I
Arranha-céus. Avenidas de asfalto e cimento armado.
Chaminés. Viadutos.
Ranger de trilhos. Buzinas. Apitos.
Pregões de jornaleiros.
Rumor de passos apressados nas calçadas ensolaradas.
Vida que se espraia por todos os cantos,
retomando, em todas as direções,
o caminho interrompido.
Repetição e extensão de um mesmo destino comum.
Produzir. Multiplicar. Realizar-se.
A manhã passadista brinca nos telhados altos,
salta na grama dos jardins,
confraterniza com a fumaça negra das fábricas.
Algum poeta a terá visto.
Mas todos os olhos estão fixos no futuro,
na imagem que vai nascer da Cidade,
nessa imagem que continuamente a renova
e a torna cada vez mais diferente,
bem diferente da que ela foi.
O que em todos os ouvidos canta agora
é a sinfonia inaugural do trabalho.
Dir-se-ia que os próprios pássaros
estão voando para as suas fábricas
(onde terão graves serviços a empreender)
com o pensamento numa Cidade maior
para um Brasil maior e melhor.
São Paulo! Tão diversa, tão preocupada com o seu destino,
que até a garoa tem pena de vir distraí-la,
e a poesia finge agora que está dormindo no seu coração.
II
A tarde é um arsenal de maravilhas!
Daqui sairão o aço e a força propulsora da Pátria,
as vigas mestras, o dínamo que sulcará as alturas
e ajudará os homens no grande vôo triunfante.
O bandeirante moderno é um operário citadino
que, de blusa ou paletó bem talhado,
arremete contra a inércia o seu punho firme
e extrai de cada golpe a surpresa de uma nova energia.
Ninguém se impacienta, blasfema ou desfalece.
Há em todos a mesma esperança, a mesma certeza
de que este dia será mais um dia de glória
para a Cidade que cumpriu o seu grande destino.
Produzir. Multiplicar. Realizar-se.
III
E quando a noite cai,
no silêncio do céu, entre as estrelas invisíveis,
Anchieta, que foi o seu guia e o seu profeta,
baixa sobre a Cidade a bênção de todas as alegrias,
e reza por ela a sua alta oração de fé.
E no juste das fábricas
- onde o dia agitou o longo lenço das fumaças -
e na ponta dos arranha-céus, agora pensativos,
e nas avenidas espelhantes de asfalto e cimento armado,
e nos viadutos cheios de passos (como os homens de lembranças)
a alma de São Paulo escuta agora
o coro que sobe, em surdina, da terra agradecida
e chegará um dia ao coração de todo o Brasil! |