João Luso
Faleceu nesta cidade no dia 6 de janeiro o escritor João Luso, antigo redator do Jornal do Comércio e membro
correspondente da Academia Brasileira de Letras.
João Luso representava uma nobre e fúlgida tradição literária. Tendo iniciado aos 18 anos sua atividade jornalística, ele a prolongou vivazmente até aos seus 75 anos, que foi a idade com que faleceu. Nesse longo exercício da pena, versou
numerosos gêneros: o conto, a crítica, o teatro, a meditação filosófica, o diálogo, a memória, o discurso acadêmico. Mas foi sobretudo como cronista – e principalmente nos seus excelentes rodapés Dominicais do Jornal do Comércio
que ele se firmou, que ele se tornou credor do amor dos belos espíritos.
A Academia Brasileira de Letras chamou-o – 22 de dezembro de 1932 – para um dos seus fauteils estrangeiros, fazendo-o sucessor de Jaime de Sequeira. Juntamente com Serafim
Leite, ele como que representava na ilustre corporação brasileira esse delicado laço cultural que prende o nosso país às suas velhas origens lusitanas.
João Luso – Armando Erse de Figueiredo – nasceu em Lousã, distrito de Coimbra, em 12 de junho de 1875, e era filho de Joaquim José Erse e d. Maria da Piedade de Figueiredo Erse. De
1887 a 1892 fez o curso de Preparatórios do Liceu de Coimbra. Veio para o Brasil em janeiro de 1893, dirigindo-se para São Paulo, onde ingressou na carreira comercial. Em 1894, já sob o pseudônimo de João Luso, estreou-se no Diário Popular,
de São Paulo, colaboração exclusivamente literária, feita nos curtos lazeres da vida comercial, então laboriosíssima. Depois escreveu contos e crônicas para o Estado de São Paulo, Correio Paulistano, Reporter, Revista
Literária, Paulicéa etc.
Em 1898 entrou definitivamente para o jornalismo, como secretário do Diário de Santos. Veio para o Rio de Janeiro em 1900, e alguns meses depois foi feito secretário da
Imprensa, de Rui Barbosa (segunda fase). Em 1901 entrou para o Jornal do Comércio, como repórter policial. Em 15 de setembro do mesmo ano publicou o primeiro folhetim Dominicais.
Em 1911 foi representada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a peça de sua autoria Nó Cego, premiada pela Academia Brasileira de Letras em concurso aberto entre escritores
brasileiros ou residentes no Brasil há mais de dez anos. Os originais dessa peça, cuja edição fora adquirida pela Casa Garnier, extraviaram-se em Paris ou em viagem, durante a Grande Guerra.
Entrou para a Revista da Semana em 1920. Colabora n'A Noite, desde 1932. Membro da Associação Brasileira de Imprensa do Sindicato de Jornalistas Profissionais, do P. E.
N. Clube do Brasil, da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais e da Sociedade Brasileira de Críticos Teatrais.
Em 1939, requereu e obteve o título declaratório dos direitos de cidadão brasileiro.
Possuía as seguintes condecorações:
Oficialato da Ordem de Santiago da Espada, Portugal.
Comenda da Ordem do Cruzeiro do Sul, Brasil.
Além do pseudônimo de João Luso, Armando Erse usou vários outros – como Clara Lúcia e Leopoldo Maia.
Bibliografia de João Luso:
Contos da minha terra, 1896.
Prosa, 1904.
Histórias da vida, 1907.
O amor, tragédia e farsa, 1907.
Ao sol e à neve, 1909.
Elogios, 1916.
As entrevistas de Expedito Faro, 1917.
Comédia urbana, 1920.
Reflexo do Rio, 1923.
Os Menezes de Haddock Lobo, 1925.
O despenhadeiro, 1925.
Contos de Natal (1ª ed.), 1930.
Viajar, 1932.
Terras do Brasil, 1933.
Ares da cidade, 1935.
Alegria e ternura, 1935.
Os animais, vossos irmãos, 1937.
Vocês, criminosos, 1938.
Assim falou Polidoro, 1941.
Orações e palestras, 1941.
Fruta do tempo, Editora A Noite – 1945.
Além desses livros tem feito dezenas de traduções e outros trabalhos de teatro.
Traduções assinadas:
Jesus Cristo, de Monsenhor Bougaud, 1908.
Fábulas do meu Jardim, de Georges Duhamel, 1937.
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