Abro-te o coração: podes entrar, querida,
Meus ancestrais do verso, os líricos d'antanho
Davam a cada eleita um baltazar estranho
De ouro, luar e azul - numa canção sentida...
Eu, nada tenho... Vê! Pois para mim a vida
Tem sido um peso enorme, um martírio tamanho!
Se és pura e bela, vem, que tu serás um banho
De perfume e de sol na gélida guarida
Neste beijo darei às tuas mãos suaves
O maldito esplendor das áureas sete chaves
Do velho coração. Vem habitá-lo, pois,
Não vás abrir, porém, subterrâneos fossos;
Morrerás de pavor, se vires os destroços
Dessas cousas que amei e trucidei depois.
Afonso Schmidt