Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [2] Do Capibaribe ao Amazonas
Deixando Recife
Carlos Pimentel Mendes (*)
A viagem
do Bianca com destino a Manaus começa, para os efeitos desta
matéria, no porto do Recife, embora o navio já tivesse escalado
antes em Santos e no Rio de Janeiro. Começa precisamente às
21h20 do dia 16/8/1990, quando é oficialmente encerrada a operação
de embarque de mercadorias e dispensada a cábrea Roraima,
que auxiliava os guindastes de bordo na colocação de conteineres
em locais do navio com difícil acesso.
Solicitado para estar a bordo às
21 horas, o prático Olavo Verçosa chega ao passadiço
(ponte de comando) 40 minutos depois, explicando o atraso como decorrente
da espera pelo afastamento da cábrea.
Em meio à chuva iniciada pouco
antes, três amarradores chegam sete minutos depois para soltar os
cabos que prendem o navio aos cabeçotes no cais. Um dos rebocadores,
o Marte, já se encontra junto à popa e outro, o Sabre,
chega à proa do navio, após auxiliar no reafastamento da
cábrea.
Às 22h05, cabos já passados
entre o navio e os rebocadores, começa o reboque, afastando o navio
do cais para o centro da bacia de evolução, os motores do
navio funcionando devagar, leme todo a boreste. É dada pelo telégrafo
a ordem de parar as máquinas, e o navio, antes com popa para Olinda,
começa um giro de 180 graus para deixar o porto. Nem foi preciso
o uso das referências luminosas proporcionadas pelo farol de Olinda
e pelo farolete do Picão (este, situado sobre o molhe construído
para abrigar o porto das ondas do Atlântico). Apesar da falta de
luar, a luminosidade de Recife bastava para iniciar o caminho até
alto-mar.
Isso é possível com
o escurecimento do passadiço, onde apenas as luzes internas dos
instrumentos de navegação permanecem acesas, e a sala de
navegação (onde a posição do navio é
registrada nas cartas náuticas) é isolada com cortinas. Também
as luzes externas do navio, usadas durante a movimentação
de mercadorias no cais, estão agora desligadas, e as vigias das
cabines são protegidas por cortinas destinadas a evitar que a luminosidade
das mesmas prejudique a visibilidade no passadiço. Alías,
é um cuidado que nem todos os armadores tomam... |