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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 12/31/03 20:25:45
FEBEANET
Festival de Besteiras que Assola a Internet 

Zangadinho: tentando rir para não explodir de raiva...Com o apoio de todos os que cometem, relatam e no final do ano ainda votam para escolher as maiores besteiras, este festival - sempre inspirado pelos saudosos Stanislaw Ponte-Preta, Chacrinha e Barão de Itararé - entrou em seu terceiro ano de crescente sucesso. Em 2003, o esquema seria o mesmo: continuaríamos esperando a colaboração de todos, cometendo e relatando as besteiras que iríamos contar... Começamos relatando a primeira, logo nos dias iniciais do ano. Mas, em seguida, aconteceu algo que suplantou todas as espectativas...

Jornal Eletrônico Novo Milênio


Eis as besteiras de 2003: 
[01] O eStilo Fiat de capturar seus clientes...

[02] BE-E-E-EMM... 
 

Vinheta de transmissão da emissora norte-americana CNN em inglês. O fim de uma era? 
Imagem: captura de tela - noticiário da TV estadunidense CNN em inglês, 15/12/2003, às 9h42

Depois que os Estados Unidos, apesar do clamor mundial manifestado nos parlamentos e nas ruas em todos os continentes, apesar da posição contrária das Nações Unidas, apesar da falta estrondosa de provas para suas afirmações que justificariam (a seu ver) tal agressão, resolveram invadir o Iraque para derrubar do poder seu ex-aliado Saddam Hussein, e ainda tiveram de se fazer de desentendidos quando Coréia do Norte e Irã criaram situações que justificariam - por isonomia - ataques semelhantes a esses países (que não ocorreram), não há simplesmente besteira que possa suplantar as praticadas pelo governo estadunidense em 2003. Que já eram a sucessão das que praticaram em 2002, quando atacaram o Afeganistão para pegar outro ex-amigo, Bin Laden, que continua livre e agindo, apesar de toda a máquina de guerra dos EUA.

Nessa sucessão de besteiras fenomenais, não faltaram exemplos de:

1) desacato à Constituição dos EUA, na restrição e/ou supressão de direitos fundamentais dos cidadãos norte-americanos de ir e vir, de se reunir, de trocar idéias e de publicá-las, até de protestar contra a guerra insana - fatos ainda mais graves por se tratar de um país que se proclama "campeão da democracia" e caminha para se tornar um dos regimes mais fechados do mundo, com a aprovação de leis cada vez mais restritivas;

2) desrespeito a cidadãos estrangeiros dentro do território norte-americano, muitos deles presos incomunicáveis, por simples suspeitas relacionadas à sua aparência árabe (mesmo brasileiros foram detidos e até apedrejados nas ruas por grupos radicais, embora nada tivessem a ver com a comunidade árabe) ou denúncias do tipo que vigorou no período negro do Macartismo;

3) desrespeito a outros países, com imposição de normas de "segurança" extra-nacionais, que violam as constituições nacionais e a Carta de Direitos das Nações Unidas, atingindo diretamente a soberania das demais nações;

4) destruição de patrimônios históricos da humanidade, em meio à guerra no Iraque, apesar da promessa solene dos generais de que tal não aconteceria;

5) inúmeros casos de "fogo amigo", atingindo não só os próprios soldados, como tropas aliadas e populações civis;

6) manutenção de um discurso que o próprio governo alemão comparou ao que Hitler usava para invadir outros países, resultando na Segunda Guerra Mundial - com sofismas e distorções nos fatos para justificar ações injustificáveis. Nesse aspecto, a maior besteira, inaceitável, foi terem os EUA inaugurado a era das guerras preventivas, em que se define um país como alvo para ataque e invasão, usando como desculpa que o país-vítima poderia (no futuro) atacar o país-invasor. Dessa forma, qualquer país pode, tal como o cordeiro da fábula frente o lobo, ser escolhido como o alvo da vez, e o motivo do ataque é o que menos importa...

