|
Domingo,
18 de março de 2001 |
|
|
|
Rebelo
e o projeto para defender a língua |
|
|
O
deputado federal espera a aprovação de seu projeto de lei,
para a preservação do Português e contra a proliferação
dos estrangeirismos
|
|
José
Paulo Lacerda/AE
Deputado
Aldo Rebelo: "Muitos países protegem seus idiomas como preservam
sua economia. Língua é poder" |
|
|
O deputado federal Aldo Rebelo
(PC do B) diz que seu projeto de lei de defesa de língua portuguesa
contra estrangeirismos se ocupa muito mais do ensino, mandando o poder
público realizar campanhas sobre o uso do português. Para
o deputado, quem aceita sem reflexão o uso de termos de outra língua
sofre de “servilismo linguístico”. Rebelo entende que a defesa do
idioma é politicamente estratégica, porque “língua
é poder”.
Por que o senhor fez um projeto
de defesa de língua portuguesa?
Basta sair às ruas, ir
ao comércio, ler jornais ou revistas para comprovar a “desnacionalização
linguística” de que fala o crítico Wilson Martins. O português
é o idioma oficial do Brasil, um bem cultural. Um dos objetivos
do nosso projeto é preservar o idioma, sem fechá-lo a contribuições,
que sempre o enriqueceram, combatendo o excesso de palavras estrangeiras
que truncam a comunicação do dia-a-dia em nosso país.
O projeto ocupa-se – e muito – do ensino e do aprendizado da língua
portuguesa e manda o poder público realizar campanhas educativas
sobre o uso da língua portuguesa, destinados a estudantes, professores
e cidadãos em geral.
Seu projeto prevê multa
para quem não respeitar o português? Empresas estrangeiras
terão de trocar seu nome?
Originalmente, foi instituída
multa para quem usar palavras estrangeiras de forma abusiva, enganosa ou
nociva ao patrimônio cultural que o português constitui no
Brasil. O projeto jamais previu a substituição ou aportuguesamento
de nomes próprios ou marcas comerciais. O Citibank vai manter seu
nome internacional, mas não vai fazer em São Paulo placas
de rua com mensagens do tipo “where money lives”.
Na França, o controle
da língua é rigoroso. Há alguns anos, foi tomada uma
iniciativa parecida com a sua para restringir o uso do inglês. O
senhor se baseou nessa idéia?
A França demonstra ao
mundo que sabe preservar a identidade nacional sem perder seu caráter
cosmopolita. O lingüista Claude Hagège costuma dizer que a
Torre de Babel foi uma bênção e não um castigo
para a humanidade, porque “as línguas são como animais e
plantas: sua diversificação é um fenômeno natural”.
Muitos países protegem seus idiomas como preservam sua economia.
Os Estados Unidos estão impondo restrições ao espanhol
em vários Estados. Cresce lá o movimento “english only” (somente
inglês).
Nas metrópoles brasileiras,
há uma enxurrada de placas e serviços em inglês. O
senhor não acha que isso cria dificuldades para muita gente, que
tem pouca familiaridade até mesmo com sua língua materna,
o português?
Alguns programas de televisão,
em que fui entrevistado, mandaram um repórter documentar exatamente
esta macaquice. O povo era levado diante de uma placa onde estavam as palavras
estrangeiras e ninguém sabia o que significava “delivery”, “jet
color”, “hair treatment”. Muita gente quebra o botão “push”, puxando,
quando na realidade “push” significa “empurre”. Os brasileiros que aceitam
e reproduzem desnecessariamente palavras estrangeiras dão uma demonstração
de servilismo lingüístico.
Por que há comerciantes
que preferem usar termos em inglês e não em português?
Esse pessoal forja e explora
um arraigado complexo de inferioridade que o colonialismo nos legou: o
que é bom vem de fora. As palavras são manipuladas pelo ilusionismo
do marketing. Você não pode dar uma volta e testar um carro.
É brega. Diminui a graça da venda. Você precisa fazer
um “test drive”.
Quem lê Eça de
Queiroz (Os Maias) fica com a impressão de que o próprio
português já era um complexado. Achava que tudo o que vinha
da França e Inglaterra era melhor.
Eça nos prestou uma homenagem
dizendo que “no Brasil fala-se português com açúcar”.
A aristocracia de muitos países, inclusive do nosso, teve o mau
gosto de falar em língua estrangeira para demonstrar elegância,
erudição e distinguir-se do povo. Mas note como a questão
do idioma é complexa. A reestruturação do mundo, a
partir da queda do Muro de Berlim, conduziu à revitalização
dos valores locais. Nações como a Geórgia, Ucrânia
e Cazaquistão restabeleceram suas línguas seculares. A Indonésia
protege seu idioma da invasão inglesa, mas quase extingue o português
no Timor. Língua é poder.
|
|
|