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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.PRADO
Almeida Prado (4)

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Em 2013 a Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP) divulgou em seu site um disco com diversas obras de Almeida Prado (acesso: 18/1/2014):

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Almeida Prado [1943-2010]

Gravado em fevereiro de 2013 na Sala São Paulo. Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo - Celso Antunes - regente/Cláudio Cruz - violino. Clique para obter os arquivos, em formato MP3:

Sinfonia nº 2 - Dos Orixás: Suíte [1985]
01. Chamado aos Orixás - Ritual Inicial [01'56 - 4,54 MB]
02. Obatalá - O Canto do Universo [01'01 - 2,45 MB]
03. Ifá - O Canto da Adoração [00'24 - 1,03 MB]
04. Ogum-Obá - A Dança da Espada e do Fogo [02'55 - 6,82 MB]
05. Ibeji - Cantiga Para Cosme e Damião [04'19 - 10,0 MB]
06. Oxalá II - O Jogo dos Búzios [03'10 - 7,36 MB]
07. Iansã - O Canto da Paixão [02'28 - 5,77 MB]
08. Xangô II - O Canto das Tempestades, dos Raios e Coriscos [02'04 - 4,86 MB]
09. Oxumarê - O Canto do Arco-íris [00'38 - 1,58 MB]
10. Ritual Final [01'13 - 2,91 MB]
Fantasia para Violino e Orquestra [1997]
11. Allegro Molto [00'39 - 1,61 MB]
12. Calmo [00'57 - 2,31 MB]
13. Scherzo [03'19 - 7,70 MB]
14. Poético, Lírico [01'28 - 3,49 MB]
15. Interlúdio - Andante [00'46 - 1,90 MB]
16. Adagio [05'02 - 11,6 MB]
17. Allegro Molto (fugato) [01'21 - 3,21 MB]
Estudos Sobre Paris: Suíte [2009]
18. Canal de l'Ourcq [03'59 - 9,24 MB]
19. Près de l'Île Saint-Denis [01'45 - 4,13 MB]
20. Le Bassin de la Villette [02'16 - 5,32 MB]
21. Le Canal Saint Martin [01'46 - 4,17 MB]
22. Le Quartier Montparnasse [03'54 - 9,05 MB]
23. L'Opéra [01'32 - 3,63 MB]
24. Notre Dame de Paris [03'14 - 7,53 MB]
25. Le Jardin du Luxembourg. Fontaine Médicis. Les Poètes: Leconte de Lisle, Sainte-Beuve [03'12 - 7,47 MB]

Duração: 55’23’’ - Ano: 2013

Nascido em Santos, em 1943, José Antônio Rezende de Almeida Prado foi um dos principais compositores brasileiros da segunda metade do século XX e da primeira década do século XXI. Sua obra abrange diversas instrumentações, com grande destaque para o piano, seu instrumento, mas também com incursões por uma gama que vai do violão solo até grandes formações orquestrais, passando pelo coro, diversos instrumentos solistas e música de câmara.

A obra de Almeida Prado pode ser dividida em três grandes períodos
[01]. As peças de juventude, marcadamente nacionalistas, demonstram uma forte influência de Camargo Guarnieri, então seu professor de composição. O segundo período tem início em 1965, quando Almeida Prado rompe com Guarnieri e passa a absorver e utilizar as tendências da vanguarda europeia.

Foram os anos em que conseguiu se projetar como compositor, principalmente depois de vencer o concurso de composição da Guanabara em 1969. Em seguida, mudou-se para Paris, onde estudou com Nadia Boulanger e Olivier Messiaen.

 

A partir de 1983, tem início o terceiro período, em que o compositor passa a mesclar os elementos e técnicas desenvolvidos anteriormente, tais como tendências vanguardistas, elementos da música tonal e referências aos ritmos e modos da música brasileira e a fontes religiosas, principalmente textos católicos e ritmos e melodias do candomblé.

 

É nesta fase de síntese que se encontram as três obras deste CD, separadas por períodos equidistantes de doze anos: a Sinfonia dos Orixás (1985), a Fantasia Para Violino e Orquestra (1997) e, finalmente, Études sur Paris (2009).

