CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA -
M.GRUBER
Mário Gruber (2)
Nascido em Santos em 1927, e falecido em
Cotia/SP em 28 de dezembro de 2011, Mário Gruber Correia foi pintor, escultor, gravador e muralista, tendo começado a pintar aos 16 anos, em 1943. Seu
nome se tornou verbete na enciclopédia virtual Wikipedia (acesso em 3/1/2012):
Mário Gruber
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mário Gruber Correia (Santos, 1927 - Cotia,
28 de dezembro de 2011) foi um pintor, gravador, escultor e muralista brasileiro [01]
[02].
Vida -
Começou a pintar em 1943. Entrou para a Escola de Belas Artes de São Paulo em 1946, e no ano seguinte ganhou
o primeiro prêmio de pintura na exposição do grupo 19 Pintores. Em 1948, fez sua primeira exposição individual.
Estudou gravura com Poty e trabalhou com Di Cavalcanti e Cândido Portinari.
Em 1949, graças a uma bolsa de estudos, mudou-se para Paris, onde estudou
na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts, sendo aluno do gravador Édouard Goerg. Voltou para o Brasil em 1951, quando fundou em Santos o
Clube de Gravura, que mais tarde se chamaria Clube de Arte. Foi professor no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Fundação Armando
Álvares Penteado. A partir de 1979, depois de uma breve passagem por Olinda, passou a dividir suas atividades entre as cidades de São Paulo,
Paris e Nova York [03] [04].
Morreu aos 84 anos, numa clínica geriátrica em Cotia, onde estava internado para se tratar de complicações
causadas por um câncer.
Obra - Depois de um início de
carreira marcado pelo Expressionismo, Gruber dedicou-se a obras de realismo social na década de 50, ao lado de seus companheiros do Clube de
Gravura. Nos anos 70, experimentou recursos fotográficos, ao mesmo tempo que assimilava influências da televisão e do cinema.
Mais tarde, suas composições passaram a apresentar personagens como anjos e robôs,
vinculando-se ao realismo fantástico latino-americano [05].
Colaborou com o arquiteto Vilanova Artigas criando os painéis da Casa dos Triângulos, da Galeria Califórnia
e do Ginásio Estadual de Guarulhos. Também criou os painéis do Aeroporto Internacional de Cumbica e da Estação Sé do Metrô de São Paulo.
Telas de Mário Gruber compõem o acervo de museus como o Wisconsin State Museum College Union, o Museu
Pushkin (Moscou), o MASP, o Museu de Arte Brasileira (São Paulo) e o Museu da Bahia (Salvador).
Cinema -
Em 1966, o artista foi tema do documentário de curta-metragem
Mário Gruber, dirigido por Rubem Biáfora. Com música de Rogério Duprat, o filme recebeu o prêmio de melhor curta do Instituto Nacional
do Cinema naquele ano [06].
Outro cineasta que dedicou um filme à sua obra foi Nelson Pereira dos Santos, também com
um documentário de curta-metragem: A Arte Fantástica de Mário Gruber,de 1982 [07].
A última participação de Gruber nas telas foi como um dos artistas apresentados no curta
Schenberguianas (2006), de Sergio Oliveira e William Cubits, que mostrou a relação da arte com o trabalho do físico Mário Schenberg
[08].
Referências
|
Notícia do Instituto de Artes da Unicamp (acesso em
3/1/2012): |
Imagem publicada com a matéria
Galeria do IA apresenta
MARIO GRUBER
Mario Gruber nasceu em Santos em 1927 e começou a pintar em 1943, como
autodidata. Tornou-se profissional aos 20 anos de idade, quando participou da Exposição Grupo dos 19 e júri, formado por Lasar Segall, Anita
Malfatti e Di Cavalcanti, conferiu-lhe o primeiro prêmio em pintura.
