Foto: arquivo
Web da revista Agulha
(Completa
ausência de tempo.
O calendário se desfaz
nas sombras, na brisa e na anatomia
recortada do estuário…)
Cambia todos os tons
esta angústia à flor da água.
Não há gaivotas nem quaisquer
outros pássaros oceânicos.
Todavia, aquela espuma brilhante
sugere o roçar logo de algum.
(Trecho de “Cais”, Narciso de Andrade Neto)
Foto: Tadeu Nascimento
Narciso de Andrade Neto, filho de Agenor Andrade e Celina
Penteado de Andrade, nasceu em São Paulo, no dia 20 de julho de 1925, um ano e cinco meses depois de seu grande amigo Roldão Mendes Rosa
(1924-1989). Logo veio morar no Macuco, na cidade portuária de Santos.
Quando criança, a bordo do bonde 5, Narciso ganhou o colo do poeta Martins Fontes (1884-1937). Homem maduro,
médico e poeta parnasiano santista, Martins Fontes disse, então, à tia Carola que o menino precisava ir para a Capital da República conhecer o
crepúsculo do Rio de Janeiro. Entretanto, um pouco mais tarde, Narciso foi para São Paulo com o objetivo de concluir os estudos secundários no
Colégio São Bento. Mas os ares da liberdade da cidade praiana de Santos o trouxeram de volta e passou a estudar no colégio Canadá, naqueles tempos
em que o ensino do Governo do Estado caracterizava-se pela ótima qualidade. As famílias de posse e tradição procuravam o ensino público que, aliás,
era bastante disputado.
Você lembra que havia prova de admissão (“vestibulinho”) para entrar no Instituto de Educação Canadá?
Em 1948, trabalhando no antigo “O Diário” (Santos), órgão dos Diários Associados, cadeia de comunicação de
Assis Chateaubriand, Narciso contava que, ao lado do fotógrafo Zezinho (José Dias Herrera), inspirava-se na movimentação do maior porto da América
Latina. Trabalhava na seção “Vida Marítima”. “Se não havia assunto, a gente ia para o cais porque sempre aparecia alguma coisa”.
A obra poética de Narciso
de Andrade Neto foi ficando conhecida aos poucos, em jornais e revistas, durante as décadas de sua atividade literária. Discordando do
modernista Mário de Andrade, Narciso considerava o parnasiano José Martins Fontes, outro Zezinho, um literato fascinante, mesmo que pudesse ser
classificado à época como um poeta fora de moda.
Ainda jovem, enquanto trabalhava como repórter, começou a publicar poemas. Narciso foi colaborador do jornal A
Tribuna por 49 anos, trabalhou na Cia. Docas de Santos e na Cia. City (empresa canadense que era responsável pelo fornecimento de energia elétrica e
pelo serviço de bondes).
O menino paulistano, que
cresceu e se formou em Santos no ano de 1957, 1ª turma da Faculdade de Direito da Sociedade Visconde de São Leopoldo, atual Universidade Católica de
Santos – Unisantos, faleceu no crepúsculo de 2007, dia 29 de dezembro, aos 82 anos. Nasceu no inverno, morreu no verão, mas o sonho que deixou é de
primavera, legado de um de seus mestres...
“Tudo se acaba neste mundo!...
A vida é apenas uma flor...
Mas, no infinito de um segundo
O amor é sempre o eterno amor!...”
(Trecho de “Sonho de um dia de primavera” de Martins Fontes) |