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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 07/02/10 20:15:42

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Discursos de 1º de Maio

A cada 1º de Maio, os governantes se dirigem aos trabalhadores, em discursos transmitidos para todo o Brasil. Esse costume começou com Getúlio Vargas e continuou em todos os governos seguintes.

Em 1941, no estádio do clube desportivo Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, Getúlio Vargas pronunciou um discurso, cujo texto foi  registrado pela Presidência da República (arquivo PDF com 844 KB [endereço original]). Ouça o início desse discurso (arquivo de som tipo MP3 com 0'24", 128 kbps, estéreo, 44 kHz, 386 KB).

Em 1951, o discurso de Vargas foi feito no estádio São Januário, no Rio de Janeiro.(arquivo de vídeo FLV/MP4 com 29,9 MB  [endereço original: Youtube]):

Clique na imagem para obter o arquivo de vídeo MP4

Em 1º de maio de 1962, o presidente João Goulart fez o seu discurso (arquivo PDF com 33 KB [endereço original])

Discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na comemoração do 1º de Maio promovida pelas centrais sindicais Força Sindical e Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), em São Paulo/SP, 1º de maio de 2010 [endereço original: site Afinsophia]:

Foto: site Afinsophia (consulta em 2/7/2010)

Companheiros e companheiras,

Trabalhadores e trabalhadoras de São Paulo e do Brasil,

É uma alegria dupla estar neste 1º de Maio, este 1º de Maio que alguns vão dizer agora, este ano, que ele é político porque eu vim. Mas nos sete que eu não vim e que os outros vieram, não foi considerado político. Não existe problema. Nós, com a mesma tranqüilidade que vamos a outros atos, eu venho ao ato do companheiro Paulinho e do companheiro Neto, da Força Sindical e da CGTB, para dizer aos trabalhadores de São Paulo que faltam apenas nove… oito meses para terminar o meu mandato – oito meses –, e eu duvido que em alguma parte do mundo, muitos Presidentes, depois de sete anos, tiveram coragem de vir a um ato de trabalhadores e encarar os trabalhadores cara a cara. Porque normalmente os Presidentes entravam com muita popularidade e saíam pela porta dos fundos porque não tinham cumprido aquilo que prometeram para os trabalhadores.

Para as pessoas mais novas que estão aqui – Paulinho, companheira Dilma, companheiro Aloizio, companheiro Temer, minha querida companheira Marisa, companheiros da Força Sindical e da CGTB –, eu fui um dirigente sindical importante neste país nos anos 70. Participei e organizei as greves mais importantes deste país num tempo em que a inflação era [de] 80% ao ano, no tempo em que a inflação era [de] 40% ao mês, no tempo em que a gente fazia greve e voltava a trabalhar sem receber absolutamente nada, com os trabalhadores sendo mandados embora, e o regime militar obrigando a gente a voltar a trabalhar, numa justiça até então pouco democrática. E nos meus sete anos de governo, é com muito orgulho que eu posso olhar na cara de cada trabalhador, na cara de cada dirigente sindical, na cara de cada companheiro e dizer: em todos os anos do meu governo, 90% dos reajustes salariais foram aumentos reais, ganho real para a classe trabalhadora brasileira.

É com muito orgulho, Paulinho, e com muito orgulho, companheiro Neto, que eu estou aqui para dizer aos trabalhadores de São Paulo que na crise econômica dos países ricos, em 2008, a crise que mandou 7 milhões de trabalhadores embora nos Estados Unidos, a crise que mandou mais de 7 milhões de trabalhadores embora na Europa, a crise que foi o ato da especulação financeira, de banqueiros que em vez de investirem no trabalho, investiram na especulação, banqueiros que davam palpite sobre o Brasil, banqueiros que davam palpite sobre o México, banqueiros que davam palpite sobre a crise de todos os países pobres. Olharam tanto para o Brasil e para os países pobres que esqueceram de olhar para o que estava acontecendo nos seus próprios bancos. Foi a maior crise dos últimos 80 anos.

E é com muito orgulho, Paulinho, que o Brasil foi o último país a entrar na crise e o primeiro país a sair da crise, e quem sustentou a economia brasileira não foram os banqueiros nem os empresários. Foi o povo pobre deste país que sustentou a economia. Você está lembrado, Paulinho, que eu fui, no dia 23 de dezembro de 2008, para a televisão, em rede nacional, pedir para o povo brasileiro consumir porque se o povo não consumisse, as empresas não iam produzir, o comércio não ia vender e, portanto, ia ter mais desemprego. Eu fui para a televisão dizer: o povo tem que comprar o mínimo necessário para a roda gigante da economia continuar girando. E, graças a Deus, o Brasil, que só era conhecido no mundo por causa do Carnaval do Rio de Janeiro, que só era conhecido no mundo por causa da morte de meninos e meninas, que só era conhecido no mundo por causa de futebol, hoje o Brasil é um país respeitado porque é o maior exemplo de economia séria, de estabilidade financeira, de controle do sistema financeiro.

Eu lembro – eu era dirigente sindical, Paulinho – quando eu vivia nas ruas gritando: "Queremos um salário mínimo de US$ 100, queremos um salário mínimo de US$ 100". Hoje o salário mínimo é de US$ 300 e nós vamos continuar a política de aumentar o salário mínimo para que a gente possa fazer as mulheres e os homens deste país, que ainda não têm uma profissão e que ganham salário mínimo, poderem viver com dignidade neste país. Já aumentamos 74% e, certamente, os aumentos vão continuar porque o povo brasileiro quer que continue.

