Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult063m18.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/09/16 17:46:42
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - A.Schmidt
O jornalista Affonso Schmidt, na Folha - 18

Leva para a página anterior

Affonso Schmidt foi também colaborador do jornal paulistano Folha da Manhã, (que daria origem ao jornal Folha de São Paulo e ao grupo homônimo. Na edição de sábado, 17 de outubro de 1936, página 6, foi publicado este texto do escritor (acervo Folha - acesso em 9/4/2016 - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria

Ainda Julio Frank

(Copyright da I.B.R. - Exclusividade  no Estado de S. Paulo para a "Folha da Manhã")

Afonso Schmidt

Há pouco, escrevi uma série de rodapés contando a história de Julio Frank desde pequenininho. Saiu uma novela que me pareceu interessante pelo quadro e pelas figuras. Primeiro, a cidade de Gotha nos começos do século passado, com o seu castelo e a figura iluminada do landgrave Ernesto II, protetor de maçons e de místicos. Depois, a Universidade de Goettingue, da qual Schopenhauer escrevia em 1819: "É a mais digna, talvez a primeira Universidade do Mundo!" E o filósofo era difícil de entusiasmar-se.

Aí, na cidade velha, a vida tumultuosa dos estudantes: canções, chopadas, duelos, intrigas amorosas, sonhos de glória, a mocidade em festa. E um dia, ali por 1828, o fracasso do estudante genial, a partida para Berlim, a miséria num quartinho da Grossfriedrichstrasse nº 174, a partida para Hamburgo e para esse misterioso Brasil que os marinheiros descreviam como sendo das mulatas e dos papagaios.

Chegando ao Rio de Janeiro, Julio Frank esteve preso algum tempo na fortaleza da Lage, por denúncia do capitão do navio que o havia trazido, segundo esclarece um documento da época. Dali saiu na maior miséria para ser empregado de uma das poucas hospedarias que em 1829 existiam na Corte.

Foi nessa hospedaria que ele ficou conhecendo os irmãos Oliveiras, fidalgos de Sorocaba, que o trouxeram para Ipanema, a fim de trabalhar na mineração de ferro. Em Ipanema havia numerosa colônia alemã trazida por Varnhagem. Mas Julio Frank não se habituou àquela vida e meses depois seguia para orocaba, onde se fez caixeiro de uma venda. Dentro de pouco, porém, os estudantes descobriram nele um ótimo professor de línguas e matemáticas e o aproveitaram, chegando mesmo a trazê-lo para São Paulo, no fim do ano, a fim de acompanhá-los nos exames.

Em São Paulo misturou-se com a rapaziada alegre de 1830. Fez-se amigo de um professor que era ao mesmo tempo dono de uma hospedaria no beco dos Mosquitos e de um estudante, o Boi, que alarmou por alguns anos todos os futricas da terra, e que foi preso pelo juiz de paz, seu colega de ano, sendo amarrado a uma vara e conduzido aos ombros dos guardas, 'exatamente como se carregava um porco".

Frequentou Brotero, Rendon, Pires da Motta, Pimenta Bueno, tantas figuras gradas do seu tempo. Ali por 1834 foi nomeado professor de História do Curso Anexo à Faculdade de Direito e exerceu o magistério até junho de 1841, quando morreu cercado pela estima e a admiração de todos os estudantes de São Paulo. Foi enterrado na Faculdade e ali, apesar das atuais obras, ainda se encontra o seu túmulo, como preciosa tradição paulistana que deve prolongar-se através dos séculos.

Para contar a parte referente a São Paulo, fui levado a evocar um pouco daquela cidade da garoa e das mantilhas que, logo depois, Castro Alves e Álvares de Azevedo deveriam imortalizar na sua correspondência. Escrevi tudo isso com um grande prazer. Documentos recebidos de diversas pessoas tanto desta capital como do Rio de Janeiro, que se interessaram pelo assunto, conduziram a minha fantasia por um caminho mais certo, dando à novela um cunho quase histórico.

Um desses amigos acaba de oferecer-me curiosíssima nota que só por si justifica este comentário sobre a minha própria obra. Como é histórico, Julio Frank teve uma mulher a iluminar-lhe os últimos anos de vida. Chamava-se Felippina e era alemã, de Santo Amaro. Nada mais se sabia a seu respeito.

A presente informação diz que, em 1828, chegou uma família de imigrantes alemães a Santo Amaro, cujo chefe tinha igualmente o nome de Frank. uma filha de 16 anos chamava-se Felippina. Segundo parece, a companheira de Julio Frank chamava-se também Felippina Frank. Daí o fato de não haver notícias sobre o seu nome de família. É sabido que depois de morto o professor de História, Felippina voltou para Santo Amaro e ali casou com o carpinteiro Mathias, deixando muitos filhos. Bárbara, filha de Julio Frank e Felippina, morreu solteira com cerca de quarenta anos.

Houve, portanto, muita ocasião para que se soubesse o nome dos pais de Felippina. Ora, isso não aconteceu. É que, segundo parece, ela, antes de conhecê-lo, já era Felippina Frank. Esta nova "frankeana", como chamam os investigadores da vida de Julio Frank, chegou tarde para sair entre as demais que vou publicar no fim da novela; se algum aficionado se interessar por ela, que faça o possível por averiguá-la. Será uma boa distração para os dias de chuva.

Leva para a página seguinte da série