Eu conheço um rapaz que foi à Escola,
escola que era o Vale do Senhor,
deixando em casa o papagaio e a bola.
O Bom Deus (que era ali o professor)
na classe o colocou dos mais novinhos,
dizendo-lhe de manso: "Meu rapaz,
eis a tua lição: Não matarás nem furtarás".
Isto dizendo, foi tecer os ninhos...
O rapaz não matou. Mas, no recreio,
vendo o bosque tecer fios de sol,
penetrou de umas árvores no seio,
e, seguindo de um canto o suave enleio,
o ninho descobriu de um rouxinol.
Furtou-o certo de que Deus não via...
Mas, quando terminou aquele dia,
um dia que durou mais de cem anos,
ele, trôpego e branco, aparecia,
pela segunda vez, nos soberanos
vales do Bom Deus (que era o professor).
Este lhe disse, a transbordar de amor:
"Tu não mataste, mas roubaste: é vã
toda mentira para mim, rapaz.
Na próxima lição, não furtarás nem mentirás".
Num ósculo, ordenou: "Volta amanhã".
Isto dizendo, foi abrir as rosas...
O pequeno voltou, de manhã cedo,
para a Escola de Deus. As perfumosas
flores, sorriam sob o arvoredo...
Pelas figueiras, rebentavam figos...
Mas, o rapaz não as furtou. No entanto,
topou dois grilos. Fê-los seus amigos
e, em sua companhia,
todo o tempo gastou nesse recanto.
Julgou que o professor não saberia...
Mas, quando terminou aquele dia,
dia que um século durou talvez,
voltou a Deus pela terceira vez,
e, ao ver o professor assim dizia:
"Mestre, quando eu descia para a escola, vi um leão..."
e o professor (que era o Bom Deus) sorria...
"Tu não roubaste, mas mentiste, é vã
toda mentira para mim, rapaz;
na próxima lição, não mentirás nem jogarás"
Beijou-o com amor - "Volta amanhã".
Isto dizendo, foi polir os sóis...
E o rapaz não mentiu. Mas logo à porta,
descobriu sobre um banco três soldados
que jogavam a vida sobre os dados...
- Vou arriscar! O resto pouco importa...
Entrou no jogo. Dentro em pouco, o pobre,
nu, sobre a neve, trêmulo, agoniza
tendo perdido o derradeiro cobre,
tendo perdido tudo, até a camisa!
O professor (que era o Bom Deus), no entanto,
com beijos enxugou aquele pranto,
deu-lhe um traje de linho, uma sacola
e um manto para que voltasse à Escola
"Tu não mentiste, mas jogaste; é vã
toda tristeza ao pé de mim, rapaz.
Na próxima lição, não jogarás
nem terás medo ao teu professor. Volta amanhã".
* * * * * * *
Estas verdades são dos Evangelhos
qualquer poeta pode surpreendê-las
nas rugas e nas cãs dos nossos velhos,
ou pelo Azul, na Bíblia das estrelas!