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DIA DE ANCHIETA
Anchieta, literato (II)

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Em 1965, a Comissão Nacional para as Comemorações do Dia de Anchieta (9 de junho) promoveu um amplo debate entre intelectuais e pesquisadores nacionais e estrangeiros sobre a figura de José de Anchieta, e dessas conferências resultou o volume Anchietana, publicado naquele ano pela Gráfica Municipal - Divisão do Arquivo Histórico - Departamento de Cultura, da Secretaria de Educação e Cultura/Prefeitura do Município de São Paulo. Um exemplar dessa obra rara pertence ao Arquivo Histórico Municipal de Cubatão, e é dele transcrito o seguinte texto:

Situação literária de Anchieta (II)

Mello Nóbrega

Do levantamento crítico efetuado, conclui-se que a incorporação da obra do Padre José de Anchieta ao patrimônio literário brasileiro é ponto firmado. As divergências de opinião foram-se tornando cada vez mais escassas e, atualmente, se reduzem a negativas isoladas, cujas significação se dilui, inexpressivamente. A crítica moderna, liberada de preconceitos e limitações que toldaram a acuidade de muitos historiadores e crestômatas de nossa poesia, converge para a unanimidade, pondo termo a uma querela secular.

Do processo cujas peças principais trouxemos à colação consta, entre as opiniões discordantes, uma tentativa conciliatória: considerar Anchieta como precursor de nossa literatura. Tal indefinição carece de sentido crítico. Há, nesse julgamento acomodatício, entretanto, um avanço sobre a posição negativista, representando sua redução transicional.

Curioso será respigar, entre os que recusam a Anchieta, senão as primícias, um lugar, pelo menos, na história de nossa poesia, as várias razões em que assentam seu julgamento. Não é uma negação intrinsecamente unânime, por isso que - e aí está a sua maior fraqueza - amparada em argumentos de diversa natureza, alguns dos quais de evidente fragilidade. Enumeremo-los:

- Anchieta não nasceu em terras brasileiras;

- Sua obra foi escrita em quatro línguas, não sendo o quinhão vernáculo o mais volumoso, nem o mais significativo;

- Sua poesia composta em português é, toda ela, comprometida, por destinar-se a fins catequéticos e edificantes, sem intuitos literários;

- Admitida à consideração, esses versos não mostram valia que os recomende artisticamente.

O primeiro desses articulados é tão pouco prestante, que muito admira haja sido formulado. A história literária de todas as nações apresenta casos de escritores adotivos. Adoção civil ou intelectual, que os vincula à terra escolhida, integrando-os em seu patrimônio cultural. Afastado o caso de nacionalização legal que, além de sua impositiva aceitação, não se aplica a Anchieta, examinemos o de adesão cultural, que o situa com justeza.

Por focar individualmente a figura de Anchieta, recorramos a um crítico estrangeiro, de reconhecida competência e alheio a qualquer paixão ou interesse nacionalista. Em sua História breve da Literatura Brasileira, José Osório de Oliveira assim planteou a questão: "A Anchieta chamamos, uma vez, o primeiro escritor brasileiro, e assim justificamos a nossa afirmação: A origem é que menos importa num escritor. Nascido nas Canárias, de pai espanhol e mãe indígena, nem por isso Anchieta pertence à Espanha; como não pertence a Portugal por ter estudado em Coimbra. Chegou ao Brasil com vinte anos, e no Brasil viveu perto de meio século, sem nunca mais voltar à Europa. No Brasil decorreu a sua vida de apóstolo, para o Brasil trabalhou catequizando os índios, sobre o Brasil escreveu as suas Cartas.

"Anchieta pertence, sem dúvida, ao Brasil, e é um dos primeiros elementos da sua história. Três datas - dissemos - marcam o advento do Brasil: 1500, ano em que Pedro Álvares Cabral descobre a terra de Santa Cruz; 1532, ano em que Martim Afonso de Souza funda São Vicente, cellula mater do futuro país; 1553, ano em que desembarca na Bahia o missionário jesuíta José de Anchieta, verdadeiro pai espiritual do novo domínio cristão.

