Esperança
Graciema ficou com as mãos
definitivamente grossas e calosas. Tantos anos de sabão de soda!
Terezinha está no Grupo, é uma das melhores alunas, já lê correntemente, e já rabisca mesmo
algumas linhas para o pai, quando Graciema escreve para o Praxedes, respondendo às cartas dele.
Já por várias vezes foram visitá-lo à Penitenciária de S. Paulo, naqueles oito anos. No último 25
de Dezembro, o Praxedes estava muito contente, porque teve promessa de livramento condicional: não precisará esperar os dez anos inteiros da
sentença.
Praxedes é um preso modelo, e escreve umas cartas para Graciema... Até parecem de namorado.
Praxedes melhorou muito, nestes anos.
Todos os meses manda dinheiro, que ganha na marcenaria da Penitenciária - diz que ele não precisa
de nada, e dá tudo para a filha e para Graciema.
Com isto, lavando roupa para fora e fazendo doces de tabuleiro, Graciema vai vivendo com desafogo.
Até já tem conta na Caixa Econômica.
Terezinha todas as noites pede assim: Nosso Sinhor: fazei com que o papai venha logo de São
Paulo morar com a gente. Amém.
E Graciema reza um padre-nosso para aquela irmã Simplícia, da Santa Casa, que foi para o céu há
dois anos, e outro para o Agenor, que era um negro de coração branco, branco como o do Praxedes há de ficar.
Há de ficar, quem sabe?
- FIM - |