Após a queda, a água ainda desce vários metros,
saltando os degraus rochosos formados pela natureza...
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
Cachoeira Guariúma é um paraíso intocado
No meio da Mata Atlântica, a água cai de uma altura de quase 30 metros,
provocando um forte estrondo na floresta
Melchior de Castro Júnior
Da sucursal
A imagem é a do paraíso. No meio da Mata Atlântica intocada, a
Cachoeira Guariúma despenca de uma laje de pedra abraçada por jatobás, ipês, canelas e palmeiras. A água mergulha em queda livre por quase 30 metros
até se chocar contra blocos de pedra de formatos curiosos. O barulho forte, ritmado, parece embalar a névoa de água que se estende pela garganta até
banhar os galhos das árvores que escapam da mancha verde e avançam sobre o solo à procura de luz.
Nas últimas décadas, poucas pessoas tiveram o privilégio e o prazer de ver e sentir a Cachoeira de
Guariúma. Isso, apesar de ela estar localizada a menos de dez quilômetros da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, nos contrafortes da Serra do Mar, em
Praia Grande.
Mas isso deve mudar em pouco tempo. A Prefeitura, a Sabesp e a Secretaria do Meio-Ambiente do
Estado estão analisando uma proposta de parceria para abrir o local à visitação pública.
Os ecologistas de plantão não devem se assustar com a iniciativa. Não haverá bandos de
turistas-vândalos deixando rastros de destruição e lixo pelas trilhas. Ou congestionamentos de veículos perturbando a rica fauna com vários
espécimes de aves e outros animais ameaçados de extinção.
O passeio seria monitorado por técnicos que, além de evitar danos ao frágil ecossistema,
desenvolveriam um trabalho de conscientização ecológica junto aos visitantes, sempre seguindo o lema: "Não deixe nada além de pegadas, não tire nada
além de fotos e não mate nada além do tempo".
Manancial - Atualmente, a Cachoeira Guariúma é um dos cinco pontos de captação de água da
Sabesp que integram o Sistema Melvi. Junto à base da cachoeira há uma barragem de pequeno porte onde está localizada a adutora da Sabesp. Os outros
quatro mananciais, de acesso bem mais difícil, são Soldado, Serraria, Laranjal e Lambari.
Por ser um manancial e ainda estar dentro do Parque Estadual da Serra do Mar, o local está
protegido por lei. A cerca de dois quilômetros da barragem, onde está localizado o Posto de Cloração do Melvi, uma porteira impede o acesso sem
autorização. Apesar disso, caçadores invadem a reserva com freqüência. Não são raras as armadilhas encontradas na mata.
"A abertura à visitação seria uma forma de se estimular a preservação e também promover a educação
ambiental", disse o superintendente da Sabesp, na Baixada Santista, Francisco Silva Corrêa, que por dois anos ocupou cargo de chefe do Departamento
do Meio-Ambiente do Governo Alberto Mourão.
"Os carros teriam acesso até no máximo o Posto de Cloração. A partir dali, só a pé, na companhia
de monitores", sugeriu Corrêa. Com o aguardado sinal verde por parte da Secretaria do Meio-Ambiente, a Prefeitura investiria na melhoria do acesso e
na organização do passeio.
Segundo ele, é preciso realizar um trabalho técnico minucioso para que as visitas não sejam mais
uma ameaça à preservação do local. "As trilhas devem ser sinalizadas e identificadas as espécies de árvores existentes ao longo do caminho. Também
será preciso oferecer segurança ao visitante. Com certeza, esse seria um ótimo ponto turístico para Praia Grande. Supriria uma carência na região
por esse tipo de passeio".
...seguindo, já embaixo, por entre as pedras, num curso tortuoso
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
Região ganhará trilhas ecológicas
O prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, anunciou ontem que o
Departamento de Meio-Ambiente do Município iniciou a elaboração de um projeto para viabilizar a criação de trilhas ecológicas na região do Guariúma.
O projeto envolve a melhoria dos acessos, sinalização das trilhas e o preparo de guias para
monitorar as visitas. "Inicialmente, pretendemos realizar as caminhadas monitoradas apenas aos sábados e domingos. Uma das propostas em estudo é a
reserva de uma área, junto à entrada, para grupos de escoteiros. Os pioneiros e escotistas (escoteiros adultos) seriam os responsáveis pelos
passeios".
Mourão comentou que o turismo em Praia Grande não pode se limitar às praias e aos eventos
promovidos pela Prefeitura em parceria com a iniciativa privada. "O turismo ecológico é também o nosso caminho e o Guariúma, com sua flora, fauna e
maravilhosa queda d'água, é um dos nossos principais acervos naturais para a concretização do projeto".
O prefeito frisou que a Administração tem se preocupado com a questão ecológica. No dia 21 de
setembro será inaugurada a Escola de Educação Ambiental, no Portinho. "Junto com a Patrulha do Verde (patrulheiros que cuidam da áreas verdes da
Cidade), será uma forma decisiva de a Prefeitura ajudar na formação da consciência de cidadania, que engloba o respeito à natureza.