Em 1949, com bolsa de estudos oferecida pelo Governo Francês, viaja a Paris, onde
aperfeiçoa seus estudos de gravura em metal. Em 1951 retorna ao Brasil, quando funda, em Santos, o Clube de Gravura, mais tarde Clube de Arte
marcando o início de sua participação na vida artística e cultural brasileira. Em 1953, convocado por Gabriela Mistral, Diego Rivera e Pablo
Neruda participa como delegado no I Congresso Continental de Cultura, no Chile.
A partir dessa data os prêmios e as exposições nacionais e internacionais se
acumulam e sua obra motiva a realização de dois curta-metragens, um deles exibido no Festival de Cinema de Veneza, em 1967, direção de Rubens
Biáfora, ganhador do Prêmio Governador do Estado; o segundo - "A Arte Fantástica de Mario Gruber", dirigido por Nelson Pereira dos Santos -,
1982.
Gruber tem telas em vários museus brasileiros e internacionais, como o Wisconsin
State Museum College Union, USA; Museu Poushkin, Moscou, URSS; Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, SP; Museu de Arte Brasileira, São Paulo,
SP; Museu de Bahia, Salvador, BA e outros.
Sua participação em obras de arquitetura, a convite de seus autores, vem de longa
data, destacando-se nas obras do arquiteto Vilanova Artigas, os painéis da "Casa dos Triângulos" na Galeria Califórnia, no Ginásio Estadual de
Guarulhos, e mais recentemente marcando sua posição de vanguarda no realismo fantástico brasileiro - os grandes painéis no Aeroporto
internacional de Cumbica e na Estação Sé do Metrô de São Paulo.
Em 1970, monta atelier de pintura e gravura em São Paulo, considerado um dos
maiores e mais completos da América Latina; em 1974 transfere-se para Paris onde reside até 1978, voltando ao Brasil e montando atelier em
Olinda, onde então o seu habitual rigor técnico e domínio pictórico se defronta com a intensidade luminosa do Nordeste e os quase cinco séculos
de tradição cultural nordestina.
Em 1979, de volta a São Paulo, rigoroso em seu ofício, revelando como sempre,
suas preocupações com as questões sociais brasileiras e latino-americanas, mantém intenso ritmo de trabalho, expondo em galerias séries de
gravuras e pinturas, culminando em 1989 com o grande painel em grés, na Biblioteca do Memorial da América Latina.
Conversa com Mario Gruber na Galeria
de Arte IA/UNICAMP
Fotos de Maria Lucia Fagundes - 12/9/2005 |
Notícia no
Jornal da Unicamp
(edição 302 - 19 a 25 de setembro de
2005 -
acesso em 3/1/2012): |
Histórias de um sobrevivente
LUIZ SUGIMOTO
O artista
plástico Mario Gruber, cujas obras
ficam expostas na Galeria da Unicamp
até 30 de setembro: "Produzindo mais
do que nunca" (Foto: Antoninho Perri)
Sobrevivente
é o nome da exposição que fica
aberta até 30 de setembro na Galeria
de Arte da Unicamp. Mario Gruber é o
sobrevivente. Pintor, ceramista,
gravador, escultor, muralista,
desenhista, cenógrafo e professor,
hoje com 78 anos, o artista conviveu
com grandes personalidades desde o
Modernismo até os dias atuais – Di
Cavalcanti, Portinari, Mario
Schenberg, Florestan Fernandes,
Antonio Candido, Neruda, Cortázar,
apenas para citar alguns – e gosta
de contar suas histórias sempre que
se lembram dele. “A mostra traz uma
produção recente e autobiográfica.
Chama-se Sobrevivente porque
convivendo com Mario em seu ateliê,
percebi o drama de um homem
praticamente octogenário, que sabe
de sua importância e sabe também da
perversidade com que o meio trata os
grandes artistas no Brasil”, afirma
o artista visual Saulo Di Tarso. Sem
que seja este seu ofício, é por
deferência ao mestre que Di Tarso
tem assumido a curadoria das
exposições, trazendo para a Unicamp
20 telas dentre 100 que estão nas
mãos de um único colecionador.
