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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/03/01 22:43:08
Diário de Bordo (Recife-Manaus no navio Bianca) [1]
A aventura da cabotagem

Carlos Pimentel Mendes (*)

"Não, Indiana Jones não está a bordo. A aventura do título é a aventura de correr riscos calculados, agir conforme as circunstâncias determinem, enfrentando distorções legais, concorrência predatória, os lobistas de Brasília, a própria inércia causada por formas tradicionais de efetuar o transporte. A aventura que nos propomos a contar é a de uma empresa que pretende mostrar ao empresariado que o transporte de cargas através da navegação costeira (cabotagem) é viável neste País.

Bandeira e logo da empresa estampados em um envelope postal de 1990, a época desta viagem
Viável aqui, da mesma forma que na Europa, nos Estados Unidos e em outras regiões do mundo. Viável, apesar das enormes distorções do modelo brasileiro de transportes, que apesar do alto custo do combustível ainda privilegia o transporte rodoviário puro de ponta a ponta do País, ao invés de promover - usando meios de que já dispõe - a integração dos transportes, racionalizando seu uso.

No dia 15 de março, coincidindo com o início de um novo governo, que se propõe a colocar o Brasil entre as nações do Primeiro Mundo até o final do século, a Empresa de Navegação Aliança promoveu a saída do porto de Santos de seu navio BiancaAnúncio com as escalas dos navios da armadora, inclusive o Bianca, em 21/8/1990iniciando a linha de cabotagem para Manaus. Além dele, entrou no tráfego de cabotagem o Ana Luísa, também um navio da Classe SD-14, de 14.000 toneladas de porte bruto (TPB) e recém-reformado, podendo em seguida colocar outro navio semelhante, o Alessandra, conforme a demanda.

Com isso, a empresa inverteu o caminho tradicional dos armadores, que normalmente começam na cabotagem e depois passam ao longo curso, "recriando a cabotagem de carga no Brasil", conforme a definição feita na época.

Mas, cinco meses depois, embora num tempo relativamente curto, já é possível narrar episódios desa história, em tom de aventura. A aventura de explicar ao empresário as vantagens do transporte marítimo, não só imediatas como a longo prazo: de mostrar ao industrial como a carga melhor distribuída de um conteiner, ou a mudança em certo aspecto dos procedimentos de comercialização, pode significar redução substancial de custos. De mostrar a trabalhadores avulsos e de capatazia, comissárias, autoridades portuárias e governamentais, que só terão a ganhar com a redução da burocracia e que a economia de escala, com a movimentação de volumes maiores de carga, permite ganhos melhores numa visão a médio-longo prazo...

(*) O editor de Novo Milênio fez esta viagem quando atuava como jornalista responsável pelo caderno semanal Marinha Mercante, publicado com o jornal O Estado de São Paulo. Esta matéria foi escrita a bordo do navio e publicada em 21 de agosto de 1990.