 

Composta entre 1984 e 1985, por ocasião da comemoração dos dez anos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Sinfonia dos Orixás foi construída originalmente em três movimentos: Chamado dos Orixás (Ritual Inicial), Manifestação dos Orixás e Ritual Final. O corpo principal da obra é o movimento central, dividido em dezessete partes, em que são ouvidos quinze cantos dos orixás e dois interlúdios. Apesar destas divisões, a música transcorre sem interrupções, do início ao fim. Muitos dos seus motivos melódicos e rítmicos foram baseados em pontos recolhidos por sua mulher, Helenice Audi, que frequentava um centro de umbanda.

Se observada em sua estrutura geral, a Sinfonia dos Orixás assemelha-se a uma suíte, com um movimento introdutório e outro conclusivo. No entanto, a maneira como o compositor construiu o desenvolvimento temático da peça justifica a escolha pela denominação de sinfonia.

Dois temas dialogam por toda a obra. O tema dos orixás femininos surge de um motivo de três notas, logo no início do primeiro movimento, e vai se construindo ao longo da Sinfonia. Já o tema dos orixás masculinos sofre o processo inverso: é apresentado como um tema completo e vai se diluindo até o movimento final.

Em 2010, o maestro Carlos Moreno idealizou e organizou uma suíte da Sinfonia dos Orixás, estreada, sob sua regência, com a Orquestra Sinfônica de Santo André, uma semana após a morte do compositor. Os movimentos inicial e final permaneceram inalterados, tendo a reorganização incidido apenas sobre a Manifestação dos Orixás. Das dezessete partes, oito foram mantidas.

Na Suíte, gravada aqui pela Osesp, temos uma introdução e uma conclusão, com uma sequência de cantos no movimento central, independentes do desenvolvimento temático. Fluem as melodias de fácil reconhecimento, que se sucedem e se sobrepõem, mas o destaque está na escrita rítmica e na ampla seção de instrumentos de percussão. O extenso movimento central apresenta uma grande variação de ambientes, como o breve e quase estático Ifá, o pulsante Ogum-Obá e o lírico Ibeji.

Manifestação dos Orixás se conclui com Oxumarê, preparando o Ritual Final. Neste movimento os instrumentos entram em grupos: primeiro os metais, seguidos das cordas, da percussão e das madeiras. Cada um deles toca um motivo e o repete incessantemente até que todos se encontrem em um brilhante e sonoro acorde que encerra a Sinfonia.

Encomendada pelo Instituto Municipal de Arte e Cultura — Rio Arte, do Rio de Janeiro, a Fantasia Para Violino e Orquestra foi composta em um período de pouco mais de um mês, entre abril e maio de 1997. No mesmo ano, foi estreada pela Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência de Roberto Tibiriçá, na Sala Cecília Meireles, tendo como solista a filha do compositor, Constança de Almeida Prado, a quem a obra foi dedicada. Na época, sua filha mais velha, Ana Luiza, pintou um quadro inspirado na técnica composicional da permutação, utilizada por Almeida Prado no Scherzo da Fantasia.

A peça está estruturada em sete breves movimentos, que se sucedem sem interrupção. Logo na introdução, o material que dá unidade à obra é apresentado pelas cordas em uníssono. Trata-se de uma série de sete sons, cujas quatro primeiras notas foram extraídas do início do tema da Grande Fuga Op. 133, de Beethoven. Segue-se o Calmo, um coral de madeiras e vibrafone intercalado pelo solo do violino. Seu final com os tom-tons prepara a entrada do Scherzo.

O Scherzo e o Adagio são os movimentos mais extensos da Fantasia e formam seus pilares centrais. O primeiro apresenta uma interessante estrutura, na qual o solista improvisa sobre acordes que vão se repetindo em ordens trocadas. O Adagio é o momento mais lírico da peça, quase todo em piano. Entre estes movimentos, Almeida Prado escreveu uma cadência pouco usual. Em vez de ser um momento de virtuosismo, somente para o solista, ela está dividida entre o violino e a seção de percussão. Após a cadência — e antes do Adagio — há um Interlúdio, escrito para os instrumentos de sopro.