"Poderá dizer-se, porém, que Anchieta tenha sido o primeiro escritor brasileiro? De fato, a origem é o que menos importa. Mais brasileiro é, efetivamente, o Padre Vieira, nascido em Portugal, que o moralista Matias Aires ou o comediógrafo Antônio José da Silva, ambos nascidos no Brasil? Não há razão alguma para incluir estes últimos entre os escritores do Brasil, como fazem certos historiadores brasileiros, e, por outro lado, é possível falar, até certo ponto, dum Vieira brasileiro. Se o nascimento basta para considerar brasileiros o autor das Reflexões sobre a vaidade dos homens ou o Judeu, não se vê por que razão há de ser assim considerado Tomás Antônio Gonzaga, português de nascimento. E menos ainda se explica que não seja reivindicado pelo Brasil um poeta por vezes tão brasileiro como Gonçalves Crespo, embora naturalizado português".

Lembramos, a propósito, que a mais rica de todas as literaturas modernas não se peja de incluir em seu patrimônio a obra de numerosos autores estrangeiros de nascimento. Citemos, apenas, os acolhidos em duas conceituadas antologias, que abrangem os poetas representativos dos últimos cem anos, aproximadamente - Anthologie des Poètes Français Contemporains, de G. Walch, e a Anthologie Poètique du XXe Siècle, de Robert de la Vaissière. A esses florilégios admitiram-se trinta e quatro poetas que não nasceram em terras francesas, metropolitanas ou coloniais: quatorze belgas, sete suíços, cinco norte-americanos, dois uruguaios, dois romenos, dois gregos, um cubano e um canadense. Não caberá, no caso, a objeção de que vários deles se aproximavam da França pelo sangue, de vez que outros sem essa vinculação se integraram igualmente na vida cultural da pátria adotiva.

Ocorre-nos, sobre essa questão, conhecido e pitoresco episódio. Quando os fundadores da Academia Brasileira de Letras escolheram os patronos de suas cadeiras, Silva Ramos, que estudara em Coimbra, lembrou-se de Gonçalves Crespo, de quem havia sido colega. A indicação foi recusada, sob o argumento de que, naturalizando-se português, o poeta se desligara da terra natal, embora sua obra palpite de reminiscências brasileiras. Silva Ramos, não sabemos se por ironia ou pela inclinação lusófila, que lhe vinha do sangue e da formação cultural, apresentou, então, o nome de Tomás Antônio Gonzaga, aceito sem restrições.

Afrânio Peixoto comentou risonhamente o fato: "Gonzaga era filho de brasileiro e portuguesa, ao contrário de Gonçalves Crespo, mas nascera em Portugal, vivendo no Brasil. Elas por elas: compensação em tudo. Seria também rejeitado. Engano. Será que a Academia é mulher e por isso desdenha a lógica? O pretendente Gonzaga foi recusado... A diferença entre os dois poetas, pois que os dois homens se equivalem, o brasileiro vivendo em Portugal, o português no Brasil, e que um, Gonzaga, é só poeta português e que Gonçalves Crespo também é poeta brasileiro. A academia repeliu o nacional e ficou com o reinol..."

É de lembrar-se que a Ilustre Companhia, pouco depois, tornou a vetar o patrocínio de Gonçalves Crespo a uma de suas poltronas, quando, completado por via eleitoral o seu quadro de membros efetivos, Garcia Redondo, que também fora contemporâneo do poeta, na Universidade, o escolheu para sua figura tutelar.

Como se vê, a recusa do nascimento como determinante da nacionalidade dos escritores traz o apoio de nossa mais prestigiosa instituição literária, a que pertenceram alguns dos que negaram a Anchieta o direito de ingressar no rol de nossos poetas.

Ainda sobre Gonçalves Crespo, recordemos a reivindicação violenta de Camilo Castelo Branco, no Cancioneiro Alegre: "... eu quero que ele seja português, porque levo o amor de minha pátria até ao latrocínio".

