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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Sebastião Gonçalves Leite

O material a seguir foi publicado em distintas edições da antiga revista santista Flama (grafia atualizada nestas transcrições):


Sebastião Gonçalves Leite, poeta de fina sensibilidade, o nosso prezado colaborador
Foto-legenda: revista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)

"Flama"
A Gomes dos Santos Neto, pelo aniversário de sua gloriosa revista

 Flama - é fulgor que atrai e torna ardente
O amor que, pelo ideal, conduz à glória,
Entreabrindo o porvir, principalmente
A quem, possuindo a fé, busca a vitória.

E, vencer - nesta vida transitória
Mas vencer de alma forte, alegremente,
- É estar de toda a gente na memória,
Vendo o aplauso, afinal, de toda a gente!

Só mesmo tendo, em si, divina flama,
Como a tens pelo ideal, é que se inflama
A alma pela beleza, que conquista...

E assim, para que vá triunfadora,
Basta que digam: "Flama" é vencedora,
Porque é muito apreciada essa revista!

  Revista Flama, janeiro de 1944 (ano XXIII, nº 1)
 
Paisagem tropical
A Benedito Merlin

 "Galhos secos ao vento", acariciando
Em doce rumorejo alta palmeira
Que oscila junto à praia, desnastrando
Em flabelos de palma a cabeleira!

Por cima, abre-se um céu azul, tornando
Tal recanto paisagem feiticeira,
Onde o mar, suas vagas encrespando,
A oscula, com carinho, a vida inteira.

Como é belo e tranqüilo esse recanto
Que possui em seu seio raro encanto
- Verdadeiro primor da natureza;

Certamente, foi feito para o sonho
Porque, sendo na terra assim risonho,
- Do céu guarda o atrativo da beleza!

Revista Flama, dezembro de 1943 (ano XXII, nº 12)
 
Semeando amor...

Eu guardo dentro do peito
A tua imagem querida;
Por isso, vou satisfeito
- Semeando amor pela vida.

Meu coração é um menino,
Que sente infantil ardor,
E que, embora pequenino
- Carrega o maior amor.

E canta, quando - acordado,
Com teu amor - ele sonha;
Porque é eterno enamorado
De tua imagem risonha.

Como é sentido seu canto
Quando, à tarde, morre o dia,
Porque recebe esse encanto
Que, do amor, vem à poesia.

Poesia! roseira aberta
Em rosas, tendo botões,
E um perfume, que desperta
Sempre amor nos corações.

E vou, assim caminhando
Pela vida, humildemente
Como sombra, acompanhando
Teu amor, que vai à frente.

Se, à noite, tenho esperança
e amor, para adormecer,
Meu coração não descansa,
E passa a noite a bater.

Por teu amor, outro dia
Plantei saudade, senhora,
Mas a dor da que sentia
Matou a que estava fora!

Meu coração, que é tão crente
E o amor conduz, a rezar,
Para a saudade, que sente,
Só acha alívio em cantar!

E a cada batida sua
Se renova a sua dor,
Porque sofre quem, da lua,
Vem à terra, pelo amor.

  Revista Flama, março de 1944 (ano XXIII, nº 3)
  
Canção da infância
Minha infância tão fagueira
Cantou com tal emoção,
Que ficou - a vida inteira
- Cantando em meu coração.

Cantou, quando era eu criança
- Como canta uma avezinha,
Doce canção da esperança
No amor de terna mãezinha!

Depois, em riso a brincar,
À luz de toda manhã,
Sob o dossel de um pomar
- Cantou ao amor de uma irmã!

Mais tarde - quando menino,
Na vida, sem desenganos,
Cantou... no dobrar de um sino
Para encantar meus oito anos!

E sempre a cantar, seguindo
Pela estrada azul, risonha
Vai minha infância esparzindo
Flores do ideal, com que sonha.

E, assim, cantando viveu
Naquele alegre passado
Que foi meu e que foi teu
Sonho de amor - de noivado"

Quando eu jovem... com desejo
Cantou, mas com tanto ardor,
Que me abriu a flor do beijo
No róseo jardim do amor!

Nesta passagem ligeira
Da existência pelo mundo,
Ficou-me a infância fagueira
A inspirar amor profundo.

Sentindo o doce perfume
De minha infância querida,
Encontro o bem, que resume
Toda a beleza da vida!

E da vida - nesta idade,
A evocar a meninice,
Minha infância, com saudade
- Canta... a chorar na velhice

Revista Flama, abril de 1944 (ano XXIII, nº 4)
  
Imortalizando

"Nunca nos vimos, nunca". Entretanto, o destino
Que no mundo, é a razão de tudo o que acontece,
Fez - de uma "Ave encantada", em canto pequenino,
Surgir a "Ave sem ninho" em poema que enternece!

É que ambos, caminhando ao som doce do sino
Da catedral do sonho, em que a poesia é prece,
Vínhamos a sonhar, buscando o ideal divino
- Para clarear um pouco a vida, que entardece!

E, também "recordando" esse feliz acaso
Que fez florir, dentro de nós, como num vaso
A misteriosa flor de uma afeição, que encanta,

Eu - mesmo tendo a dor de ainda não conhecê-la,
Sei que ela da poesia é a mais formosa estrela,
Em cujo brilho a glória, em versos de ouro, canta.

Revista Flama, junho de 1944 (ano XXIII, nº 6)