria ser emitida por essa barca, não aparece no radar. As bóias do Meio-Norte e ainda as do banco do Madureira estão fora de posição, amassadas ou apagadas, até mesmo desaparecidas. O Aviso aos Navegantes já havia alertado sobre isso. Mas, a tripulação do Bianca descobre que também a bóia da entrada do canal está desaparecida (disso, a Marinha, que elabora o Aviso aos Navegantes, não sabia).

Embora possua um grupo destilatório com capacidade para produzir 16 a 17 toneladas diárias de água doce, o navio precisa completar os tanques nos principais portos, pois o equipamento não pode ser utilizado no rio Amazonas (água muito barrenta para ser filtrada) e nos portos (poluição).

Assim, quando o Bianca se aproxima a 80 milhas da barca-farol, conforme solicitação do chefe-de-máquinas Waldemir Silva da Rocha, o segundo oficial de náutica Roberto Pinto Canuto de Souza avisa do passadiço o segundo oficial de máquinas, Jeferson Abuá Barreto, para que desligue o equipamento, pois mesmo a essa distância da costa a quantidade de barro é excessiva e entupiria os filtros...

Já está sendo seguido o rumo 228 graus, na direção do canal Grande de Curuá. O radar assinala, 20 milhas distante, o Racon da Ponta do Guará (letra "Q"), na ilha do Juruá, e também o da ilha do Bailique ("M").

A hora é boa: as condições de maré fazem com que o mar ganhe (momentaneamente) a batalha com o rio, e a correnteza empurra o navio para dentro. De dia, seria possível ver uma esteira de água azul atrás do navio, que não se confunde com a água doce e barrenta do Amazonas...

O navio Bianca, durante atracação no porto de Santos (foto: divulgação)
(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 28 de agosto de 1990.