A segunda discordância situa-se noutro campo, o da linguagem. A obra anchietana foi escrita em quatro línguas, não sendo em português a sua parte mais representativa.

Examinemos a força conclusiva desse argumento. O fato alegado é incontestável; descabido, porém, será dar-lhe importância excludente do autor, de nossos registros literários. Das línguas de que se serviu Anchieta, o latim, oficialmente adotado pela Igreja Católica, era o meio de comunicação da Companhia de Jesus, sendo nela escritas as cartas e relações que a seus superiores enviavam os sacerdotes, espalhados, então, pelos quatro cantos do mundo.

Anchieta escreve nas areias de Iperoig
Detalhe de quadro de Benedito Calixto
Os poemas De Beata Virgine Dei Matre Maria e De gestis Mendi Saa praesidis in Brasilia constituem, realmente, a parte mais volumosa da obra de Anchieta, em verso. Considere-se, todavia, que inúmeros escritores, religiosos e leigos, de muitos outros países, também escreveram em latim, sem que isto seja alegado para cassação de sua nacionalidade literária. Para ficarmos em Portugal, recordamos alguns autores do século XVI: André de Resende, Jorge Coelho, Lopo Serrão, Antônio de Cabedo, Jerônimo Cardoso, Inácio de Morais, Diogo de Teive, D. Jerônimo Osório, D. Antônio Pinheiro e Padre Antônio dos Reis, para citar apenas uns poucos nomes dos duzentos e cinqüenta e seis que Barbosa Machado arrolou, de poetas portugueses que versejaram em latim.

Quanto aos poemas tupis de Anchieta, como considerá-los? Incluí-los numa literatura inexistente?

Restará examinar a obra escrita em língua espanhola. Terá dado aos historiadores da literatura castelhana razões para nela incluir Anchieta, reforçando o argumento de que seu autor nascera em terras de domínio espanhol?

Estudando o assunto por outro ângulo, observamos que, no século XVI, sem as razões justificantes de Anchieta, era muito comum que os literatos se servissem, além do latim, de duas ou mais outras línguas. Entre espanhóis e portugueses, foi tão freqüente o bilingüismo, que muitos autores figuram em ambas as literaturas. Do século XV ao XVIII, muitos escritores lusitanos compuseram obras em espanhol: Sá de Miranda, Gil Vicente, Camões, Diogo Bernardes, Côrte Real, Pinto Delgado, D. Francisco de Portugal, Frei Antônio das Chagas, Violante do Céu, Jacinto Cordeiro, D. Francisco Manuel de Melo...

Antes, verificara-se o contrário: poetas espanhóis valiam-se do galaico-português para seus poemas líricos. Nessa língua compôs D. Afonso as Cantigas de Santa Maria. Alguns escritores portugueses usaram o italiano (Estevão Rodrigues de Melo, Manuel Botelho de Oliveira, Padre Antônio Vieira) ou o francês, como o Cavaleiro de Oliveira, por isso alcunhado "o estrangeirado".

A nenhum desses autores se negou, entretanto, a nacionalidade portuguesa.

Se o nascimento não basta para nacionalizar um escritor, a língua de que se serve não é, também, elemento único ou imperativo que a determine: "Não considero... nem a língua, nem o lugar do nascimento, nem o lugar da residência habitual, como critérios decisivos da nacionalidade literária. O que faz um autor participar de uma literatura nacional é a sua integração espiritual nessa literatura. O próprio critério jurídico da nacionalidade não importa, desde que a obra esteja integrada no corpo e no espírito de uma literatura nacional" (Alceu Amoroso Lima, Introdução à Literatura Brasileira).

Este mesmo ponto de vista foi expresso por Afrânio Coutinho (Conceito da Literatura Brasileira, 1960): "Mais do que a língua, simples instrumento, o que importa à definição, à caracterização de uma literatura, é a experiência humana que ela transmite, é o sentimento, é a visão da realidade, tudo aquilo de que a literatura não é mais do que a transfiguração, mercê de artifícios artísticos".