No último dia 12,
enquanto acertava os detalhes para a
abertura da mostra, o professor
Antonio Carlos Rodrigues, o Tuneu,
coordenador da Galeria de Arte,
resumia sua opinião sobre o artista
que estava para chegar. “Mario
Gruber faz parte de uma geração de
desbravadores. Ele, Aldemir Martins,
Marcelo Grassmann e outros artistas
amigos de Ciccillo (Francisco
Matarazzo Sobrinho, fundador do
Museu de Arte Contemporânea)
montaram as primeiras bienais
literalmente no braço. Abriram
espaço para um mercado profissional
que foi se constituindo nos últimos
50 anos e, nesse sentido, são nossos
heróis. Sou de uma geração que
aprendeu a apreciar desenhos no
suplemento literário do ‘Estadão’,
que todos esses desenhistas e
gravadores ilustraram”, recorda.
Auto-retrato dos anos 60: "Gravura
em preto-e-branco é como música de
câmera e a pintura tem o som de
orquestra sinfônica" (Foto:
Divulgação)
Ao
leitor, este espaço permite oferecer
apenas uma pincelada da trajetória
de Mario Gruber. Ele nasceu em
Santos, em 1927. Autodidata em
pintura, estudou escultura com
Nicola Rollo, gravura com Poty,
pintura mural com Diego Rivera, foi
pupilo de Édourd Goerg em Paris.
Conheceu gente como Mario Zanini e
Bonadei quando pintava em praça
pública. Trabalhou com Di Cavalcanti
em 1948. Fundou o Clube de Arte de
Santos e a União dos Artistas
Plásticos de São Paulo. Ensinou no
Museu de Arte Moderna, na Fundação
Armando Álvares Penteado e, na
década de 70, montou oficina onde
trabalharam artistas como Wesley
Duke Lee e Frederico Nasser. A
partir de 1979, montou ateliê em
Nova York, dividindo suas atividades
entre esta cidade, Paris e São
Paulo. Nelson Pereira dos Santos o
homenageou em 1982, com o
curta-metragem A Arte Fantástica de
Mário Gruber.
Entrevista
– Desculpando-se pelo atraso,
Mario Gruber preferiu conceder a
entrevista do lado de fora da
Galeria da Unicamp, onde podia
acender a cigarrilha. Antes, um
único pedido: ser chamado de “você”.
Estando bastante disponíveis as
referências sobre suas obras e
técnicas, interessava que o artista
falasse de sua vida, apesar do tempo
obviamente exíguo até a cerimônia de
abertura. “São sessenta anos de
carreira”, alertou. Ainda assim, em
40 minutos, Mario Gruber discorreu
sobre o Modernismo, o Grupo Santa
Helena e o Grupo dos 19, ao qual
Tuneu atribui o mérito de iniciar o
processo de profissionalização nas
artes plásticas.
“Na minha
época o trabalho artístico era uma
vida de pobreza, ainda mais para nós
jovens. Alguns saíam para a
publicidade, outros persistiam.
Mario de Andrade, em trabalho que
ficou inédito até pouco tempo, disse
que a escola paulista teve origem
proletária. Volpi, Rebolo, Manuel
Martins, Carnicelli vinham da classe
trabalhadora; só depois a arte se
abriu para os Jardins e a burguesia
industrial paulista”, recorda Mario
Gruber. No grupo que denominou de
“artistas proletários”, Mario de
Andrade lembrava que Volpi, Rebolo e
Zanini, por exemplo, eram pintores
de parede; Rizzotti, torneiro;
Bonadei, bordador; Pennacchi,
açougueiro; Manuel Martins, aprendiz
de ourives.
Gruber
explica que depois do movimento
modernista predominava o Grupo de
Santa Helena. A sua geração, com
talentos como Marcelo Grassmann,
Otavio Araújo e Sacilotto, surgiria
no momento em que se processava a
formação dos museus de arte moderna
de São Paulo, decorrência de uma
disputa entre Assis Chateaubriand e
Ciccillo Matarazzo, sendo que o
desfrutava do apoio de Nelson
Rockfeller, com o qual mantinha
relações comerciais. “Hoje tenho
consciência de que, se museus
estavam sendo germinados,
precisava-se de artistas. Foi com
foco nos museus que a União Cultural
Brasil-Estados Unidos convocou minha
geração para mostrar o que estava
sendo produzido”, comenta.
