Plínio Marcos: com ou sem camarões
Foto de Cristiano Mascaro e legenda publicadas com a matéria
Entrevista: Plínio Marcos
"Eu sou um teatrólogo"
Agora, porém, o autor de "A Navalha na Carne" conta como e por que
se está transformando num contador de histórias
Por Armando Salem e Sílvio Lancelotti
O recorde entre uma
gargalhada e outra não ultrapassou os 40 segundos – exatamente o tempo que separou a piada mais longa da imediatamente seguinte. Embora Plínio
Marcos devotasse um evidente interesse a um suculento prato de camarões, logo contraponteado por uma opulenta mistura de morangos com creme, a meia
dúzia de pessoas que o escutava numa mesa do Restaurante Gigeto, em São Paulo, já não tinha mais fôlego para sustentar o riso. Era preciso guardá-lo
para o impacto final da anedota, ou mesmo do caso verídico. Diante da pequena platéia, afinal, estava um brilhante contador de histórias – natural,
espontâneo, livre, fluente e muito engraçado.
Dias depois, para uma dupla de remanescentes do grupo anterior, haveria uma
surpresa no palco do Teatro de Arte, onde ele mostra o show O Humor Grosso e Maldito das Quebradas do Mundaréu
(veja a crítica na página 110). O Plínio Marcos
do espetáculo era o mesmo da mesa do restaurante – íntimo, imediato, contundente, sem as afetações de um ator. "Eu não preciso representar", ele
explica. "Sou assim mesmo. Até o Vitório (da novela Beto Rockfeller), que tem um papo de débil mental, não me dá nenhum trabalho".
Nascido em Santos (SP), filho de um bancário, na família de Plínio Marcos havia
muitos contadores de casos. "Uma tradição santista", ele diz. "Mas eu desenvolvi a coisa a partir de meu trabalho como palhaço de circo." Isso foi
há vinte anos, quando tinha dezessete, era mau aluno, e decidiu ser artista: "Sempre que meus irmãos tiravam notas altas na escola, a família fazia
festas para eles. Comigo, só houve comemoração quando aprendi a amarrar os sapatos. Com treze anos".
Hoje, casado com a atriz Walderez de Barros, três filhos ("Dois meninos, oito e
seis anos, uma menininha de três meses"), ele parece ter transmitido a habilidade aos descendentes: "Os garotos puxaram o pai", conta Walderez. "São
excelentes para contar histórias". Acima de tudo, porém, não se pode esquecer de que Plínio Marcos é um teatrólogo, ainda que em recesso. "É o que
gosto de fazer", ele lamenta. "Mas não posso".
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É difícil entender o público |
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VEJA – O Plínio Marcos teatrólogo morreu?
PLÍNIO – Morreu. Ele não pode encenar as suas peças; logo, está morto.
VEJA – Não pode encenar, por quê? Elas estão censuradas?
PLÍNIO – Eu escrevi umas quinze ou dezesseis peças. Cheguei a encenar nove delas.
Hoje, eu só poderia levar Quando as Máquinas Param. Todas as outras não estão nem proibidas nem liberadas. Simplesmente não conseguem alvará
para serem apresentadas. E olhe que não foi por falta de pedido. Recentemente, por exemplo, a Dercy Gonçalves quis montar A Navalha na Carne,
fazendo o papel da prostituta. O Silva Filho seria o Veludo, e eu o gigolô. Ia sair faísca. A Dercy pediu licença para levar a peça. Não
houve problema algum. Ninguém proibiu. Mas também não houve alvará.
VEJA – Então foi por isso que você parou de escrever?
PLÍNIO – Parei de escrever teatro e passei a escrever contos, crônicas, romances.
VEJA – E virou Vitório.
PLÍNIO – É, por uma questão de sobrevivência. Mas também montei o show e
voltei ao palco. A televisão não me satisfaz. E preciso estar em contato com o público. Eu preciso da platéia. Entendem? É isso que me leva ao
palco.
VEJA – Você se considera um ator?
PLÍNIO – Não.
VEJA – Um humorista?
PLÍNIO – Também não. Eu não tenho nenhum compromisso com o humor. O Chico Anísio
sim. Além de ser ator, ao abrir a boca ele tem de fazer a platéia rir. Eu não. Sou um contador de histórias. Se elas são engraçadas, eu apenas
espero que o público ria.
VEJA – E é difícil fazer rir?
PLÍNIO – Depende do público. O difícil é entender o público. Tem dias que ele se
desmancha de dar risada. Tem dias que não ri. Como tem dias que parece que todo mundo resolve ir ao teatro. Então a casa fica cheia. Tem dias que
não, que não vem ninguém. Vai entender um negócio desses.
VEJA – Então é por isso que na abertura do show você diz que está ali,
no palco, para mais um dia de trabalho, e "é muito bom" que o público também esteja, para lhe dar dinheiro?