Aplicando esse conceito à nossa literatura, Alceu Amoroso Lima assim a definiu: "o conjunto de que faz parte toda e qualquer obra literária, oral ou escrita, anônima ou individual, produzida no Brasil ou fora dele, em português ou não, por autor nascido ou não em nossa terra, mas espiritualmente integrada em nossa comunhão nacional".

A crítica moderna, alforriada de preconceitos e estreitas limitações nacionalistas e acadêmicas, situa a questão fora e acima de formulações raciais, lingüísticas, filosóficas ou políticas, estudando-a em profundidade, naqueles elementos subjetivos que cimentam a unidade de um povo: ambiência física e sentimental, glórias e provações, ideais e conquistas, um sopro de vida nas páginas frias da História.

Examinada sob esse ângulo, a obra do Padre Anchieta, independentemente de quaisquer restrições que se lhe façam, é autêntica, o sentido de seu brasileirismo. Fez mais do que integrar-se na comunhão nacional: antecipou-lhe os fundamentos.

A terceira negativa à aceitação de Anchieta ao quadro de nossa formação literária não é menos insubsistente que as anteriores. A obra do Apóstolo do Brasil não teve, na verdade, uma finalidade puramente literária, se ao termo emprestarmos sentido restritivo, pois destinou-se, objetivamente, à catequese e à edificação, principalmente a escrita em português e tupi de aplicação missionária, em autos e poemas. O padre José, em sua humildade e fervor apostólicos, jamais pretendeu as vanglórias terrenas. Despegado de vaidades, inteiramente votado à sua fé e ao seu ministério, imbuído do espírito de sua ordem e da missão que se impusera, não pretendeu, nem poderia, imprimir à sua obra essa inocuidade delectativa que faz a popularidade de tanto papel escrito. Obra aplicativa, nela o missionário sobrepõe-se ao homem.

Sobre a significação da obra anchietana, Leodegário Amarante de Azevedo Filho, em sua tese A poética de Anchieta (1962), assim se manifestou: "Tem-se dito, entre nós, que a figura de Anchieta avulta em nossa história como catequista, tendo pouco valor literário. Além disso, as obras do piedoso evangelizador do gentio, pelo cunho didático que apresentam, comprometem-se do ponto de vista literário, assumindo feições de littérature engagée. De fato, não se pode negar a intenção pedagógica do jesuíta, tantas vezes exaltada, merecidamente, pelos seus biógrafos. Mas também não se pode negar, por outro lado, a inspiração inata de Anchieta para a poesia, revelada desde os bancos escolares. Nem mesmo o mais rigoroso critério de valorização estética, aplicado às suas obras, poderia ignorar a beleza de alguns de seus hinos e vilancetes, que revelam a mais fina inspiração lírica".

Não é diferente a opinião de Péricles da Silva Pinheiro, em Manifestações Literárias e São Paulo na Época Colonial: "Sua produção literária é copiosa e variada e não obstante o seu sentido essencialmente didático e edificante, de dirigismo catequético como função de política religiosa, em que a emoção artística em geral se amesquinha para ceder à obra prática e objetiva da conversão para o melhor lugar da primeira fila, não há como negar-lhe qualidades literárias".

Nem o misticismo, nem o didatismo, excluem o mérito literário. Se assim não fora, como incluir na literatura espanhola as obras de Santa Teresa de Jesus, de Frei Luís de Granada, de Frei Pedro Malón de Chaide, de São João da Cruz e de todos os místicos e ascéticos do Século de Ouro? Como situar, na portuguesa, o Leal Conselheiro, o Boosco Deleitoso, o Horto do Esposo? E o Diálogo de Robin e do Teólogo, o Tratado da Perfeição da Alma, a Imagem da Vida Cristã, o Livro da Doutrina Espiritual, a Voz do Amado e tantos outros exercícios espirituais e doutrinários que enriquecem a literatura mística, só para citar as escritas em português? Como considerar as obras de fundo apologético ou edificante, em que se incluem as obras-primas da oratória sacra?

