O herói da Mantiqueira
O coronel Mário da Veiga Abreu e
seu Estado Maior no setor da Mantiqueira
Imperecível a chama dos ideais de 9 de Julho - O coronel Mário da
Veiga Abreu, cognominado o Duque de Cunha, considera oportunas as comemorações anunciadas em São Paulo, rememorando o Movimento
Texto de Barbosa Nascimento
Cercado pelo carinho da filha e dos
netos vivos, hoje, numa casa ajardinada da Rua Mário Barreto, na Tijuca, um herói gaúcho da Revolução Constitucionalista de
1932. Dele disse ao repórter o general Bertoldo Klinger: "O coronel Mário da Veiga Abreu foi um gigante no comando do Setor da
Mantiqueira".
O bravo militar, no decorrer da entrevista, que começou à noite e
se prolongou pela madrugada do dia seguinte, feriu de frente todos os aspectos da epopéia paulista e frisou que a bandeira da
liberdade desfraldada em 9 de julho de 1932 continua tremulando como um sinal de alerta à consciência cívica dos brasileiros.
Ponderou o coronel Mário Abreu que a situação do Brasil é, atualmente, idêntica à daquela época.
"Vivemos num caos. E as comemorações programadas para o 9 de
julho, em São Paulo, constituem, evidentemente, uma advertência oportuna aos homens públicos dessa hora conturbada", objetivou o
antigo comandante do Setor da Mantiqueira.
Página honrosa - O coronel Mário da Veiga Abreu fora
cognominado pelos seus companheiros da Revolução de Duque de Cunha. Homenagem dos revolucionários ao bravo da
Mantiqueira. Ele relembra com modéstia os seus feitos, mas enaltece a coragem, o desprendimento e o estoicismo de seus
comandantes e dos demais chefes da Revolução Constitucionalista. Não esconde, entretanto, o seu orgulho, quando alude às
referências que a seu respeito fez o saudoso Armando de Sales Oliveira, em discurso pronunciado na cidade de Guaratinguetá, em
12 de outubro de 1934.
Descrevendo os desesperados esforços que os revolucionários faziam
para recompor a situação, assinalada com êxito das forças governistas, lembra o sr. Armando Sales a brilhante ação da tropa sob
o comando do coronel Mário da Veiga Abreu. É uma página que honra a qualquer um. Para o Duque de Cunha, ela vale pelo seu maior
galardão. Sua transcrição é necessária para edificação da História:
"Para que nem tudo fosse sombra, uma rajada de alegria soprou mais
ou menos na mesma ocasião sobre as trincheiras paulistas, à notícia de uma brilhante vitória no setor de Cunha. Na hora em que
os adversários procuravam cortar a retaguarda de nossas forças, estas desencadearam um ataque brusco e firme. Conseguindo ocupar
o espigão do Divino Mestre, as nossas tropas impediam definitivamente qualquer incursão pela estrada de Parati a Cunha. Os
risonhos vales e as lombas suaves da serra do Mar encheram-se do eco das aclamações que o povo paulista erguia - deslumbrado por
aquele súbito luar na noite negra do seu tormento. A bela vitória foi dirigida e conquistada pelo coronel Mário Abreu,
comandante do setor. Não desejaria citar nenhum nome nesta leve evocação daqueles dias heróicos. Mas, abrindo para o ilustre
oficial uma exceção, eu presto uma homenagem aos homens de outros Estados que puseram a sua vida e o seu futuro em uma causa
que, se era essencialmente brasileira, sob muitos aspectos só pertencia a São Paulo".
Fora da política - O antigo comandante do Setor da
Mantiqueira foi revolucionário de 1922 e de 1930. Dois anos depois, desencantado com a conjuntura política do país,
compreendendo que haviam sido postergados os ideais pelos quais lutou, desembainhou mais uma vez a sua espada para, ao lado do
povo paulista, defender a lei. Ao término da gloriosa arrancada, integrou-se novamente na vida da caserna. Do coronel Mário
Abreu disse ainda Armando de Sales Oliveira:
"Fiel aos ideais de servir o Exército como a mais poderosa força
de coesão brasileira, ele se pôs à margem das lutas partidárias e subordina seus passos aos imperativos do dever patriótico".
Eis, em síntese, o pensamento do coronel Mário da Veiga Abreu:
"A chama dos ideais da Revolução de 9 de julho arde imperecível no
coração dos paulistas em particular, e dos brasileiros em geral. Não foram em vão, que centenas de vidas se perderam no solo de
Piratininga".
Foto recente
(N.E. - 1954) do coronel Mário da Veiga,
em sua residência, ladeado pelos seus netos
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