Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [9] Do Capibaribe ao Amazonas
O rio briga com o mar
Carlos Pimentel Mendes (*)
Ainda
no dia 19 (N.E.: de agosto de 1990), às 11h22, é assinalada
na carta náutica a passagem pelo Cabo Gurupi. Faltando mais de 200
milhas para a foz do Amazonas, já é sentido o efeito da grande
força de suas águas na luta contra o mar: o navio tem de
alterar seguidamente o curso para compensar a correnteza fluvial. Isso
é feito até 20h00 do dia 20, quando o Bianca chega
às imediações da barca-farol (apagada...), que deveria
assinalar a posição da barra Norte do Rio Amazonas.
A letra "G" do Racon (inoperante...),
que deveria ser emitida por essa barca, não aparece no radar. As
bóias do Meio-Norte e ainda as do banco do Madureira estão
fora de posição, amassadas ou apagadas, até mesmo
desaparecidas. O Aviso aos Navegantes já havia alertado sobre
isso. Mas, a tripulação do Bianca descobre que também
a bóia da entrada do canal está desaparecida (disso, a Marinha,
que elabora o Aviso aos Navegantes, não sabia).
Embora possua um grupo destilatório
com capacidade para produzir 16 a 17 toneladas diárias de água
doce, o navio precisa completar os tanques nos principais portos, pois
o equipamento não pode ser utilizado no rio Amazonas (água
muito barrenta para ser filtrada) e nos portos (poluição).
Assim, quando o Bianca se
aproxima a 80 milhas da barca-farol, conforme solicitação
do chefe-de-máquinas Waldemir Silva da Rocha, o segundo oficial
de náutica Roberto Pinto Canuto de Souza avisa do passadiço
o segundo oficial de máquinas, Jeferson Abuá Barreto, para
que desligue o equipamento, pois mesmo a essa distância da costa
a quantidade de barro é excessiva e entupiria os filtros...
Já está sendo seguido
o rumo 228 graus, na direção do canal Grande de Curuá.
O radar assinala, 20 milhas distante, o Racon da Ponta do Guará
(letra "Q"), na ilha do Juruá, e também o da ilha do Bailique
("M").
A hora é boa: as condições
de maré fazem com que o mar ganhe (momentaneamente) a batalha com
o rio, e a correnteza empurra o navio para dentro. De dia, seria possível
ver uma esteira de água azul atrás do navio, que não
se confunde com a água doce e barrenta do Amazonas...
|