Narciso de Andrade sempre prestigiou os lançamentos dos livros do
autor. Aqui é visto no Salão Orquídea do Parque Balneário Hotel,
durante o lançamento do livro Memórias da Hotelaria Santista de
Helena Maria Gomes, Viviane Pereira e Laire José Giraud. Dezembro
de 1997. Acervo: Benê Siqueira
Eis o
texto:
NO TEMPO DOS TRANSATLÂNTICOS
* por Narciso de Andrade
Nunca viajei de navio, mas mantive certa intimidade com eles – os navios – quando fui repórter marítimo. Isso lá pelos fins dos
Anos 40, início dos 50, no velho O Diário, de Santos, da cadeia dos Associados de Assis Chateaubriand.
Já contei um pouco dessa história, principalmente para lembrar a figura do jornalista Francisco de Azevedo, criador da seção
Vida Marítima que ele trouxe para A Tribuna quando aqui veio trabalhar a convite de Nascimento Júnior, criando então Porto & Mar, até hoje nas
páginas deste jornal.
Azevedo foi um dos maiores apaixonados que conheci das coisas do mar, notadamente dos navios. Para mim, há muito tempo se
findaram os tempos de reportagem, os saudosos e vibrantes tempos de repórter.

Durante a comemoração dos 85 anos
do Café Paulista, nós,
admiradores do famoso
restaurante, oferecemos um painel com
imagens antigas da Cidade. Na
foto os proprietários Manolo
Rodrigues e José Antonio e Jaime
Caldas, Dario Gonçalves,
Benê Siqueira e Narciso de
Andrade, o segundo a contar da
esquerda. – 1996. Foto: L. J.
Giraud
Eis que, da mesa que costumo ocupar para meu lanche vespertino no Café Paulista, se aproxima um cavalheiro simpático,
despachante aduaneiro, superapaixonado, para usar de terminologia corrente, pelos navios, conhecendo a história, em detalhes, dos maiores e mais
famosos transatlânticos.
E mais: possui belíssima coleção de postais e fotografias dos principais navios, que, na linguagem de outros tempos, cruzaram os
mares.
E eis-me aqui a falar de navios por obra e graça de Laire José Giraud, de quem recebi as generosas informações que
possibilitaram a elaboração desta crônica.

O transatlântico português Vera Cruz, de 1952, em pintura clássica
de Gordon Elus, navio que foi muito popular entre os brasileiros e
portugueses. Acervo L. J. Giraud
Então, fico sabendo que o transatlântico italiano Conte Grande aqui veio antes e depois da guerra, tendo ficado retido, foi
depois para os Estados Unidos e serviu como transporte de guerra com o nome de Montecielo.
Em 3 de agosto de 1949, ainda mais belo em sua nova cor branca, retornou a Santos, e sua chegada foi triunfal.
Só desse magnífico transatlântico muita coisa poderia ser contada, mas, entre os italianos, havia ainda o Conte Biancamano, o
Anna C, que vieram antes da guerra e retornaram em 49 e 48, respectivamente. Eram igualmente lindos e grandiosos.

O transatlântico Itanagé, da Companhia Nacional de Navegação
Costeira, de 1928, ligava o Brasil de Norte a Sul, em pintura de
Antonio Giacomelli. Acervo Laire José Giraud
A Inglaterra sempre foi considerada a rainha dos mares; de nacionalidade britânica, aqui aportaram o Alcantara, o Andes, os
Highland Brigade, Princesa, Chieftain e Patriot. Este último, após passar por Santos, foi torpedeado no Atlântico.
Depois da guerra, aqui estiveram os navios novos, mantendo a alta tradição inglesa, Brasil, Argentina e Uruguai.
Em março de 49, aquele que seria o mais moderno transatlântico até então construído, o Magdalena, que bateria em uma laje na
Barra da Tijuca, indo ao fundo.
Nas minhas funções de repórter, na época, tive oportunidade de visitar este transatlântico realmente magnífico. Ironia das
ironias, era considerado insubmersível.
Antes da guerra, freqüentaram o Porto de Santos vários navios alemães, tais como o Monte Sarmiento, Monte Olivia, os Cap, entre
eles o inolvidável Cap Arcona.

Narciso de Andrade sempre mostrou
Santos e sua gente de uma
maneira muito carinhosa através
das suas crônicas, mas tinha uma
grande paixão pelo Gonzaga.
Cartão-Postal 1940. Mostrando a Fonte
Luminosa, o Atlântico Hotel e o
Parque Balneário Hotel.
Acervo: Laire J. Giraud.