No início da última década do século XX, nos Estados
Unidos, um repórter, de microfone em punho, fazia a seguinte pergunta aos parlamentares estadunidenses, na Câmara dos
Representantes: "O que o senhor acha do golpe na Liberlândia? Os Estados Unidos devem intervir?" Uns diziam que eram a favor
de uma intervenção para ajudar "o pobre povo daquele país"; outros iam além: afirmavam que era preciso mandar tropas para
garantir a segurança na região. Mas que região? Que país? Só quando o repórter começou a rir os parlamentares perceberam que
haviam caído numa brincadeira. Era 1º de abril... Nos últimos tempos, as
brincadeiras do 1º de abril perderam muita força. Segundo alguns especialistas em comportamento, o avanço da tecnologia tem
causado mudanças profundas no homem e no seu ritmo de vida. Ainda assim, raramente se passa um ano sem que, nesse dia, alguma
emissora de televisão ou algum jornal divulgue alguma notícia sensacional para depois desmentir.
Há quem atribua as origens do Dia da Mentira à França de 1654, quando o rei Carlos IX
resolveu mudar o início do ano, até então fixado em 1º de abril, para 1º de janeiro. Muita gente estranhou a mudança, muitos
cometeram enganos, e o 1º de abril passou a ser motivo de piadas.
Se antes era comemorado o Ano Novo, com entrega de presentes e tudo o mais, a partir de
então os franceses passaram a comemorar um ano novo falso, com troca de presentes igualmente falsos - costume que de espalhou
pelo mundo.
TV e rádio - Entre 1960 e 1970, ficou famosa a apresentação de Frank Sinatra
na TV Record, anunciada insistentemente pelos jornais para uma noite de 31 de março. Programa ao vivo, auditório lotado e
aparece a silhueta de um cantor com a voz de Sinatra, interpretando Night and Day. Já passava da meia-noite quando o
apresentador Blota Jr. apareceu sorrindo na televisão para lembrar que era 1º de abril.
Antes disso, na década de 1940, o locutor de rádio Geraldo José de Almeida já havia deixado
milhares de torcedores do São Paulo - que estava excursionando pela Europa - à beira de um ataque de nervos, ao narrar oito
gols contra o tricolor. Almeida esbravejava dizendo que os gols tinham sido "roubados", e ainda narrou o "gol de honra" do seu
time. Outras emissora, acreditando que era notícia verdadeira, passaram a reproduzi-la, como se a tivessem recebido de seus
enviados especiais.
Internet - Com o surgimento da Internet comercial, a partir de 1995, a credibilidade
desse meio de comunicação também foi posta à prova, primeiro com mensagens falsas de primeiro de abril - como a de que a
Internet mundial seria desligada para manutenção, ou que seria instalado um microprocessador nos livros impróprios para
menores, que impedisse a sua leitura pelas crianças.
Logo, o hábito se disseminou e, no início do século XXI, é raro o dia em que o internauta
não receba em sua caixa de correio alguma mensagem falsa - um vírus de computador que parece ser mensagem enviada por um
amigo, a propaganda de algum produto ou serviço engana-trouxa, e até mensagens que circulam anos a fio, espalhadas por
incautos de boa vontade que não percebem a brincadeira, como a da menininha com câncer, a oferta de milhões de dólares pela
colaboração com um general nigeriano, o alerta da Microsoft sobre "um novo e poderoso vírus perigoso e sem vacina descoberto
na manhã de hoje" etc.
Trote real - Um apresentador de rádio canadense ganhou
notoriedade ao conseguir se passar por uma autoridade desse país numa conversa telefônica com a rainha da Inglaterra. Esta,
sem desconfiar de nada, atendeu a solicitação da falsa autoridade e fez uma declaração pública - irradiada ao vivo - sobre o
que pensava a respeito de uma tentativa de separação entre as áreas de fala francesa e inglesa no Canadá. E nem era 1º de
abril... Aliás, não foi essa a única fez que tal locutor fez coisas desse tipo, usando artifícios para colocar "no ar, ao
vivo", personalidades importantes de vários países.
(Contribuíram para o
texto acima informações publicadas no dia 30/3/1997
pelo jornal santista A Tribuna, caderno AT Especial)
Esta é a notícia publicada pelo Jornal da Tarde/OESP, de São
Paulo, na terça-feira, 31 de outubro de 1995, relatando o trote sofrido pela rainha: |
A rainha Elizabeth embarca:
silêncio sobre o trote
Foto da Agência France-Press (AFP) publicada com a matéria
TROTE NA RAINHA
Elizabeth II encontra Chrétien. O verdadeiro
A rainha da Inglaterra, Elizabeth II, viajou ontem para
a Nova Zelândia para se encontrar com o primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien - o verdadeiro. Elizabeth, que na última
sexta-feira levou um trote telefônico de um radialista canadense que fingiu ser o primeiro-ministro, vai se reunir com
Chrétien durante o encontro bienal dos líderes dos 50 países da Commonwealth, a comunidade liderada pela Grã-Bretanha. A
cúpula começa dia 10 de novembro.
Nem Chrétien, nem Elizabeth fizeram comentários em público sobre a gafe histórica que o
Palácio de Buckingham cometeu ao passar para a rainha a ligação de Pierre Brassard. O jovem radialista, um separatista de
Montreal (Quebec), colocou no ar a conversa que teve com a rainha. Funcionários do palácio ordenaram apurações para descobrir
como o trote foi possível, mas descartaram um inquérito formal.
Brassard avisou com antecedência o Palácio de Buckingham sobre um telefonema do
primeiro-ministro. Os funcionários, aparentemente, verificaram a informação telefonando a representantes de baixo escalão do
governo canadense, que acabaram confirmando a previsão. Brassard, imitando Chrétien, pediu que a rainha fizesse um
pronunciamento pela tevê contra a secessão da província de Quebec. A rainha prometeu ajudar.
Ontem foi a primeira vez que a rainha viajou num vôo comercial - num avião da companhia
aérea da Nova Zelândia. O país, obrigado a financiar as viagens dos líderes porque é anfitrião da cúpula, pediu que Elizabeth
viajasse assim para economizar dinheiro. A comitiva da rainha ocupou toda a primeira classe. |