A
exposição dos 19 pintores em 1947,
na Galeria Prestes Maia, foi um
acontecimento social e cultural, com
apresentação no recinto da peça
Vestido de Noiva, de Nelson
Rodrigues. E foi quando, aos 20 anos
de idade, Mario Gruber ganhou o
primeiro prêmio de um júri que tinha
Di Cavalcanti, Anita Malfatti e
Lasar Segall. “O segundo colocado
foi Aldemir Martins e, o terceiro,
Cláudio Abramo, que nunca assumiu
sua condição de artista gráfico de
primeira qualidade e saiu para o
jornalismo, dando no que deu. De
certa maneira, passamos a ser
considerados artistas de vanguarda”,
acrescenta o artista.
Efervescência – Segundo Mario
Gruber, era um momento de
efervescência nas artes visuais, o
que atribui não apenas à expectativa
da realização de bienais, mas também
a outros vetores, como o alívio pelo
fim da guerra e a motivação para a
reconstrução das cidades. “Era uma
terra virgem para se plantar”,
observa. Bom momento que, no
entanto, não implicou em imediata
profissionalização dos artistas.
“Sobrevivi graças a ligações
culturais e afetivas na
universidade, principalmente na
sociologia, onde estavam amigos como
Roger Bastide e Florestan Fernandes.
Florestan comprava minhas gravuras,
assim como médicos. Eu também tinha
um primo professor, casado com uma
prima-irmã, chamado Antonio Candido
de Mello e Souza”, conta.
Na
efervescência emergiram alguns
movimentos de arte, como o movimento
concreto, que atraiu Sacilotto,
Grassmann e Octavio Araújo. A
propósito das tendências, Mario
Gruber aproveita para corrigir um
erro dos historiadores, que atribuem
influência exagerada de Tarsila do
Amaral sobre o Grupo dos 19, que na
verdade tinha vários entusiastas do
expressionismo alemão. “Di
Cavalcanti dizia que eu viria a ser
um pintor próximo de Courbet. Não se
isso se deu, mas é fato que eu já
estava mais interessado em arte
social. Acabei me engajando em
movimentos políticos, onde a
utilização da arte foi breve. Fiquei
do Partido Comunista por 30 anos”,
informa.
Em 1951,
quando voltou dos dois anos de
estudos em Paris, Mario Gruber
encontrou a pintura abstrata em
evidência e, não por acaso, Di Prete
seria o ganhador das primeiras
bienais. “No Clube dos Artistas,
Flávio de Carvalho, Di Cavalcanti e
outras figuras expressivas do
modernismo andavam cabisbaixos e
sorumbáticos. Essa tendência só
desapareceu quando eu, Vilanova
Artigas e Waldermar Cordeiro metemos
o pé na porta do museu, defendendo
que a arte contemporânea possuía
várias tendências e que uma bienal
deveria cumprir o papel de mostrar
tudo o que acontecia em nível
mundial. Veio então aquela belíssima
exposição da pop art, com
Lichtenstein, Andy Warhol,
Rauschenberg, Jasper Jonhs, e as
bienais passaram a efetivamente
influir no meio artístico”, recorda.
Mario Gruber
ilustrou as grandes greves de 1952,
que pipocaram pelo país a pretexto
da fome e da carestia, mas que na
verdade tinham cunho político
antiimperialista. Segundo ele, foi
Mario Schenberg, seu crítico, quem
percebeu a sua perda de ambição pela
arte de caráter social no decorrer
do tempo. “Comparo minha atividade
daquela época à de um escritor que
faz jornalismo. Assim como romance é
um trabalho mais longo e denso, que
não pode ser jornalístico, passei a
considerar minha pintura e gravura
como romance e não como jornalismo”,
comenta. Há alguns anos, Gruber fez
outra analogia que ficou marcada:
“Para mim, a gravura em metal em
preto-e-branco é música de câmara,
enquanto a pintura tem o som da
orquestra sinfônica”.
