Sobre uma torre cilíndrica de alvenaria, pintada de branco, está montado o farol instalado
na ilha
Foto publicada com a matéria
Na Moela há farol e vida
Poucos são os turistas de Guarujá que já tiveram a
oportunidade de aportar na ilha da Moela, situada a cerca de 5 milhas da ponta do Munduba, ilha de Santo Amaro. Nessa ilha existe um farol, o da
Moela, e está sob a jurisdição da Diretoria de Hidrografia e Navegação e Capitania dos Portos do Estado de São Paulo.
A posição exata da ilha no oceano Atlântico é 24º e 3' de latitude Sul, e 46º e 16' de
longitude Oeste. Mede aproximadamente 6 mil metros quadrados e tem apenas 21 habitantes, entre adultos e crianças. Existem na ilha 8 casas de
alvenaria, das quais duas vazias. Trabalham na própria ilha 2 faroleiros, que se revezam à noite para cuidar do farol, e 4 militares encarregados
dos geradores e dos sistemas de comunicações ali instalados.
Dos habitantes, apenas um faroleiro não é casado. A idade das 10 crianças varia de 1 a
7 anos e, quando completarem os 8 anos, seus pais deixarão a ilha, porque eles têm que estudar. Todo o pessoal adulto que vive na ilha é obrigado a
conhecer um pouco de tudo: aplicar injeções, ministrar primeiros socorros etc., porque os recursos são mínimos.
Quase uma hora de viagem, em barco de velocidade média, é necessária para se chegar à
ilha. A saída é da ponte dos Práticos, em Santos. Nem sempre os barcos conseguem atracar no acanhado atracadouro da ilha, tamanha a violência das
ondas quebrando nas pedras. Ao lado do cais existe um guincho manual de onde pende uma caixa de madeira que serve para o transbordo de pessoas ou
material. É o recurso para as situações difíceis.
Farol está montado diretamente sobre a base cilíndrica
Foto de Alfredo Gastoni Tisi Neto, no livro Presença da Engenharia e Arquitetura -
Baixada Santista, Livraria Nobel/Empresa das Artes, S.Paulo/SP, janeiro/2001
O farol - Sobre uma torre cilíndrica de alvenaria, pintada de branco, está montado o
farol construído por F. Barbier & Cia. e instalado na ilha em 1830. Funcionou até 1953 por meio de "bicos incandescentes", alimentados a
querosene. Seu alcance era de 19 milhas.
De 1953 para cá, o farol sofreu reforma, passando a ser do sistema misto Barbier.
Passou a ser alimentado por energia elétrica de geradores que funcionam diuturnamente. Possui 4 lentes de foco e 4 comuns; duas são encarnadas e
duas brancas; a altitude focal é de 116 metros. O alcance agora é de 25 milhas.
O farol é rotativo, acionado por uma enorme máquina de relógio. A corda metálica, de
25 metros, garante o funcionamento por 2 horas e 45 minutos. Na extremidade do cabo há um pêndulo de 50 quilos que desce através de um poço de 10
metros de profundidade.
A emissão dos lampejos brancos e vermelhos tem a finalidade de garantir a segurança da
navegação marítima na entrada do porto, avisando os navegadores da existência de perigo nas adjacências daquela área: há recifes, e devem ser
evitados.
Na origem, Faro - Os primeiros faróis eram fogueiras. Com o passar do tempo,
foram surgindo novos sistemas e hoje há os elétricos, de gás acetileno, afora o primitivo, de gás incandescente a querosene.
Segundo os historiadores, os sinais aos navegantes existem desde que o homem lançou-se
ao mar. O mais célebre farol da antiguidade foi o da ilha de Faro, em frente a Alexandria, construído na primeira metade do III século A.C. Era uma
torre, toda de mármore branco, em cujo topo se acendia um facho quente à noite. Com altura de 65 metros, era considerado uma das sete maravilhas do
mundo e deu nome a todas as torres posteriormente construídas com o mesmo fim.
No Rio Grande o primeiro - No Brasil, o primeiro farol foi o da Barra do Rio
Grande de São Pedro do Sul, atual Rio Grande do Sul. Foi fundado em 1820, mas não chegou a ser aceso pois foi destruído por uma precipitação de
granizo. Somente em 1852 foi reconstruído e inaugurado.
O primeiro farol que realmente brilhou no nosso litoral foi o do Picão, em Recife,
inaugurado em 1821. Os faróis mais antigos do Brasil são: o da Moela (1830); o da Barra do Rio Grande do Sul (Alcântara e Santana) em 1831 e de Cabo
Frio em 1834.
Na ilha Rasa era acesa uma fogueira todas as noites, desde 1819 (o encarregado do
serviço recebia um mil réis por mês). Nesse mesmo ano tiveram início os trabalhos preliminares destinados ao levantamento de um farol, que só em
julho de 1829 seria inaugurado.
A ilha parece desabitada, mas lá vivem 21 pessoas muito amigas
Foto publicada com a matéria
Geradores e radiofarol - Logo que se chega à ilha, após desembarcar, o
visitante encontra uma pequena casa de alvenaria, onde estão instalados os três geradores que fornecem energia a toda a ilha. Está sob a
responsabilidade do sargento Manoel Craveiro Alves e do cabo José Ataíde de Almeida, que vivem lá com suas famílias.
O radiofarol da ilha transmite onda da mesma intensidade em todas as direções,
permitindo aos navios que possuam radiogoniômetro (aparelho que serve para sintonizar radiofaróis) obterem uma
marcação independente da visibilidade.
