Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [1] A aventura da cabotagem
Carlos Pimentel Mendes (*)
"Não,
Indiana Jones não está a bordo. A aventura do título
é a aventura de correr riscos calculados, agir conforme as circunstâncias
determinem, enfrentando distorções legais, concorrência
predatória, os lobistas de Brasília, a própria inércia
causada por formas tradicionais de efetuar o transporte. A aventura que
nos propomos a contar é a de uma empresa que pretende mostrar ao
empresariado que o transporte de cargas através da navegação
costeira (cabotagem) é viável neste País.
Viável aqui, da mesma forma que
na Europa, nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo. Viável,
apesar das enormes distorções do modelo brasileiro de transportes,
que apesar do alto custo do combustível ainda privilegia o transporte
rodoviário puro de ponta a ponta do País, ao invés
de promover - usando meios de que já dispõe - a integração
dos transportes, racionalizando seu uso.
No dia 15 de março, coincidindo
com o início de um novo governo, que se propõe a colocar
o Brasil entre as nações do Primeiro Mundo até o final
do século, a Empresa de Navegação Aliança promoveu
a saída do porto de Santos de seu navio Bianca, iniciando
a linha de cabotagem para Manaus. Além dele, entrou no tráfego
de cabotagem o Ana Luísa, também um navio da Classe
SD-14, de 14.000 toneladas de porte bruto (TPB) e recém-reformado,
podendo em seguida colocar outro navio semelhante, o Alessandra,
conforme a demanda.
Com isso, a empresa inverteu o caminho
tradicional dos armadores, que normalmente começam na cabotagem
e depois passam ao longo curso, "recriando a cabotagem de carga no Brasil",
conforme a definição feita na época.
Mas, cinco meses depois, embora num
tempo relativamente curto, já é possível narrar episódios
desa história, em tom de aventura. A aventura de explicar ao empresário
as vantagens do transporte marítimo, não só imediatas
como a longo prazo: de mostrar ao industrial como a carga melhor distribuída
de um conteiner, ou a mudança em certo aspecto dos procedimentos
de comercialização, pode significar redução
substancial de custos. De mostrar a trabalhadores avulsos e de capatazia,
comissárias, autoridades portuárias e governamentais, que
só terão a ganhar com a redução da burocracia
e que a economia de escala, com a movimentação de volumes
maiores de carga, permite ganhos melhores numa visão a médio-longo
prazo... |