Memórias –
Músicos da Unicamp já abriam a
exposição na Galeria e Mario Gruber
não teve tempo para falar dos
amigos. “Fui protagonista de muita
coisa e conheci muita gente,
inclusive alguns prêmios Nobel.
Infelizmente, as pessoas estão
morrendo e não tenho testemunhas do
que eu digo”, lamenta. Já pensou em
escrever um livro de memórias, mas
não vê como, já que produz entre 100
e 120 quadros por ano. Calcula-se
que o total de obras na carreira,
considerando a gravuras, chegue a 12
mil. “Como não tenho talento para
guardar dinheiro, estou produzindo
mais do que nunca. Vivo da pintura.
Se não pinto, não como, embora não
seja um grande comilão”, brinca.
Quanto a um
livro, o fiel amigo Saulo Di Tarso
revela que já está organizando uma
trilogia intitulada Mario Gruber e a
metafísica dos planos, que espera
lançar em 2007, comemorando os 80
anos do artista. O primeiro volume
contará a trajetória do artista:
biografia, obra gráfica, pinturas,
personalidades com quem ele cruzou e
trocou idéias; o segundo tratará de
pintura; e o terceiro volume terá
imagens de seus ateliês. “Sua outra
grande obra foram os ateliês que
montou, sem paralelos na América
Latina. Eram espaços para exposição
de outros artistas e de encontro
para reflexões”, afirma Di Tarso,
que guarda uma opinião definitiva
sobre Mario Gruber: “Ele tem a
envergadura de um Portinari”.
|
Notícia do
portal Universo On Line (UOL) em 30 de dezembro de 2011: |
30/12/2011 - 17h32
Morre em São Paulo, aos 84 anos, o
artista plástico Mário Gruber
Da Redação
O artista plástico Mario Gruber
com a neta Lorena Hollander na exposição em comemoração aos 20 anos do Memorial da América Latina, em São Paulo (19/02/2009)
Foto: Mastrangelo Reino/Folhapress,
publicada com a matéria
Morreu na noite da última quarta-feira (28), aos 84 anos, o artistá plástico santista Mário Gruber. Gruber
estava internado em uma clínia geriátrica em Cotia, São Paulo, e o óbito está relacionado a complicações causadas por um câncer. Seu corpo
for cremado no cemitério da Vila Apina. Pintor, escultor, muralista e gravurista, Gruber constriu uma obra que tinha como tendência o
realismo fantástico.
Autodidata, Gruber começou a pintar em 1943 e em 1946 se mudou para São Paulo onde estudou na Escola de
Belas Artes. Foi aluno do escultor Nicolau Rollo e em 1947 recebeu seu primeiro prêmio de pintura. Gruber trabalhou com Di Cavalcanti e
Cândido Portinari e em 1949 ganhou bolsa de estudos para a Escola Superior de Belas Artes, em Paris. Em 1951 retornou ao Brasil onde fundou
o Clube de Gravura.
Na década de 50 e 60, Gruber deu aulas de gravura no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na FAAP. O
artista realizou obras de grande porte em espaços públicos como a estação Sé, do Metrô e o Memorial da América Latina. Na década de 2000
continuou a trabalhar intensamente, com uma produção anual de 100 a 120 obras.
Nesta sexta-feira (30) a Ministra do Estado de Cultura, Ana de Hollanda, emitiu nota de pesar pela morte de
Mário e ressaltou "o caráter popular de sua obra".
Leia abaixo na íntegra.
"Foi o próprio Mário Gruber que definiu sua arte como musical. Quando classificou a gravura em metal em
preto-e-branco como "música de câmara" e a pintura como uma orquestra sinfônica, mostrou que elaborava seu trabalho gráfico como quem
escreve uma partitura. Cada pincelada ou traço de grafite equivalia a uma nota.
