Clique aqui para voltar à página inicial  http://www.novomilenio.inf.br/porto/diario02.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:44:04
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [2]
Do Capibaribe ao Amazonas

Deixando Recife

Carlos Pimentel Mendes (*)

A viagem do Bianca com destino a Manaus começa, para os efeitos desta matéria, no porto do Recife, embora o navio já tivesse escalado antes em Santos e no Rio de Janeiro. Começa precisamente às 21h20 do dia 16/8/1990, quando é oficialmente encerrada a operação de embarque de mercadorias e dispensada a cábrea Roraima, que auxiliava os guindastes de bordo na colocação de conteineres em locais do navio com difícil acesso.

Porto do Recife em agosto de 1987, vendo-se ainda em primeiro plano o depósito de combustíveis, depois transferido para Suape
Solicitado para estar a bordo às 21 horas, o prático Olavo Verçosa chega ao passadiço (ponte de comando) 40 minutos depois, explicando o atraso como decorrente da espera pelo afastamento da cábrea.

Em meio à chuva iniciada pouco antes, três amarradores chegam sete minutos depois para soltar os cabos que prendem o navio aos cabeçotes no cais. Um dos rebocadores, o Marte, já se encontra junto à popa e outro, o Sabre, chega à proa do navio, após auxiliar no reafastamento da cábrea.

Porto do Recife em agosto de 1987, vendo-se no centro da lateral esquerda o farolete do Picão.
Às 22h05, cabos já passados entre o navio e os rebocadores, começa o reboque, afastando o navio do cais para o centro da bacia de evolução, os motores do navio funcionando devagar, leme todo a boreste. É dada pelo telégrafo a ordem de parar as máquinas, e o navio, antes com popa para Olinda, começa um giro de 180 graus para deixar o porto. Nem foi preciso o uso das referências luminosas proporcionadas pelo farol de Olinda e pelo farolete do Picão (este, situado sobre o molhe construído para abrigar o porto das ondas do Atlântico). Apesar da falta de luar, a luminosidade de Recife bastava para iniciar o caminho até alto-mar.

Isso é possível com o escurecimento do passadiço, onde apenas as luzes internas dos instrumentos de navegação permanecem acesas, e a sala de navegação (onde a posição do navio é registrada nas cartas náuticas) é isolada com cortinas. Também as luzes externas do navio, usadas durante a movimentação de mercadorias no cais, estão agora desligadas, e as vigias das cabines são protegidas por cortinas destinadas a evitar que a luminosidade das mesmas prejudique a visibilidade no passadiço. Alías, é um cuidado que nem todos os armadores tomam...

(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 28 de agosto de 1990.