7) manutenção do apoio a governos com ação ditatorial (inclusive semelhante à postura do presidente dos EUA, George W. Bush), como o de Israel, que - imitando seus padrinhos da América do Norte - aproveitou para massacrar a população palestina, invadindo territórios sob controle das Nações Unidas, colocando a população civil em campos de concentração e sem os direitos mais fundamentais (direito à vida, por exemplo), destruindo casas, matando e ferindo crianças de colo e mulheres que apenas tentavam sobreviver;

8) incapacidade de toda a máquina bélica estadunidense para executar ações simples, como traduzir um texto do árabe para o inglês (embora mantendo um grande sistema de captura de informações mundo afora), ou definir o quantitativo das forças inimigas (apesar dos satélites e aviões de espionagem tão alardeados), de forma a evitar erros crassos de estratégia.

9) incompetência para administrar a situação pós-guerra no  Iraque, dando chance à continuidade dos ataques e criando conflitos com os próprios parceiros na invasão;

10) desmascaramento de governantes, com a descoberta de que suposto relatório sobre existência de armas químicas e biológicas no Iraque - razão maior apontada para a declaração de guerra - fora fabricado pelos serviços secretos britânico e estadunidense. Com o corolário de que, "terminada" a guerra, nenhuma arma desse tipo foi encontrada no Iraque. Como se não bastasse isso, soube-se que os estadunidenses é que usaram armas consideradas proibidas, como as de poder radiativo enfraquecido, que tenderão a causar seqüelas na população iraqueana, como aumento de casos de câncer;

11) ...que o objetivo dos EUA com a guerra nunca foi "libertar" o povo iraqueano da tirania de Saddan Hussein (que, enquanto aliado dos EUA, não era tratado como ditador, apesar de agir da mesma forma). Ficou evidente que a guerra tinha apenas o objetivo econômico de controlar uma região geopoliticamente estratégica, em termos do petróleo do subsolo iraqueano, e evitar, tanto quanto possível, que se alastrasse a prática da conversão de petróleo por euros, que poderia prejudicar seriamente o poderio econômico dos EUA. E, apesar de tudo, a adoção do padrão monetário euro como referência no comércio internacional vai crescendo, o que tende a colocar o padrão dólar em perigo cada vez maior, já que a moeda estadunidense é "lastreada" por uma das maiores dívidas externas do mundo...

É verdade que não existem bonzinhos em toda essa história, mas - da mesma forma que uma besteira não justifica outra - um crime contra a Humanidade não justifica outro. Tanto quanto Saddan Hussein deve ser julgado por seus atos como ditador, George Bush e o britânico Tony Blair devem ser julgados pela invasão de um país e pela mortandade causada.

Sem palavras que descrevam melhor a enormidade das ações e omissões que permitiram a ocorrência dessa guerra no Oriente Médio, encerramos - mal começado - o Febeanet de 2003, pulando direto para o Festival de 2004, já que depois de tantas besteiras no atacado (para não mencionar as incontáveis besteiras miúdas, registradas no dia a dia de toda essa insanidade), não é possível que reste a alguém alguma dúvida: o campeão indiscutível do Febeanet 2003 é o governo dos EUA. 

Sem xenofobia, nada contra os habitantes dos EUA ou da Inglaterra - vítimas dos desgovernos tanto quanto os de outros países. Nada, exceto a crítica por não terem sabido eleger governantes mais inteligentes e principalmente mais decentes.

As demais besteiras - a da Fiat acima citada foi apenas mais uma - se apequenaram tanto que nem mereceram ser citadas no decorrer do ano. 


Carlos Pimentel Mendes

 
Dois carros-bomba explodem em Bagdá, junto a posto militar norte-americano. Prova de que a guerra está longe de terminar, talvez apenas começando...
Imagem: captura de tela - noticiário da TV estadunidense CNN em inglês, 15/12/2003, às 10h00