Mário passou do figurativismo ao abstracionismo. Esteve ao lado dos grandes do Brasil, como Portinari e Di Cavalcanti, e do mundo, como
Diego Rivera, nos anos de formação. Teve intensa conexão com a arquitetura, atestada pela colaboração com Villanova Artigas. O caráter
popular da sua obra pode ser percebido ainda em painéis públicos - os do Aeroporto Internacional de Cumbica ou da Estação da Sé, do Metrô de
São Paulo, mostram isso.
E é com imenso respeito e carinho que me uno aos parentes e amigos, nesse momento difícil em que perdemos Mário, para prestar minha
solidariedade e oferecer a homenagem do Ministério da Cultura".
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Notícia do jornal santista A Tribuna,
em 29 de dezembro de 2011, páginas A-1 e D-1: |
ARTE SANTISTA PERDE O TALENTO DE
MARIO GRUBER - O artista plástico santista Mario Gruber morreu ontem, aos 85 anos, na Capital. Ele sofria de câncer e estava internado em uma
clínica
Foto: publicada com a matéria, na página
A-1
Mário Gruber foi pintar com os anjos
Artista plástico santista, nascido em 1927 e dono de estilo único, morreu ontem na Capital após uma longa batalha contra o câncer
Da Redação
O
universo do realismo fantástico nas artes plásticas amanheceu abatido pela realidade da vida. Faleceu ontem na Capital, aos 85 anos, o santista
Mário Gruber, após uma longa batalha contra o câncer (ele estava internado em uma clínica). O corpo foi cremado à tarde, no Cemitério da Vila
Alpina.
"Recebi a notícia de sua companheira. É muito triste. Foram, pelo menos, 30 anos de convivência como amigo e marchand. Estive com ele pela
última vez em julho. Ele me deu uma obra com dedicatória", relata o santista Marcos Lula.
Baseado em seu relacionamento com o artista, Marcos conta que Gruber era muito forte, tanto que resistiu por um longo tempo à enfermidade. E não
fosse o apego à cigarrilha… "Eu brincava com ele. Para, você viverá até os 100 anos! E ele dizia: diminuí. Mas não conseguia ficar sem pitar".
Assim como sua obra, Gruber tinha um gênio forte, o que para alguns soava como rabugento, reclamão intratável. "Era como todo artista: sensível,
mas também temperamental. Não tinha papas na língua e dizia o que pensava, o que, tenho certeza, atrapalhou sua carreira. Mas quando ele gostava
de alguém, era generoso, amigo".
Para exemplificar, Marcos conta que Gruber colecionou amigos importantes, entre eles, Diego Rivera e Lasar Segall. Pintou com Di Cavalcanti. Na
França, foi amigo do colombiano Fernando Botero. "Este fez sucesso comercialmente falando, devido ao jogo de cintura. O que faltava a Mário".
Gruber – avisa o amigo e marchand Marcos – era um artista internacional. Teria sucesso em qualquer lugar do mundo, já que não retratava a
nossa regionalidade, como faziam Portinari e Di Cavalcanti.
"Ele tinha uma temática internacional. Veja que se apropriou das máscaras e dos bailes de Veneza para recriar personagens fantásticos com uma
técnica maravilhosa e estilo próprio. Isso sendo autodidata".
As obras de Gruber valiam bem mais do que o artista santista pedia, atesta Marcos, que vendeu mais de 300 de sua autoria. "Ele não conseguia se
ater somente a um marchand, brigava e partia para outro, pois achava que eles estavam ganhando bem mais do que ele. Na verdade, como todo
artista que trabalha por amor, Gruber não sabia quantificar o valor da sua obra".
O desaparecimento do artista santista representa a quebra do último elo que tinha de nomes importantes de sua geração. "Ele estava no nível de
Tarsila, Volpi, Anita, Aldemir Martins. Talvez com sua morte sua obra possa ser revista, e passe a valer o quanto realmente vale".
