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HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Um centro de pesquisa na Ilha do Arvoredo (2)

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Situada defronte à Praia de Pernambuco, a Ilha do Arvoredo foi tema de mais uma matéria do jornal santista A Tribuna, em 12 de dezembro de 2004:
 


PARAÍSO CIENTÍFICO - O acervo do pesquisador Fernando Lee, instalado na Ilha dos Arvoredos, em Guarujá, será restaurado pela Unaerp. A instituição quer reativar o laboratório
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

PATRIMÔNIO
Laboratório científico em ilha será reativado
Unaerp começou a restaurar o acervo deixado pelo cientista Fernando Lee

Carlos Ratton
Da Sucursal

A Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), Campus de Guarujá, está fazendo a restauração documental de todo o acervo do cientista Fernando Lee existente na Ilha dos Arvoredos, localizada a 1.600 metros da Praia de Pernambuco. O trabalho faz parte de um projeto que visa, numa segunda etapa, reativar o grande laboratório do cientista, que começou a ser construído na ilha em 1950 e hoje está sob a guarda da Fundação Fernando Lee.

O professor-doutor de História Jeziel De Paula é o responsável pelo Projeto Acervo Fernando Lee. "O material estava na ilha e foi transportado para uma das salas da Universidade, onde já vem recebendo tratamento técnico-científico adequado. Depois de tudo ser catalogado e identificado, deveremos disponibilizar esse acervo para os diversos cursos da universidade".


Formada por enormes paredões rochosos, a Ilha do Arvoredo fica a 1.600 metros da praia
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

Conforme explica, o material basicamente é composto por filmes, slides, fotografias e diversas plantas de todo o trabalho desenvolvido pelo cientista, durante as quase três décadas em que a ilha foi ocupada e transformada em um imenso laboratório de pesquisas ambientais.

"Fernando Lee era um visionário. Engenheiro mecânico por profissão, formado nos Estados Unidos, ele era paulistano e tinha uma verdadeira paixão pela ciência. Seu grande trabalho foi relacionado à energia alternativa não-poluente", revela o professor, ressaltando que os aquecedores solares existentes na ilha foram os primeiros instalados em toda a América do Sul.

 

Ilha teve os primeiros aquecedores solares do continente

 

Laboratório - A Ilha dos Arvoredos está sob cuidados da Fundação Fernando Lee, que atualmente é administrada pela Unaerp. Não é possível visitá-la sem autorização e o único acesso é por intermédio de um guindaste, construído ao lado de um Fênix (pássaro que, segundo uma lenda egípcia, representa o renascimento), de 71 toneladas de concreto armado, que serve como uma espécie de portal da ilha.

Formado por imensos paredões rochosos, o local possui em quase todo o seu entorno passarelas e escadarias de concreto, para facilitar sua manutenção e dar acesso aos seus diversos ambientes, inclusive à casa onde o cientista descansava e recebia autoridades do mundo todo.


Canhão de origem portuguesa, datado do século XVI, está preservado
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

"Toda a infra-estrutura existente hoje na ilha, que é auto-suficiente em todos os sentidos, foi concluída nos anos 80. Os equipamentos são movidos a energia solar, eólica (com auxílio dos ventos), biológica (gás produzido pelo armazenamento de lixo e esgoto) e por intermédio de equipamentos que utilizam a força das marés", explica o professor.

Conforme De Paula, a água que abastece a ilha é a das chuvas, tornada potável através de um sistema de captação pluvial. Foi construído, numa área atrás da casa principal, um sistema que compõe camadas de grama, que leva o líquido a um grande reservatório, com capacidade para cerca de 2,5 milhões de litros. "O local até hoje possui um tanque para a criação de tilápias".


O transporte de pessoas por guindaste é uma atração à parte
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

Acesso só pode ser feito por meio de guindaste

O professor-doutor De Paula salienta que o lema de Fernando Lee - a pesquisa em benefício da humanidade - dá uma idéia do espírito inovador do cientista, considerado um dos maiores intelectuais dos últimos anos.

"Fernando Lee se comunicava e se relacionava com cientistas do mundo todo. O sistema de guindastes, ao lado da Fênix, é um dos frutos desses contatos. A ilha, na verdade, é um grande rochedo e não existe um atracadouro natural. Qualquer descuido e a embarcação bate nas rochas. O guindaste é a única maneira de alcançar a ilha, mantida por oito funcionários da Fundação Fernando Lee".

