CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA -
A. SILVEIRA
Agenor Silveira (1)
Agenor Silveira nasceu numa família de
cultores da literatura: era irmão de Valdomiro Silveira e filho do dr. João
Batista da Silveira e Cristina Silveira. Sobre ele, foi publicado o texto a seguir, na
edição de abril de 1944 (ano XXIII, nº 4) de Flama (grafia atualizada nesta transcrição):
Foto publicada com a matéria
Agenor Silveira
Mestre Agenor Silveira. Mestre da língua. Mestre do verso, perfeito e belo, a
ouvir-se, deliciosamente, de rima em rima, como a linha que corre, de pedra em pedra, suavemente, manando do seio de rocha pura, cristalina. Mestre
da prosa escorreita como melhor a não escreveram, jamais, no lindo idioma de Camões.
Mestre Agenor Silveira fez anos no dia 6 de abril, silenciosamente, como é do seu viver, na quietude do seu lar,
entre os seus livros, velhos amigos uns, mais novos outros, mas todos fraternalmente queridos.
Flama registra o aniversário do mestre. E fá-lo com a unção com que se abraça, peito a peito, coração
contra coração, alguém a que se quer muito e que muito deve ser querido, pelo que é, pelo que representa, moral e intelectualmente. |
Favo e Travo |
Eu parto, Adeus, Carlinhos! A rosada
Manhã já vejo despontar no Oriente:
Em poucas horas pisarei contente
De Casa Branca a terra desejada
O tumultuar da vida aqui me enfada;
A vizinhança até me põe doente;
Quero ver outros ares, outra gente,
E sossegar minha alma atribulada.
Realiza-se o meu sonho mais mimoso!
O que não folgarei pelos caminhos!
Que esplêndida viagem não farei!
Mas um pesar me trava este antegoso:
E é não levar comigo, bom Carlinhos,
Aqueles dez mil réis que te emprestei...
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Do livro "Versos de Bom e Mau Humor"
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Matéria publicada na edição de março de 1944 (ano XXIII, nº 3) de Flama (grafia
atualizada nesta transcrição):
Mestre Agenor Silveira e suas obras
Durwal Ferreira
Nota-se, hoje em dia, que uma boa parte da mocidade não
despreza o aformoseamento da sua inteligência e da sua cultura. Basta saber o número elevado dos que se inscrevem para o ingresso à Faculdade de
Filosofia e Letras de São Paulo. Entretanto, contristadoramente, vêm os seus esforços nulos pela reprovação da banca examinadora. Não se atribua
negligência a esta classe de estudantes, mas às falhas injustificáveis que hão no curso outrora chamado ginasial.
Antigamente, que a geração hodierna diz ser o "tempo do onça", o diploma (hoje,
certificado) de bacharel em ciências e letras era uma garantia para candidatar-se a qualquer Faculdade. Hoje, são indispensáveis os pré! E
por quê? Porque no "tempo do onça" era criteriosa a escolha dos livros a serem adotados e muita cautela na constituição do corpo docente. Hoje está
tudo mudado, isto é, modernizado...
Mas de vez em quando vem uma luz bruxuleante dar ânimo às nossas esperanças, e como
"quem espera sempre alcança", ou "a esperança é a última que morre..."
Soube, há poucos dias, que o Departamento de Educação e Saúde do Estado de São Paulo
vai reeditar a obra admirável de mestre Agenor Silveira - ouro de 24, para ser adotada nos cursos desdobrados de ginásio e colégio.
Magnífica iniciativa! É o caso, pois, de apontar outra obra notabilíssima de mestre
Agenor Silveira, merecedora de reedição e adoção nas escolas, por ser das mais práticas e simples na matéria - Colocação dos pronomes.
Bem a propósito, venho ajuntar o meu apelo ao de Rui Blaz no sentido de que a Comissão
Municipal de Cultura de Santos homenageie o mestre Agenor Silveira publicando Quatro Contos (Moeda Antiga), vazado em linguagem quinhentista
e transbordante de erudição e constitui, por assim dizer, uma antologia, de cuja primeira edição e única até o momento, lê-se esta nota no final do
livro: "Acabárão-se d'imprimir estes Quatro Contos aos vinte tres dias do mez de Março de MCMXII anos, em a Casa
Rembrandt, dos impressores W. Alfaya & Cia., à rua 15 de Novembro n. 80, desta muy nobre e leal cidade de Santos".
Digo o que já disse mestre Agenor Silveira num dos seus Quatro Contos: "Ora
meus cuidados me leixárão oje dois maravedis de tempo, e porque hu delles já gastey em louvores do Senhor, o outro quero gastar em doctrina dos
homês". |
Este poema em homenagem ao poeta Martins Fontes foi publicado na
edição de dezembro de 1943 (ano XXII, nº 12) de Flama (grafia atualizada nesta transcrição):
A Martins Fontes |
Um soneto? Há quem possa perpetrá-lo?
E impingi-lo depois a Coelho Netto?
Dá-lo pronto, escandido enfim completo,
De uma semana apenas no intervalo?
É muita violência, é muito abalo
Para este meu fraquíssimo intelecto,
Pois bem sabes que sou analfabeto,
E ouço com mais proveito do que falo,
Não me iludem as linhas com que coso;
E, embora preze imenso o teu pedido,
Esquivo e ingrato eu te respondo: Não!
Do "Inverno em flor" o artista primoroso
Será saudado sim, como é devido,
Pelo cantor ardente do "Verão".
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Do livro "Versos de Bom e Mau Humor"
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Este poema de Agenor Silveira foi publicado
em 17/7/2010 no PeregrinaCultural's
Weblog, da professora universitária e historiadora carioca de arte Ladyce West (acesso: 28/4/2013):
Se ela soubesse ler |
Se ela soubesse ler — que bom seria!
Que bom! com que prazer
E comoção meus madrigais leria,
Se ela soubesse ler!
Se soubesse escrever – oh! que alegria
Não havia de ser!
Que páginas de amor me escreveria
Se soubesse escrever!
Mas quantas outras, quantas, não podia
De estranha procedência receber!
E então – que horror! Que grande horror seria,
Podia a todas elas responder,
Permita o justo céu que a desalmada,
Que assim me soube o coração prender,
Aprenda a amar-me apenas, e mais nada,
Porque mais nada lhe convém saber…
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