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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE
Em casa, um museu indígena da Amazônia

Acervo particular é o maior do gênero fora da Amazônia

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, em 4 de maio de 1995:


Trabalhos indígenas estão entre as peças mais importantes
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

Museu está fechado há 10 anos em PG

Da sucursal de Praia Grande

O Museu da Amazônia, em Praia Grande, reúne a maior coleção particular de objetos referentes às tribos primitivas do Brasil fora da Região Amazônica. São mais de 4 mil peças de artesanato (algumas com penas de animais em processo de extinção), 22 mil slides e 3.800 livros sobre a fauna, a flora e a economia da Amazônia. Apesar de sua importância, há cerca de dez anos o museu está fechado à visitação e não há previsão de sua reabertura.

A família Sterque, proprietária do museu há 32 anos, mantém a quase totalidade das peças empacotadas por falta de um local adequado para expor. Durante anos, elas ficaram expostas na própria residência da família, na Avenida Paris, 399, Canto do Forte. "Hoje não temos mais estrutura para manter o museu em casa", disse Carmen Diaz Sterque, uma das proprietárias.

Além de peças exóticas e raras, como uma borduna, um bastão feito em madeira de lei, entalhado com dente de porco do mato, e um cocar com penas de pavão do Alto Amazonas, o museu conta com uma biblioteca que chegou a ser ponto de referência para pesquisadores da região da Baixada Santista e também da Grande São Paulo.

Carmen diz que há livros sobre antigas expedições (alguns cotados em R$ 2.500,00), antropologia, arqueologia, folclore e arte amazônica. "Há livros sobre praticamente tudo referente à Amazônia". Fora isso, há uma hemeroteca, em processo de formação.

Animais - O museu tem ainda cerca de 30 animais empalhados. São oito espécies de Uirapuru, tucanos, papagaios, curicas, jaguatiricas e jacaré. "É muito triste ver todo esse acervo longe do público. A reabertura do museu daria um grande impulso ao setor cultural e turístico de Praia Grande e, por que não dizer, até da região".

Mesmo de portas fechadas, a família continua adquirindo peças em freqüentes viagens à Região Amazônica. Só para a manutenção do acervo, os gastos com produtos de conservação ultrapassam R$ 200,00 por mês.

Canadá - No final de 92, cerca de 1.200 peças - entre elas livros raros do século XVII – foram enviadas para Quebec, Canadá, para participar de uma exposição, e por pouco não retornam mais ao Brasil. Uma fundação estava disposta a pagar cerca de US$ 1 milhão por essa parte do acervo, com base em uma avaliação feita por uma equipe canadense, formada por um professor de Antropologia, um catedrático em História Indígena das Américas e um avaliador oficial.

Apesar da total falta de apoio oficial para a manutenção do acervo, a família optou pela permanência do museu, completo, em Praia Grande. "Temos o museu como um ideal. Não temos intenção de vender ou doar as peças. Buscamos apenas o apoio da iniciativa privada ou da Prefeitura para a obtenção de um espaço para expor as peças", disse Carmen.


A cada viagem a família adquire novas peças para o museu
Foto: Adalberto Marques, publicada com a matéria

Casa da Cultura mostra parte do acervo

Uma pequena mostra do que é o Museu da Amazônia pode ser conferida até segunda-feira na Casa da Cultura de Praia Grande, onde acontece a exposição A Habilidade Artesanal do Indígena Brasileiro. Ao todo são 150 peças, muitas delas curiosas, como a língua do peixe pirarucu, utilizada pelos indígenas para ralar mandioca e bastões de guaraná.

Há também instrumentos musicais, objetos de cerâmica, artefatos de penas, adereços e armas de dez tribos da Amazônia: Tirió, Yauretê, Urubukarapor, Macuxis, Kalapolos, Carajás, Xavantes, Pakaa Nova, Yanomamis e Tucanos.

Entre as armas, a diretora da Casa da Cultura, Graziela Diaz Sterque, destaca uma flecha de ponta chata, para derrubar pássaros sem matá-los. "Os índios retiram as penas para fazer cocares, tangas e braçadeiras. Depois alimentam o pássaro, devolvendo-o à mata, para não quebrar a cadeia ecológica. Por menor que seja, um pássaro come de 200 a 250 insetos por dia".

Há ainda instrumentos musicais interessantes, como um tambor da tribo Pakaa Nova, com mais de 80 anos. Mas, segundo Graziela, o que mais atrai é a flauta dos índios Carajás, feita com fibras, linhas e penas. "É desta flauta que sai o som da Reserva do Xingu, ouvido nos documentários".

Entre os adereços, há peças feitas com miçangas pela tribo Tirió, que vive próximo à fronteira com a Guiana Francesa e frascos de essência, como o patioli, pau d'angola, janapa e sândalo.

Já visitaram a mostra mais de 1.000 pessoas em duas semanas. A Casa da Cultura fica na Rua Copacabana, 530, Jardim Guilhermina. Abre de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, com entrada franca.

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