O pesquisador realizou uma série de trabalhos na área da Botânica. A primeira grama coreana plantada nas Américas foi trazida por ele. Foi adaptada à ilha, devido à sua resistência à salinidade. Fernando Lee também trouxe coqueiros da Malásia e fez testes com plantas exóticas que retêm água e evitam desmoronamentos de terras. Além disso, ainda criava aves exóticas. A ilha possui uma área com diversos viveiros.


Integrada à paisagem pitoresca da ilha,
a caixa-d'água é um protótipo da nave espacial Saturno V
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

Caixa d'água - Para se ter uma idéia da versatilidade e da criatividade do cientista, uma das caixas d'água da ilha é um protótipo da nave espacial Saturno V, cujas dimensões foram cedidas por um astronauta da NASA, amigo do pesquisador.

"O equipamento é feito de fibra de vidro. Ele também criou, em uma das rochas existentes no entorno da ilha, um espaço intitulado a Toca do Dragão, que nada mais é do que uma adega, com sistema natural de ventilação", comenta o professor.

De Paula salienta que a ilha, vista de cima, tem o formato de um leão. No local onde ficaria a pata do animal, Fernando Lee construiu uma edificação que se assemelha à proa de um navio estilizado. Dentro dessa embarcação existe um canhão de 65 milímetros, construído por ele, para a Guerra Civil de 1932, enquanto prefeito-técnico (cargo existente na época) da cidade de Ourinhos, localizada ao Sul do Estado de São Paulo.

"Foram construídos, com auxílio de Lee, três canhões iguais, com sucatas de locomotivas. Quando a guerra terminou, dois canhões foram jogados no rio Paranapanema e um foi guardado por Fernando Lee em sua casa em São Paulo e depois trazido para a ilha", conta o historiador, salientando ainda a existência de um outro canhão português, do século XVI, também adquirido por Lee, que chegou a ser diretor de cerca de 10 empresas multinacionais ao mesmo tempo.

Segundo De Paula, o cientista foi pioneiro na luta ecológica
Foto: José Moraes, publicada com a matéria

Professor destaca trabalho de Fernando Lee

Entusiasta do trabalho realizado pelo pesquisador, o professor De Paula ressalta que a grande lição deixada por Fernando Lee, numa época em que a consciência ecológica estava começando a crescer, é que o ser humano pode viver perfeitamente em harmonia com o meio-ambiente.

"A Fênix simboliza exatamente isso. Fernando Lee estava, com certeza, algumas décadas à frente de seu tempo e percebeu que a Humanidade já havia tomado um caminho errado, com relação à degradação ambiental. Fernando Lee provou que pode-se viver sem poluição, de forma equilibrada e sustentável. A ilha é um grande laboratório a céu aberto", afirma De Paula, salientando que a intenção da universidade é recuperar todo o trabalho do pesquisador.

A Ilha dos Arvoredos foi repassada a Fernando Lee em 1950, por intermédio de uma concessão da Marinha do Brasil, por 100 anos. Em 2050, portanto, ela deverá voltar à União. Diversas personalidades internacionais visitaram a ilha quando Lee ainda era vivo. Ele morreu em 1996, aos 93 anos.

Admiração 

"Fernando Lee estava, com certeza, algumas décadas à frente do seu tempo"

Jaziel De Paula
Professor-doutor de História

Turismo - O professor de Turismo da Unaerp, Aureliano Sílvio Gamero Laurindo, que esteve junto com De Paula e estudantes, no último dia 7, visitando a Ilha dos Arvoredos, disse que o projeto é importante pelo resgate histórico, ecológico e científico. "Estamos envolvendo professores de Turismo, que também estão auxiliando os trabalhos, formando uma equipe multidisciplinar".

Num futuro próximo, a Unaerp pretende promover visitas monitoradas de estudantes à ilha. A intenção é também abrir o acervo para a população e turistas de um modo geral, que podem circular a ilha num espaço de tempo de 20 minutos aproximadamente.


Considerada um grande laboratório a céu aberto,
a ilha pode ser liberada para visitas monitoradas
Foto: José Moraes, publicada com a matéria