PLÍNIO – Não. E não tenho nenhum preconceito em relação ao público. E acho,
sincera e honestamente, que o bom do Brasil é que o público não é de ninguém. Ninguém tem público. Hoje pode-se dormir com a casa lotada. Amanhã,
pode não haver ninguém na nossa porta. Assim, o artista brasileiro é obrigado a conquistar todos os dias o seu público. E ai dele se não fizer isso.
No meu show, aquela agressão contra o público é feita exatamente para que ele tenha a idéia de que eu estou ali forçado, e não por prazer.
Que eu gostaria de estar fazendo outra coisa, em vez de estar apresentando aquele espetáculo.
VEJA – E o que você gostaria de estar fazendo?
PLÍNIO – Levando as minhas peças.
VEJA – Então o seu show não passa de mais um meio de você ganhar
dinheiro?
PLÍNIO – Não. Ele mostra também uma série de coisas sérias. Vai em defesa da
música popular brasileira. Mostra que, como Vitório, na TV, eu não ganho o suficiente para poder sobreviver. Ou seja, que o mercado de
trabalho na televisão brasileira é uma m..., que artista americano morto – graças aos filmes – está trabalhando mais do que brasileiro vivo. Além
disso, o show é uma forma de eu me desenvolver como contador de casos. Eu quero realmente me transformar num contador de casos. É isso que eu
quero ser.
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A atenção desviada para o palavrão |
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VEJA – E um contador de casos, se possível, engraçados, não?
Plínio – O que o público brasileiro quer é emoção. Algo que lhe proporcione
impactos, risos, lágrimas. Não importa se neste impacto, ou emoção, venha embrulhada uma mensagem social ou não. O que ele quer é emoção. Então,
através do impacto, com A Navalha na Carne, Dois Perdidos numa Noite Suja, eu sempre tive público. Agora, cada artista tem um tipo de
emoção, de impacto, para provocar no público. O meu, no momento, é fazer rir.
VEJA – E você lamenta ter de fazer rir?
PLÍNIO – Eu não lamento ter de fazer rir. Lamento é não poder encenar as minhas
peças, porque elas costumam produzir um outro tipo de impacto.
VEJA – E quais são os ingredientes para este outro tipo de impacto?
PLÍNIO – Não tem receita, amigo. Se tivesse, eu estaria milionário. Cada artista
conta o que tem dentro de si. Esta é a sua arte. É besteira se chamarem caras que estão por aí curtindo flores, paz, amor e mandar que eles escrevam
uma peça de fundo social. Eles põem até escrever, mas certamente esta peça vai sair desvirtuada. Só sei de uma coisa: nunca procurei renovar nada.
Só tentei contar histórias. A Navalha na Carne, por exemplo, é uma história bem contada. O cinema mexicano sempre procurou contar histórias
de prostitutas, e sempre contou mal. Eu contei bem.
VEJA – Mesmo assim houve quem o proclamasse como um dos vanguardeiros do
teatro nacional.
PLÍNIO – Eu não sou cara de entrar nessas esteiras de vanguardas. Porque o
problema de todos esses movimentozinhos é que todos querem ser os papas. E como em cada movimento há lugar apenas para um papa, e em torno de cada
papa se reúne um bando de medíocres, fica aquele negócio de se encabeçar um movimento onde apenas um artista cria e a mediocridade vem atrás. É a
velha história: pintar um quadro modernoso qualquer um pinta. Agora, para pintar uma folhinha, o cara já precisa saber alguma coisa.
VEJA – Teria acontecido isso quando tentaram transformar você no paladino do
palavrão no teatro brasileiro?
PLÍNIO – Exatamente. Eu acabei ficando marcado pelo palavrão. Hoje em dia ninguém
me aceita sem palavrão. Me lembro um dia até em que eu estava na porta do Teatro de Arena, quando o Renato Consorte desceu de um carro, me viu e
disse "Oi, Plínio Marcos..." E duas senhoras que estavam comprando ingresso reagiram como se tivessem ouvido um palavrão. Aí ele virou para elas e
pediu desculpa por ter pronunciado o meu nome. Na verdade fui eu quem, com Dois Perdidos... e depois com A Navalha... usou pela
primeira vez, com abundância, o palavrão no teatro brasileiro. Mas eu não estava preocupado com isso e sim com a obra, enquanto uns caras estavam
preocupados em desviar a atenção do público para o palavrão, a fim de tentar anular a obra. Mas esta era a minha maneira de escrever e de falar. Eu
sempre falei muito palavrão. Tanto que houve uma época em que o meu apelido passou a ser Plínio Po.... Eu não falava nada que não terminasse
com um po.... Mas o que importa é que o público entendeu que esta é a minha maneira de expressar e prestigiou as minhas peças, lotando os
teatros até que os seus alvarás terminassem.
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Setecentas histórias diferentes |
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VEJA – De qualquer forma, as peças que você andou escrevendo, com ou sem
palavrão, sempre foram peças de teatro fundamentadas em histórias e personagens marginalizados na vida urbana, não?