O movimento final foi composto em estilo fugato, no qual a série de sete notas apresentada no início da Fantasia funciona como tema que vai sendo exposto em sequência por cada um dos naipes da seção das cordas e, por fim, pelo solista. Após a sua última entrada, encerra-se o fugato e começam a ser ouvidos motivos dos movimentos anteriores, que preparam o final.

Études sur Paris foi uma das últimas composições de Almeida Prado, escrita em 2009 por encomenda da Osesp (maestro John Neschling) e da Sociedade Amigos da Cinemateca, para servir de trilha sonora ao filme silencioso homônimo de André Sauvage, de 1928. A suíte presente nesta gravação foi proposta e estreada pelo violinista e maestro Cláudio Cruz, e dura cerca de um terço da trilha completa escrita para o filme.

Acompanhando as cenas retratadas no filme, cada movimento da suíte recebeu o nome de algum lugar da cidade de Paris. Procurando retratar os diversos ambientes, Almeida Prado nos apresenta uma grande diversidade de estilos de escrita. As referências extramusicais são muito claras, com alusões a distintos personagens, locais e épocas da cidade. A imagem sonora do fluir das águas marca Canal de L’Ourcq e o contorno melódico do famoso Can-can, que Offenbach escreveu para sua opereta Orfeu no Inferno, aparece em Ópera. Como o primeiro movimento, Près de l’Ile Saint-Denis é indefinido tonalmente, mas a pulsação rítmica com deslocamentos de acentos contrasta com a textura melódica em movimento contínuo, evocadora das águas do canal.

Se em Le Bassin de la Villete o compositor se utiliza da escrita simultânea de duas tonalidades, característica marcante de Darius Milhaud, em Le Canal Saint-Martin ele nos traz à memória a música de compositores conhecidos como impressionistas, como Debussy e Ravel. Mas as referências musicais não se limitam ao início do século XX. Um dos principais monumentos da cidade de Paris, datado do século XII, a catedral de Notre Dame, é retratado por meio da escrita no estilo medieval. Além de a música ser composta como um organum paralelo, identificamos também os finais de frase com cadências características da polifonia vocal de Machaut.

Apesar de escrever para uma orquestra sinfônica convencional, Almeida Prado introduz em Le Quartier Montparnasse um acordeão francês para reconstruir a ambientação sonora deste bairro parisiense, reduto de artistas e intelectuais no período entre guerras. O solo de acordeão, escrito em linguagem tonal, é o ponto de maior lirismo desta peça. O tema foi composto originalmente para o Andante Lírico nº 2, de 1996.

A obra se encerra com uma homenagem explícita a Olivier Messiaen, tido por Almeida Prado como seu grande mestre. Logo no início do último movimento, o vibrafone toca uma escala criada pelo próprio Messiaen, que ele denominou de Modo 5 e que Almeida Prado deixa explicitamente anotada na partitura. A seguir, o compositor explora um elemento rítmico característico do francês, marcado pelos deslocamentos do tempo forte, sobre o qual a orquestra toca em uníssono.

Almeida Prado escreveu Études sur Paris com muita liberdade e inventividade, sem receio de fazer referências diretas a outros compositores. Mais do que uma linguagem, o compositor nos propõe uma pluralidade de estilos derivados da música tonal, modal, bitonal e atonal, em diversas texturas, compondo um conjunto ao mesmo tempo variado e coeso.

CARLOS FIORINI
Regente e professor de regência do Departamento de Música da Unicamp.


[01] Periodização proposta por Fábio Scarduelli, em sua tese de doutorado Khamailéon: Fantasia para violão e orquestra de Almeida Prado (Unicamp, 2009).

Partituras de Almeida Prado:

Preambulum (completa)

Exoflora (produzida em Cubatão/SP. Página inicial)

Concerto para oboé e cordas (página inicial)

Da carta de Pero Vaz de Caminha (página inicial)

Gravuras sonoras a D. João VI (página inicial)

Oré-Jacytatá (página inicial)

N.E.: algumas partituras são protegidas por direitos autorais, sendo por isso apresentada apenas a página inicial. A versão integral pode ser obtida através do site da  Academia Brasileira de Música. As partituras acima são apresentadas tal como foram divulgadas no site Musica Brasilis, consultado em 18/1/2014.

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