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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Narciso de Andrade (5)

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Artigo publicado no site PortoGente em 8 de janeiro de 2008:
 
  • Crepúsculo de 2007
    Vida Marítima de Narciso
    Texto atualizado em 08 de Janeiro de 2008 -
  • por Iris Geiger da Silva *

    Foto: arquivo Web da revista Agulha

    (Completa ausência de tempo.
    O calendário se desfaz
    nas sombras, na brisa e na anatomia
    recortada do estuário…)
    Cambia todos os tons
    esta angústia à flor da água.

    Não há gaivotas nem quaisquer
    outros pássaros oceânicos.
    Todavia, aquela espuma brilhante
    sugere o roçar logo de algum.
    (Trecho de “Cais”, Narciso de Andrade Neto)

     Foto: Tadeu Nascimento
    Narciso de Andrade Neto, filho de Agenor Andrade e Celina Penteado de Andrade, nasceu em São Paulo, no dia 20 de julho de 1925, um ano e cinco meses depois de seu grande amigo Roldão Mendes Rosa (1924-1989). Logo veio morar no Macuco, na cidade portuária de Santos.

    Quando criança, a bordo do bonde 5, Narciso ganhou o colo do poeta Martins Fontes (1884-1937). Homem maduro, médico e poeta parnasiano santista, Martins Fontes disse, então, à tia Carola que o menino precisava ir para a Capital da República conhecer o crepúsculo do Rio de Janeiro. Entretanto, um pouco mais tarde, Narciso foi para São Paulo com o objetivo de concluir os estudos secundários no Colégio São Bento. Mas os ares da liberdade da cidade praiana de Santos o trouxeram de volta e passou a estudar no colégio Canadá, naqueles tempos em que o ensino do Governo do Estado caracterizava-se pela ótima qualidade. As famílias de posse e tradição procuravam o ensino público que, aliás, era bastante disputado.

    Você lembra que havia prova de admissão (“vestibulinho”)  para entrar no Instituto de Educação Canadá?

    Em 1948, trabalhando no antigo “O Diário” (Santos), órgão dos Diários Associados, cadeia de comunicação de Assis Chateaubriand, Narciso contava que, ao lado do fotógrafo Zezinho (José Dias Herrera), inspirava-se na movimentação do maior porto da América Latina. Trabalhava na seção “Vida Marítima”. “Se não havia assunto, a gente ia para o cais porque sempre aparecia alguma coisa”.

    A obra poética de Narciso de Andrade Neto foi ficando conhecida aos poucos, em jornais e revistas, durante as décadas de sua atividade literária. Discordando do modernista Mário de Andrade, Narciso considerava o parnasiano José Martins Fontes, outro Zezinho, um literato fascinante, mesmo que pudesse ser classificado à época como um poeta fora de moda.

    Ainda jovem, enquanto trabalhava como repórter, começou a publicar poemas. Narciso foi colaborador do jornal A Tribuna por 49 anos, trabalhou na Cia. Docas de Santos e na Cia. City (empresa canadense que era responsável pelo fornecimento de energia elétrica e pelo serviço de bondes).

    O menino paulistano, que cresceu e se formou em Santos no ano de 1957, 1ª turma da Faculdade de Direito da Sociedade Visconde de São Leopoldo, atual Universidade Católica de Santos – Unisantos, faleceu no crepúsculo de 2007, dia 29 de dezembro, aos 82 anos. Nasceu no inverno, morreu no verão, mas o sonho que deixou é de primavera, legado de um de seus mestres...

    “Tudo se acaba neste mundo!...
    A vida é apenas uma flor...
    Mas, no infinito de um segundo
    O amor é sempre o eterno amor!...”
    (Trecho de “Sonho de um dia de primavera” de Martins Fontes)

    * Iris Geiger da Silva é arquiteta e pós-graduada em Gestão Ambiental.
    i.geiger@uol.com.br

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