Trajeto reserva muitas surpresas, com animais de diversas espécies
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
Percurso de quase 10 quilômetros é uma aventura
O trajeto até a Cachoeira Guariúma é uma verdadeira aventura. Até chegar à trilha, que sobe a
Serra do Mar, é preciso vencer oito quilômetros de estrada de terra batida que vira um lamaçal quando chove e tem vários trechos inundados.
Depois, mais um quilômetro e meio de caminhada subindo até a altura da Cota 45.
O ponto de partida fica no Jardim Melvi, bairro da periferia de Praia Grande.
Após deixar a Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, o motorista ingressa na principal rua do bairro, a
Wilson de Oliveira, sempre em direção à serra.
O primeiro trecho, com cerca de dois quilômetros, está coberto com escória. Depois, o acesso é
espremido pela densa vegetação. Só permite a passagem de um carro de cada vez.
O Rio Preto é o limite para quem não tem autorização da Sabesp para ingressar no local. Sitiantes
que plantam banana e mandioca e moradores das proximidades costumam fisgar bagres e traíras nas águas escuras e ainda sem poluição, nesse trecho do
rio.
O acesso continua precário até a distância de um quilômetro e meio da cachoeira.
A partir dali, só a pé. De preferência com botas de borracha de cano longo.
A trilha segue ora por pedras, ora por trechos alagados.
O visitante cruza ainda três pontes estreitas, de madeira, fixadas sobre a tubulação da adutora
para atravessar o rio e o trecho que dá acesso à barragem.
A caminhada leva cerca de 45 minutos. Mas ninguém percebe a passagem do tempo. O cenário é
deslumbrante.
No caminho, que muitas vezes segue a fenda aberta pela força do rio, há muito o que ver: cascatas,
árvores de até 20 metros de altura debruçadas sobre o rio com galhos tomados por orquídeas e trepadeiras, pássaros e, com um pouco de sorte, até
pacas, porcos-do-mato e tatus, ou pelo menos suas pegadas.
Ao final, a recompensa: a visão da cachoeira. Caso a abertura do local à visitação seja
concretizada, o participante do passeio monitorado poderá apenas fotografar a queda d'água e nunca banhar-se em suas águas, pois o local é ponto de
captação da Sabesp.
Mergulho só será permitido rio abaixo, nas cascatas ou nos pontos onde há remansos.
Para onde quer que olhe, o visitante é sempre brindado pela grande beleza natural do lugar
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria
Parque Estadual agenda passeios para grupos
Para se conhecer as riquezas naturais da Mata Atlântica e vivenciar de perto um pouco da história
de São Paulo, o Núcleo Cubatão do Parque Estadual da Serra do Mar está promovendo passeios em três trilhas. As visitas devem ser agendadas com 15
dias de antecedência pelo telefone 361-3154 e confirmadas via fax, detalhando o percurso desejado e número de participantes (mínimo de dez e no
máximo 45).
O técnico florestal Jairo Luiz Silveira explica que a trilha do
Rio Pilões é excelente para principiantes. Tem percurso de aproximadamente dois quilômetros. Caminhando próximo às margens do Rio Pilões, o
visitante pode observar, além da fauna e flora, locais históricos, como as ruínas da Vila Itutinga. O percurso
pode ser feito em meio dia.
Já a trilha do Caminho do Mar apresenta grau de dificuldade
médio, pois sobe um bom trecho da Serra do Mar. O trajeto passa por monumentos construídos em 1922 pelo
presidente Washington Luiz para comemorar o centenário da Independência. Essa
trilha oferece uma visão panorâmica de toda a Baixada Santista e pode ser feita também em meio dia de passeio.
A terceira opção é para aqueles que desejam um verdadeiro mergulho na mata. A trilha da Usina tem
18 quilômetros de extensão (ida e volta) e passa por locais de exuberante vegetação. Segundo Jairo Silveira, a trilha acompanha o
Rio Cubatão até a Usina da Companhia Santista de Papel, construída em
1919 e hoje desativada. Na usina, o visitante encontra, no meio da mata, uma grande represa. É preciso um dia para vencer o percurso.
Mata - Nas trilhas, os visitantes descobrem muitas curiosidades escondidas na mata. "Eles
têm oportunidade de ver o palmito, que está em extinção. Conhecem a embaúba, alimento preferido do bicho-preguiça, e a guapuruvu, árvore utilizada
pelos índios para fazer canoas", disse o técnico Eduardo Lourenço da Silva. "Há também o pau d'alho, árvore que exala cheiro de alho".
Também é possível identificar pegadas de tatus, pacas, porco-do-mato e até de onças. Há ainda
muitas aves, como tucanos, urus, saíras e jacus.
O Núcleo Cubatão é responsável pela proteção de 90 mil hectares do parque. A área abrange 15
municípios da região metropolitana da Capital e a Baixada Santista: Praia Grande, Cubatão, Santos, São Vicente, São Paulo, São Bernardo do Campo,
Santo André, Mongaguá, Itanhaém, Pedro de Toledo, Bertioga, Rio Grande da Serra, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes e Ribeirão Pires. |