Solo em seu solo – Uma coisa não sai do pensamento do colecionador e marchand Paulo Marcondes Torres: uma exposição da obra de Gruber que retrate,
realmente, toda a sua amplitude. Paulo foi o responsável pela única e última mostra dele aqui.
No ano passado (de julho a agosto), a Pinacoteca Benedicto Calixto abrigou a mostra Anjos do Renascimento, apenas um recorte da sua
produção. "Fiquei feliz, foi muito boa, e o Mário Gruber, também. Dito por ele, foi sua primeira exposição individual em sua Cidade".
Apenas um tira-gosto a aguçar o apetite. "Ele pintou Santos, o Santos FC, e criou o personagem Moleque Cipó, que retratava os problemas sociais na
Cidade. Na verdade, creio que ele se colocava no personagem. Um moleque que soltava balão, pipa, malhava judas… Ele também brincou com a
musicalidade do Carnaval. E, devido ao momento político, amordaçou e paralisou o Moleque Cipó. Voltou à fantasia com seu alter-ego
Astolfo, um boneco de pano. Ou seja, há muita coisa para uma grande exposição".
Mário Gruber, avalia e avaliza Paulo Torre, ultrapassou as fronteiras brasileiras. Era latino-americano, lutava contra o colonialismo cultural.
"Sua temática era abrangente. Não primava pelas cores ou pelo belo, sua obra era densa, principalmente as gravuras. Tão fortes quanto sua
personalidade".
Na Capital, afirma Paulo Torre, Gruber, curiosamente, é conhecido de modo compartimentado. "Há quem lembre dele como o pintor dos bustos (da
maioria) dos governadores do Estado de São Paulo, obras que estão no Palácio do Governo. As senhoras da sociedade de sua época falam dos
personagens fantasiados, que muitas chamam de palhacinhos, o que deixava Gruber muito bravo. E assim por diante".
Maldita agenda – Por duas vezes ele escapou por entre os dedos de Léo Mendes Coelho e Melo. Não por vontade própria do artista. É que Gruber já havia assumido
compromissos em outros locais.
"O convidei duas vezes para expor na galeria da Associação dos Médicos, da qual fui diretor de 1972 a 1982. Infelizmente, ele não pôde. Seria uma
honra por todo o seu talento".
Ginecologista e obstetra, Léo, embora não fosse um colecionador de arte – "não tinha dinheiro para isso" -, fazia questão de levar à galeria
artistas com estofo. "No mínimo, que tivessem no currículo três salões. Ganhei inimigos por isso, principalmente artistas santistas. Só porque
nasceram aqui entendiam que era suficiente".
O convívio com Gruber foi precoce. Léo fazia o antigo curso Científico, portanto, antes de cursar Medicina. "Embora mais novo do que ele,
frequentei algumas vezes o ateliê do Mário, que ficava na esquina das ruas General Câmara e Dom Pedro, no Centro de Santos. Era muito
interessante. Depois ele foi para São Paulo e quase não nos falamos. Há 30 anos eu não o via. É uma pena que tenha partido daqui e da vida".
Desapego
– Quem também conviveu com Mário Gruber foi o marchand Reinaldo Marques, curador da exposição na Galeria 22, em São Paulo, no meio deste
ano. Doente, o autor não pôde comparecer.
Em entrevista, à época, a A Tribuna, Reinaldo falou da descoberta de um homem culto, cabeça aberta e com opiniões bem formadas sobre
qualquer assunto.
"Sua sabedoria é impressionante, assim como seu desapego às obras que cria. Em uma conversa, perguntei se tinha ciúme dos seus quadros, se tinha
dificuldade em se desfazer deles, já que neles estavam todas as suas emoções. Respondeu: "É muito importante o que você está falando, mas a
partir do momento em que assino uma obra ela está livre, está solta no mundo".
Agora, Mário Gruber também está livre e solto no mundo dos anjos que pintou.