Eu era dirigente sindical, Paulinho, quando você, eu e tantos outros, Neto e tantos outros, andávamos pelas ruas deste país com uma placa ou com uma faixa, dizendo “Fora daqui o FMI”. Eu ganhei as eleições e mandei o FMI embora, e hoje o Brasil empresta dinheiro para o FMI. Não é que o Brasil toma dinheiro emprestado do FMI.

Paulinho, no nosso governo, nesses sete anos, nós desapropriamos 47 milhões de hectares de terra para a reforma agrária. É 60% de tudo o que foi desapropriado na história de 500 anos do Brasil. Nós assentamos mais de 570 mil famílias e sabemos que precisamos assentar mais. Paulinho, quando vocês, do movimento sindical, me apresentaram a proposta do crédito consignado, muita gente dizia: "Não vamos emprestar dinheiro para o trabalhador quando o trabalhador ganha pouco e não vai pagar". Criamos o crédito consignado. Hoje a carteira do crédito consignado representa R$ 115 bilhões e a inadimplência é a menor possível porque o trabalhador e a trabalhadora não dão calote, porque o único patrimônio deles é o próprio nome deles e eles pagam porque têm vergonha na cara, que muita gente grande neste país não tem.

É por isso, Paulinho, é por isso que eu estou aqui neste 1º de Maio, com a mesma cabeça erguida que quando fui ao sindicato convidado quando eu era candidato, para dizer para você, companheiro Paulinho: quando deixar a Presidência, Neto, eu vou mandar registrar em cartório tudo o que eu fiz. Registrar em cartório para entregar para a imprensa, para entregar para os deputados, senadores, para entregar para universidades, para entregar para cada sindicato, porque eu quero que quem vier depois de mim – e vocês sabem quem eu quero – saiba que tem que fazer mais e fazer melhor, e fazer muito mais, porque nós aprendemos, nós preparamos e nós estamos convencidos…

Eu disse ontem, na posse da indústria automobilística – o Aloizio estava comigo –: não pensem que por conta das eleições eu vou deixar o Brasil afundar, não pensem. Eu aprendi a minha seriedade no movimento sindical, eu aprendi a minha seriedade e não vou brincar, porque a inflação neste país não volta mais, a irresponsabilidade fiscal não volta mais. E é com essa responsabilidade que a gente vai fazer o Brasil ser a quinta economia até 2016, ser um país grande.

Foi com muito orgulho, companheiros, que nós ganhamos a Copa do Mundo, lá em Lausanne. Tinha gente que dizia: "O Brasil não pode fazer a Copa do Mundo, o Brasil é um país pobre". Porque tem gente que é tão azeda, que se levanta de manhã, não acredita nela própria. Tem gente que só aposta na desgraça e eu aposto é na melhoria deste povo. Quando nós fomos disputar com o companheiro Obama, com o companheiro Zapatero e com o companheiro Hatoyama, as Olimpíadas, eu cheguei em Copenhague e muita gente dizia: "Esse Lula é metido a besta. O cara sai lá de Pernambuco para não morrer de fome, vem para São Paulo, vira Presidente e pensa que vai derrotar o Obama, que vai derrotar a Espanha, que vai derrotar o Japão". Pois bem, nós derrotamos os três e trouxemos as Olimpíadas para este país. Foi a maior votação, foi a maior votação que um país já teve nas Olimpíadas: 66 votos de diferença.

Pois bem, companheiro Paulinho, olho os trabalhadores e trabalhadoras com a convicção de quem viveu 27 anos dentro de uma fábrica, de quem sabe o que é o desemprego porque fiquei, em [19]75, um ano e meio desempregado, porque já fiquei sentado na porta da minha casa vendo a água bater no teto, porque já fiquei na porta da minha casa sentado sem ter o que comer dentro de casa.

E eu tenho a convicção, e você tem, de que este país mudou. É só ir para o Nordeste brasileiro para ver como o povo está melhorando, é só ir para o interior deste país para ver como o povo está melhorando. O Lupi falou que nós vamos criar 14 milhões e 500 mil empregos. Ah, eu fico feliz, eu fico feliz, companheira Dilma, quando a revista Time, a revista Time diz que eu sou a pessoa mais influente do mundo, porque a elite brasileira dizia que eu não tinha competência para governar porque eu não sabia falar inglês. Eu não falo inglês, mas meu coração pensa brasileiro, meu coração pensa o povo brasileiro, a minha consciência pensa o povo brasileiro. Eles ficam ofendidos quando o principal jornal, o Le Monde, me coloca como Homem do Ano; eles ficam infelizes da vida quando o El Pais, o principal jornal da Espanha, me escolhe como Homem do Ano; eles ficam doidos da vida quando o Brasil se mete a negociar a paz de Israel, quando eu digo que vou ao Irã, quando eu digo que vou à Palestina.

Este país é soberano, este país conquistou a sua independência quase 200 anos atrás, este país tem um povo feito de homens e de mulheres que aprenderam a andar de cabeça erguida, e quem decide o nosso destino somos nós, quem decide aonde vamos e quando vamos somos nós.

Portanto, companheiros e companheiras, eu quero dizer para vocês que espero, que não sendo Presidente da República em maio do ano que vem, que os companheiros se lembrem do Lula ex-presidente, porque ex-presidente sem mandato, nem vento bate nas costas, nem vento. Mas eu espero ser convidado para falar bem do próximo Presidente, que eu tenho certeza, certeza absoluta que o povo quer que continue o mesmo programa de governo para cuidar do povo pobre deste país. Durante cinco séculos os ricos ganharam. Agora chegou a vez do povo trabalhador ganhar a sua fatia na riqueza nacional.

Viva os trabalhadores brasileiros! Viva os trabalhadores de São Paulo! E até o ano que vem, se Deus quiser.