Quanto ao objetivo didascálico, será defensável a exclusão, do campo literário, dos poemas didáticos, tão abundantes e significativos, que chegaram a determinar a criação de um gênero poético especial? No que diz respeito à nossa história literária, será aceitável a proscrição de obras que tanto contribuíram para a formação de uma nacionalidade, que tanto afeiçoaram o nosso povo, no período de sua definição latina e cristã?

As restrições feitas à obra anchietana reduzem-se, assim, a uma conceituação muito estreita da arte literária, já impugnada pela crítica. Resta-nos, pois, examinar, embora sucintamente, o valor artístico na poesia do Padre Anchieta, especialmente o da escrita em português, que se considera incorporada às nossas letras. Em outros termos: as poesias do Padre Anchieta apresentam qualidades que justifiquem o apreço que lhes vêm dando os historiadores e comentaristas de nossa literatura?

Exageradamente, Melo Morais Filho atribuiu-lhe o mérito de haver renovado o mistério medieval, "alentando-o de vida nova", embora restringindo essa importância às peças escritas em castelhano e em tupi. Em outro passo de seus comentários, Melo Morais, ao exaltar o valor do missionário-poeta, afirmou que certas imperfeições notadas em sua obra se explicam e justificam por voluntária limitação de "um fecundo talento, uma fantasia arroubada que lampejava a furto, para não deslumbrar o colono rude e o caboclo escravizado". Em outras palavras: Anchieta refreou seus dons poéticos para pôr-se à altura de seu público inculto, sacrificando, em favor dos deveres de catequista, suas possibilidades expressivas. Essa afirmação, aparentemente ousada, não é, na verdade, destituída de fundamento. Par ser compreendido, Anchieta limitou, certamente, nos temas e na forma, o valor literário de sua obra edificante e moralizadora.

Ainda que nos restrinjamos ao exame dos versos escritos em português, a obra de Anchieta revela, entretanto, inegáveis afirmações de conteúdo lírico e recursos expressivos.

Ronald de Carvalho assim manifestou seu entusiasmo pelo poema Ao Santíssimo Sacramento: "A poesia religiosa tem nestes versos um dos mais belos espécimes do gênero. Serão rudes, porventura, mas quanto fervor, quanta deliciosa imagem nos oferecem!"

Também Afrânio Coutinho não poupou elogios, embora articulando algumas restrições: "...a obra de Anchieta... se não possuir valor estético de primeira categoria... se encarada na sua situação histórica, é a mais alta que o espírito barroco produziu na América em seu tempo".

Eduardo Portela reconheceu, no Padre José, "incontestável mérito de poeta". Para Armando de Carvalho, Anchieta representa uma das mais ricas manifestações poéticas do século XVI. Foi, no Novo Continente, o primeiro, sem que nenhum outro poeta se lhe aproximasse, a despeito do desenvolvimento cultural, muito superior, de algumas colônias espanholas. Embora aí tenham sido criadas várias universidades e montadas as primeiras oficinas tipográficas, essa difusão de cultura mantivera-se nitidamente metropolitana, pela divulgação de obras européias, traduzidas ou adaptadas. A literatura luso-tupi distingue-se da hispano-guarani, segundo Armando de Carvalho, pela adequação ao meio físico e humano do Brasil nascente: "pelo florescimento de um poeta e dramaturgo da estirpe de José de Anchieta, de valor artístico incontestável e sem confronto com qualquer outro nome do mundo americano da época".

Apesar de todas as restrições que lhe têm sido feitas, vê-se que a significação da poesia anchietana é reconhecida em seu alto valor, não só histórico e social, mas também intrinsecamente literário. É de notar-se, a propósito, que, salvo algumas exceções, os pareceres divergentes não negam esse valor, mas apenas o graduam diferentemente.

Já vão longe os tempos em que só se reconhecia em Anchieta uma função histórica e social. A figura do missionário, a caminho da santificação, obscurecia, encobria, abafava o poeta; a poesia de Anchieta estava em sua vida, de que sua obra era apenas um reflexo aplicativo.

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