É o tipo mais comum usado para a navegação de superfície e a ele pertencem todos os
radiofaróis marítimos instalados na costa do Brasil.
Radiotelegrafia - O dia do radiotelegrafista começa com contatos com a
Diretoria de Hidrografia e Navegação, Capitania dos Portos. Depois, ouve a estação da ilha de Trindade e vai consultar os aparelhos de precisão para
fazer sua mensagem meteorológica. Consulta barômetro de mercúrio, de aneróide, o manual do observador meteorológico, termômetro, anemômetro,
anemoscópio, barógrafo e psicômetro de funda. Observar as nuvens faz parte do trabalho.
Dois transmissores e dois receptores, que também operam em fonia, completam o material
de comunicações, além de uma torre de 72 metros de altura, localizada no topo da ilha que está a 116 metros acima do nível do mar.
Buzina de cerração - Nos meses de julho e agosto é comum cair, pela manhã,
imensa massa de neblina, que não permite visibilidade alguma aos navegantes que entram na barra de Santos. Para essa ocasião, existe um sistema de
alarma, buzinas de som estridente, movidas por compressores, que durante todo o tempo de cerração são acionadas, anunciando aos navios que há
perigo.
Esse sinal é ouvido a 8 milhas de distância e geralmente os navios jogam suas âncoras
ao mar, fundeando, até passar a neblina. Com isso, muitos acidentes foram evitados, pois, além dos recifes que há nas adjacências da ilha, um piloto
menos avisado poderá jogar seu navio contra o costão da entrada da barra, ou mesmo colidir com outras embarcações fundeadas.
Mecanismos de relojoaria garantem o giro do farol
Foto de Alfredo Gastoni Tisi Neto, no livro Presença da Engenharia e Arquitetura -
Baixada Santista, Livraria Nobel/Empresa das Artes, S.Paulo/SP, janeiro/2001
É vida em família - Os 21 habitantes da ilha vivem como se fossem uma só família.
Todos são compadres entre si, um batiza o filho do outro.
Não pode se dizer que a vida na ilha começa a esta ou àquela hora, porque sempre há
alguém trabalhando. Às 18 horas o faroleiro das primeiras 6 horas acende o farol, dá corda no relógio e, enquanto o tempo passa, vai lustrando as
partes metálicas, que estão sempre polidíssimas. Enquanto isso, o encarregado do gerador também está firme em seu posto, para evitar que possa
faltar energia para alimentar o farol ou os aparelhos do radiotelegrafista, que fica em seu posto até às 23h30.
À meia-noite outro faroleiro assume, toma seu lugar, assim como o outro maquinista. E
os dois prosseguem noite adentro. Um fica longe do outro nada menos que um quilômetro e não há possibilidade de um "papinho", a não ser por
sinais de lanterna elétrica.
Pela manhã, às 6 horas, o farol é desligado e o telegrafista entra no ar para receber
mensagens e fazer coletagens de dados para o serviço de meteorologia.
Quem estiver de folga pega um caniço ou linha de fundo e vai pescar (já pegaram uma
garoupa de 13 quilos). Além desse divertimento, o outro é caçar lagarto, que existe em grande quantidade (mas só vale ser caçado vivo).
Jararacas e jararacuçus são os grandes temores. Dizem haver grande quantidade dessas
cobras venenosas. "Ainda na semana passada - diz o cabo maquinista - matei uma enorme e tão velha que só faltava ter cabelo". Aranhas caranguejeiras
também aparecem nos meses de verão.
Água não existe na ilha. Por isso é captada através das calhas das casas, conduzida
através de encanamento até caixas onde é represada. Para lavar roupa e tomar banho, há uma fonte natural de água, imprópria para o consumo.
Os gêneros alimentícios que chegam à ilha saem de Santos semanalmente e são
transportados por uma embarcação pertencente ao DHU. Mensalmente, todo o pessoal vai a Santos a fim de receber seus vencimentos. Todos são
funcionários da Marinha, os militares e os civis.
Cada funcionário só pode ficar lotado na ilha por dois anos, vencidos os quais é
automaticamente transferido, salvo se quiser continuar, como o faroleiro José Rubens, que já está lá há mais de quatro anos.
O faroleiro - Rapaz alto, queimado do sol, como os demais, magro, 38 anos, José
Rubens do Nascimento herdou de seu pai a profissão. Já foi faroleiro na Ponta do Boi. Casou-se pela segunda vez há um ano e agora pretende ser
removido. Quer ficar um pouco em terra, mas no continente.
Entretanto, está acostumado a ficar isolado do mundo e gosta de sua profissão. Sabe
tudo sobre faróis e fica muito contente ao receber alguma visita na ilha. Sua esposa ainda não se aclimatou e torce muito para que o marido consiga
ser classificado no Serviço de Balizamento de Santos.
O outro faroleiro é seu irmão Zildo, que se casa logo e vai residir em uma das casas
da vila. Diz que a noiva já visitou algumas vezes a ilha e gostará de ficar algum tempo longe do continente.
Zildo é faroleiro há apenas quatro anos. Começou na profissão a convite do irmão.
Ilha da Moela tem 10 metros de altura
Foto de Alfredo Gastoni Tisi Neto, no livro Presença da Engenharia e Arquitetura - Baixada
Santista, Livraria Nobel/Empresa das Artes, S.Paulo/SP, janeiro/2001
|