Vinheta
de transmissão da emissora norte-americana CNN em inglês.
O fim de uma era? Imagem: captura
de tela - noticiário da TV estadunidense CNN em inglês, 15/12/2003,
às 9h42
Depois que os Estados Unidos,
apesar do clamor mundial manifestado nos parlamentos e nas ruas em todos
os continentes, apesar da posição contrária das Nações
Unidas, apesar da falta estrondosa de provas para suas afirmações
que justificariam (a seu ver) tal agressão, resolveram invadir o
Iraque para derrubar do poder seu ex-aliado Saddam Hussein, e ainda tiveram
de se fazer de desentendidos quando Coréia do Norte e Irã
criaram situações que justificariam - por isonomia - ataques
semelhantes a esses países (que não ocorreram), não
há simplesmente besteira que possa suplantar as praticadas pelo
governo estadunidense em 2003. Que já eram a sucessão das
que praticaram em 2002, quando atacaram o Afeganistão para pegar
outro ex-amigo, Bin Laden, que continua livre e agindo, apesar de toda
a máquina de guerra dos EUA.
Nessa sucessão de besteiras
fenomenais, não faltaram exemplos de:
1)
desacato à Constituição dos EUA, na restrição
e/ou supressão de direitos fundamentais dos cidadãos norte-americanos
de ir e vir, de se reunir, de trocar idéias e de publicá-las,
até de protestar contra a guerra insana - fatos ainda mais graves
por se tratar de um país que se proclama "campeão da democracia"
e caminha para se tornar um dos regimes mais fechados do mundo, com a aprovação
de leis cada vez mais restritivas;
2)
desrespeito a cidadãos estrangeiros dentro do território
norte-americano, muitos deles presos incomunicáveis, por simples
suspeitas relacionadas à sua aparência árabe (mesmo
brasileiros foram detidos e até apedrejados nas ruas por grupos
radicais, embora nada tivessem a ver com a comunidade árabe) ou
denúncias do tipo que vigorou no período negro do Macartismo;
3)
desrespeito a outros países, com imposição de normas
de "segurança" extra-nacionais, que violam as constituições
nacionais e a Carta de Direitos das Nações Unidas, atingindo
diretamente a soberania das demais nações;
4)
destruição de patrimônios
históricos da humanidade, em meio à guerra no Iraque,
apesar da promessa solene dos generais de que tal não aconteceria;
5)
inúmeros casos de "fogo amigo", atingindo não só os
próprios soldados, como tropas aliadas e populações
civis;
6)
manutenção de um discurso que o próprio governo alemão
comparou ao que Hitler usava para invadir outros países, resultando
na Segunda Guerra Mundial - com sofismas e distorções nos
fatos para justificar ações injustificáveis. Nesse
aspecto, a maior besteira, inaceitável, foi terem os EUA inaugurado
a era das guerras preventivas, em que se define um país como alvo
para ataque e invasão, usando como desculpa que o país-vítima
poderia (no futuro) atacar o país-invasor. Dessa forma, qualquer
país pode, tal como o cordeiro da fábula frente o lobo, ser
escolhido como o alvo da vez, e o motivo do ataque é o que menos
importa...
7)
manutenção do apoio a governos com ação ditatorial
(inclusive semelhante à postura do presidente dos EUA, George W.
Bush), como o de Israel, que - imitando seus padrinhos da América
do Norte - aproveitou para massacrar a população palestina,
invadindo territórios sob controle das Nações Unidas,
colocando a população civil em campos de concentração
e sem os direitos mais fundamentais (direito à vida, por exemplo),
destruindo casas, matando e ferindo crianças de colo e mulheres
que apenas tentavam sobreviver;
8)
incapacidade de toda a máquina bélica estadunidense para
executar ações simples, como traduzir um texto do árabe
para o inglês (embora mantendo um grande sistema de captura de informações
mundo afora), ou definir o quantitativo das forças inimigas (apesar
dos satélites e aviões de espionagem tão alardeados),
de forma a evitar erros crassos de estratégia.
9)
incompetência para administrar a situação pós-guerra
no Iraque, dando chance à continuidade dos ataques e criando
conflitos com os próprios parceiros na invasão;
10)
desmascaramento de governantes, com a descoberta de que suposto relatório
sobre existência de armas químicas e biológicas no
Iraque - razão maior apontada para a declaração de
guerra - fora fabricado pelos serviços secretos britânico
e estadunidense. Com o corolário de que, "terminada" a guerra, nenhuma
arma desse tipo foi encontrada no Iraque. Como se não bastasse isso,
soube-se que os estadunidenses é que usaram armas consideradas proibidas,
como as de poder radiativo enfraquecido, que tenderão a causar seqüelas
na população iraqueana, como aumento de casos de câncer;
11) ...que
o objetivo dos EUA com a guerra nunca foi "libertar" o povo iraqueano da
tirania de Saddan Hussein (que, enquanto aliado dos EUA, não era
tratado como ditador, apesar de agir da mesma forma). Ficou evidente que
a guerra tinha apenas o objetivo econômico de controlar uma região
geopoliticamente estratégica, em termos do petróleo do subsolo
iraqueano, e evitar, tanto quanto possível,
que se alastrasse a prática da conversão de petróleo
por euros, que poderia prejudicar seriamente o poderio econômico
dos EUA. E, apesar de tudo, a adoção do padrão monetário
euro como referência no comércio internacional vai crescendo,
o que tende a colocar o padrão dólar em perigo cada vez maior,
já que a moeda estadunidense é "lastreada" por uma das maiores
dívidas externas do mundo...
É
verdade que não existem bonzinhos em toda essa história,
mas - da mesma forma que uma besteira não justifica outra - um crime
contra a Humanidade não justifica outro. Tanto quanto Saddan Hussein
deve ser julgado por seus atos como ditador, George Bush e o britânico
Tony Blair devem ser julgados pela invasão de um país e pela
mortandade causada.
Sem palavras que descrevam melhor
a enormidade das ações e omissões que permitiram a
ocorrência dessa guerra no Oriente Médio, encerramos - mal
começado - o Febeanet de 2003, pulando direto para o Festival de
2004, já que depois de tantas besteiras no atacado (para não
mencionar as incontáveis besteiras miúdas, registradas no
dia a dia de toda essa insanidade), não é possível
que reste a alguém alguma dúvida: o campeão indiscutível
do Febeanet 2003 é o governo dos EUA.
Sem xenofobia, nada contra os
habitantes dos EUA ou da Inglaterra - vítimas dos desgovernos tanto
quanto os de outros países. Nada, exceto a crítica por não
terem sabido eleger governantes mais inteligentes e principalmente mais
decentes.
As demais besteiras - a da Fiat
acima citada foi apenas mais uma - se apequenaram tanto que nem mereceram
ser citadas no decorrer do ano.
Carlos
Pimentel Mendes
Dois
carros-bomba explodem em Bagdá, junto a posto militar norte-americano.
Prova de que a guerra está longe de terminar, talvez apenas começando... Imagem: captura
de tela - noticiário da TV estadunidense CNN em inglês, 15/12/2003,
às 10h00
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