Saguão do edifício Bretagne, em São Paulo
Foto: Gegê Leme, publicada com o texto
Histórias e estórias
Gegê Leme e Paulo Matos
Contam os condôminos
que...
O solário no alto dos edifícios Verde Mar e Enseada são ponto de encontro dos
moradores, notadamente nas festas de fim de ano. Eles lembram que existia um jardim em ambos os prédios, que foi retirado por problemas de
infiltração nos apartamentos abaixo.
O problema da falta de garagens, explica d. Nilza, síndica do Verde Mar, advém do fato
de que para terminar o prédio foi necessário vender a área reservada a ela para os condôminos do edifício Brasília, ao lado. A garagem fica atrás do
Verde Mar e apenas um terço dos moradores podem utilizar as do próprio edifício.
A união dos moradores nas áreas comuns era mais forte em épocas em que não havia
televisão. E todos se reuniam no bar onde hoje é a sala de jogos, "que lota toda noite". E que tinha uma big vitrola, diz d. Zica. Chega ao
exagero o amor dos condôminos dos edifícios de Jurado aos prédios. Duas vezes, no Verde Mar e no Enseada, ouvimos a história de que os navios
paravam na barra "para fotografar o prédio"...
Adilson Costa Macedo é arquiteto e é professor da Faculdade de Arquitetura E Urbanismo
da USP. Mais do que isso, é filho do projetista Eduardo Macedo, que desenhou a praça da fonte Vicente de Carvalho e os abrigos de bonde. Ele atribui
a influência no estilo projetado por seu pai como oriundo de uma tendência em voga na época, do arquiteto Afonso Eduardo Reidy e de Niemayer.
A casa como máquina de viver, na definição de Le Corbusier, seria renovada no resgate
das figurações, ao revés do modernismo, por João Artacho Jurado, que colocou à disposição dos setores médios da escala social uma estrutura de luxo
e ostentação.
"Dentro do modernismo, ele fugia dos padrões, como Niemayer, que cultuava. Nem só
racionalismo e funcionalismo: o belo também é uma função. Artacho deu ênfase à questão estética, na rota do styling - tendência do desenho
americano que primava pelo exagero. Como os automóveis rabos-de-peixe.
Aqui em São Paulo, João Artacho Jurado fez elementos vazados, caixas d'água
esculpidas, floreiras, cores berrantes. Era visto como kitsch, combatido como um degenerador do modernismo em sua fase áurea. Mas hoje,
livres de um juízo radical, de exacerbação ideológica, já temos outro conceito sobre a obra de Artacho e seu lugar na história da arquitetura".
(Professor Fábio Serrano, 52 anos, dá aulas e História da Arquitetura na Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo de Santos. Tem 30 anos de atuação profissional e já elaborou vários projetos na região, como a estação Rodoviária do Guarujá
e a urbanização do bairro da Areia Branca).
Detalhe de elemento vazado do Bretagme
Foto: Gegê Leme, publicada com o texto
Detalhe de pilar e elemento vazado do edifício Cinderela, em São Paulo
Foto: Gegê Leme, publicada com o texto |