A Coligação Operária de Santos apresentou um candidato às próximas eleições municipais. Esse candidato chama-se João Freire de Oliveira e conta muitos anos de serviço ao
proletariado, isto é, à classe que abrange dois terços da população desta cidade. Ele tem sofrido, por isso mesmo, todas as perseguições e violências com que a atual sociedade premia os que por elegância moral preferem a convivência dos oprimidos à
benquerença e cumplicidade dos opressores.
O candidato do proletariado santista recomenda-se ainda por muitos outros motivos:
Primeiro: é santista.
Este fato representa uma quase novidade na minha terra, governada por advenas, que quase sempre dão provas de inferioridade intelectual ou moral.
Segundo: é operário.
Representa a afirmação de um sonegado direito constitucional, e, ao mesmo tempo, a reivindicação da justiça democrática, porque numa terra cuja população [d]enota dois terços de operários, dos manuais aos
profissionais liberais e intelectuais, as assembleias constituída[s] exclusivamente pelos representantes do capital, sejam ou não capitalistas, são por isso mesmo a ditadura de classe, e de uma ditadura assim unânime não se encontra nem mesmo nos
países abertamente absolutistas.
Terceiro: apresenta-se como operário.
Deste modo, os que nele votarem contribuirão para mais uma vitória do espírito liberal que ilumina a história dessa cidade, e que talvez ainda não esteja irremediavelmente perdido.
Santos aparece na primeira linha das conquistas nacionais, na Independência, na Abolição e na República - Será também a primeira cidade no Brasil a mandar ao governo um operário, apresentado como candidato
operário, por agremiações operárias.
Quarto: tem um programa.
Pedindo o voto ao povo santista, ele apresenta um programa, o que é uma novidade fortemente democrática em nossa terra, onde candidatos inteiramente desconhecidos, ou proverbialmente néscios, são impostos ao
eleitorado lanudo pelas sinagogas da República.
Quinto: seu programa é proletário.
Assim, os homens que trabalham nas oficinas, nos armazéns e nos escritórios, nos transportes, no cais, na baía e nas plantações dos arredores do município, terão a sua voz na Câmara, onde os seus interesses, por
serem opostos ao do capitalismo unicamente ali representado, são repelidos como intrusos.
O trabalhador (que pertence a todas as pátrias e não tem nenhuma) deve votar no candidato da Coligação Operária, por seu próprio interesse, por espírito de classe e por afirmação de capacidade.
Os meus conterrâneos de todos os credos, de todas as ideias, devem votar em João Freire de Oliveira, para que a nossa Câmara não continue a ser a Casa das Andorinhas, cujo fim tem sido elevar as dívidas do
município a mais de cem mil contos.
São Paulo, Novembro.
Afonso Schmidt