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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.Schmidt
"A Escola"

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Este poema de Afonso Schmidt foi tema do II Concurso Literário Afonso Schmidt, promovido em junho de 1971 pela Prefeitura Municipal de Cubatão:

Reprodução parcial de exemplar do acervo de Aldo Schmidt, cedido a Novo Milênio em 19/3/2008

A escola

(Afonso Schmidt)

Eu conheço um rapaz que foi à Escola,

escola que era o Vale do Senhor,

deixando em casa o papagaio e a bola.

O Bom Deus (que era ali o professor)

na classe o colocou dos mais novinhos,

dizendo-lhe de manso: "Meu rapaz,

eis a tua lição: Não matarás nem furtarás".

 

Isto dizendo, foi tecer os ninhos...

O rapaz não matou. Mas, no recreio,

vendo o bosque tecer fios de sol,

penetrou de umas árvores no seio,

e, seguindo de um canto o suave enleio,

o ninho descobriu de um rouxinol.

Furtou-o certo de que Deus não via...

 

Mas, quando terminou aquele dia,

um dia que durou mais de cem anos,

ele, trôpego e branco, aparecia,

pela segunda vez, nos soberanos

vales do Bom Deus (que era o professor).

Este lhe disse, a transbordar de amor:

"Tu não mataste, mas roubaste: é vã

toda mentira para mim, rapaz.

Na próxima lição, não furtarás nem mentirás".

Num ósculo, ordenou: "Volta amanhã".

 

Isto dizendo, foi abrir as rosas...

O pequeno voltou, de manhã cedo,

para a Escola de Deus. As perfumosas

flores, sorriam sob o arvoredo...

Pelas figueiras, rebentavam figos...

Mas, o rapaz não as furtou. No entanto,

topou dois grilos. Fê-los seus amigos

e, em sua companhia,

todo o tempo gastou nesse recanto.

 

Julgou que o professor não saberia...

 

Mas, quando terminou aquele dia,

dia que um século durou talvez,

voltou a Deus pela terceira vez,

e, ao ver o professor assim dizia:
"Mestre, quando eu descia para a escola, vi um leão..."

e o professor (que era o Bom Deus) sorria...

"Tu não roubaste, mas mentiste, é vã

toda mentira para mim, rapaz;

na próxima lição, não mentirás nem jogarás"

Beijou-o com amor - "Volta amanhã".

 

Isto dizendo, foi polir os sóis...

 

E o rapaz não mentiu. Mas logo à porta,

descobriu sobre um banco três soldados

que jogavam a vida sobre os dados...

- Vou arriscar! O resto pouco importa...

Entrou no jogo. Dentro em pouco, o pobre,

nu, sobre a neve, trêmulo, agoniza

tendo perdido o derradeiro cobre,

tendo perdido tudo, até a camisa!

 

O professor (que era o Bom Deus), no entanto,

com beijos enxugou aquele pranto,

deu-lhe um traje de linho, uma sacola

e um manto para que voltasse à Escola

"Tu não mentiste, mas jogaste; é vã

toda tristeza ao pé de mim, rapaz.

Na próxima lição, não jogarás

nem terás medo ao teu professor. Volta amanhã".

 

* * * * * * *

Estas verdades são dos Evangelhos

qualquer poeta pode surpreendê-las

nas rugas e nas cãs dos nossos velhos,

ou pelo Azul, na Bíblia das estrelas!

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