Dono de sensibilidade ímpar, Gruber
era bastante temperamental
Foto: Fernanda Luz, em 22/7/2010,
publicada com a matéria
ARTIGO
Último desejo
Carlos Conde
Editor-chefe
Mário Gruber vai embora sem realizar seu maior desejo: uma viagem sentimental a Santos. Ele queria, como nos velhos tempos, perambular pelos
lugares que marcaram sua juventude. Voltar à Boca, hoje decadente, onde conheceu seus primeiros amores furtivos. Caminhar pelo Centro Histórico
e conferir os velhos edifícios, como o prédio da Bolsa do Café. Passear incógnito pelo Gonzaga, em busca do footing que há muito tempo já
não existe. Os rapazes ficavam enfileirados de um lado e do outro da calçada, frente ao antigo Bar do Atlântico, e as moças passavam ao centro,
despertando suspiros e olhares cobiçosos.
Mas ele queria, principalmente, encontrar a casa da sua infância no José Menino, derrubada pela especulação imobiliária. O que jamais lhe contei.
Nessa visita à terra natal, sua fantasia seria, na verdade, reencontrar a adolescência, na praia próxima à divisa com São Vicente, onde ele reinou
como um menino-moço bonito e forte. Foi nesse tempo, envolto pelas brumas do passado, que ele tomou sua decisão maior. Seu pai, dono de um
cartório na Praça dos Andradas, próximo ao Teatro Guarany, o escolhera para sucessor.
Acontece que aqueles papéis e carimbos eram tudo que Mário não queria da vida. Em uma tarde de outono, foi à janela e encantou-se com as árvores
centenárias e a luz deslumbrante que se espreguiçava entre elas. Do fundo da sua alma de artista ecoou um grito incontrolável: "Eu sou um
pintor!".
A decisão irrevogável estava tomada. Os anos seguintes só confirmariam sua vocação inata. Ali estava um artista plástico de muito talento. Subiu a
Serra e em São Paulo ganhou um concurso e uma bolsa que o levaram a Paris. Era o início de uma trajetória que o consagraria como um mestre do
pincel e da gravura.
Esses e outros instantâneos de sua vida ele me contou ao longo de dois anos, a partir de 2007, tirando longas baforadas de suas cigarrilhas
baianas. E em meio ao sabor de empadinhas de palmito e quindins, que eu lhe levava e eram duas de suas maiores paixões gastronômicas.
A historiadora Heliana Lins, amiga comum que me conduziu até ele, conta que Mário, já atacado pelo câncer, como que ressuscitou com a
possibilidade de resgatar em livro toda sua venturosa existência. "Foi uma espécie de flor que desabrochasse", me disse ela.
Embora cuidado com todo o carinho por sua última companheira, Juliana, que se desdobrava em atenções, parecia precisar de alguém de fora para
compartilhar as histórias de uma longa vida.
Seu colorido depoimento foi gravado em madrugadas intermináveis no apartamento da Rua das Palmeiras, em São Paulo. Ele narrou tudo, sem nenhum
tipo de censura prévia. Falou da sua paixão pelas mulheres, por Santos, pela praia, pela política, por Paris. E pela arte, é claro. Seu ingresso
no Partido Comunista, sua viagem à então Cortina de Ferro e sua decepção com a máquina partidária e alguns supostos líderes. Mas nada disso
amenizou sua aversão pelo capitalismo e sua crença de que um dia o mundo será socialista.
O convite de A Tribuna, para que eu assumisse a chefia da Redação, em agosto de 2009, interrompeu nossos encontros. Em um dos últimos, ele
me falou da doença: "Os médicos dizem que eu tenho câncer em três locais do meu corpo. Mas eu não sinto nada, nenhuma dor. Um dia pode ser que
tudo isso exploda".
Em nossa derradeira conversa, ali por julho de 2009, ele me confessou a esperança de que suas cinzas nadassem, como ele fazia tão bem, atrás da
ilha Urubuqueçaba.
Detalhe de uma das peças da exposição
mais recente do artista santista,
Anjos da Renascença Brasileira
Imagem publicada com a matéria |
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