PLÍNIO – No meu livro (Histórias das Quebradas do Mundaréu), eu tenho
quarenta histórias diferentes. Na minha coluna do jornal Última Hora, em São Paulo, eu já escrevi mais de setecentas histórias – também
diferentes. Barrela (peça ainda não encenada), Dois Perdidos... e A Navalha... também são diferentes umas das outras. Mas todas
elas são produtos de ambientes que eu freqüentei, ou freqüento. Se me contam alguma coisa, e eu gosto, ponho logo no meu show. E nele, nas
minhas histórias, nas minhas peças, eu falo de futebol, de prostituição, de prisão, de malandros, de samba. Coisas que eu vivi e estou vivendo.
Pois, como diz um dos críticos de literatura de VEJA, Geraldo Galvão Ferraz: "eu sou o 'parceiro do povão'".
VEJA – É este o compromisso que no final do seu show você conta ter
assumido na esquina da rua da sua casa, quando ainda era garoto, saltando poças de água e pisando descalço em pedras?
PLÍNIO – Comigo mesmo e com a minha esquina, com a gente da minha rua. Quando eu
era garoto, entre os catorze e dezesseis anos, seu Bernardo, um amigo do meu pai, lá da minha rua, quando me via me perguntava: "Por que você
não arruma um emprego e não trabalha?" Meu pai me perguntava a mesma coisa em casa. Eu respondia que não. Que ia ser artista. Mas artista mesmo – e
não personagem de coleção de figurinhas infantis. Era para ser realmente um porta-voz do meu povo. E de repente eu me vejo constrangido a fazer o
papel apenas de figurinha infantil. Então eu sofro o impacto, e reajo. E coloco no meu show uma série de proposições em defesa da nossa
música, do mercado de trabalho, das pessoas lá do meu bairro. Pois importar músicas estrangeiras, e filmes estrangeiros, e tudo que é estrangeiro,
somente tira o mercado de trabalho do artista popular brasileiro. Eu só acredito que um povo seja realmente livre se conseguir preservar as suas
formas de expressão mais puras. A arte popular é uma delas. Está sendo violentamente esmagada pela importação de cultura. Tem rádios que só tocam
iê-iê-iê. E, quando se chega diante de uma platéia de estudantes, e se fala em congada, parece que está se falando em coisa de outro planeta.
VEJA – Como você mesmo disse, tudo que você escreve está relacionado com algo
que você sentiu, viveu ou está vivendo. A música também?
PLÍNIO – É, eu já andei fazendo umas musiquinhas de parceria com amigos. Gosto de
samba, como gosto de futebol. E jogo bem, de centro-médio.
VEJA – Barrela também aconteceu com você?
PLÍNIO – Não. Barrela foi a minha primeira peça. Eu a escrevi com 22 anos.
Barrela foi um caso que aconteceu em Santos, e muito comentado. Eu ouvi a história e fiquei muito impressionado. Ela fala de um rapaz que
passou dois dias na cadeia, em meio aos piores criminosos. Havia sido preso por pequenas desordens e, no chiqueiro (a cela), acabou sofrendo uma
barrela, quando os presos se lançam sobre um outro e o violentam. Mais tarde, este rapaz procurou um a um os presos que o haviam currado e matou
todos.
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Alegre, mesmo nos tempos difíceis |
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VEJA – E A Navalha na Carne?
PLÍNIO – Sabe como é, todo o santista curtiu muito a zona do cais. A zona que o
Lucas Nogueira Garcez (ex-governador paulista) fechou para acabar com um dos currais eleitorais do Ademar de Barros (também ex-governador de São
Paulo). E Dois Perdidos... foi escrita quando eu fui morar em São Paulo, sozinho, sem ter nenhum amigo com quem conversar. Mas é importante
que eu diga que, de uma maneira geral, minha vida nunca foi triste. Eu nunca fui um cara sofredor. Mesmo nos tempos difíceis. Eu sempre fui alegre e
tirava os problemas – a falta de lugar para dormir, a falta do que comer, que eu encontrei logo que cheguei em São Paulo – de letra. As pessoas têm
a impressão, pelas coisas que eu falo, que eu fui um tremendo sofredor. Um agoniado que de repente fez sucesso e deixou de ser magoado com a vida.
Não é verdade. Ao contrário, eu sempre fui um cara com muita vontade de viver. Eu passei por tudo isso com olhos abertos. Com um único objetivo: ser
artista. Por isso procurava sempre enxergar coisas que mais tarde eu consegui contar aos outros com uma visão social.
VEJA – E você acha que todo o autor que pretenda fazer denúncias sociais tem
de passar pelos compromissos de esquina e o sofrimento na pele que você passou?
PLÍNIO – Alberto D'Aversa
[*] já dizia: "Se
um cara não jogou bola, ele não pode fazer bem o tipo brasileiro". É claro que a vivência ajuda. Mas também é bíblico: "São muitos os caminhos que
levam à morada de meu Pai". Na verdade, não importa se uns aprendem as coisas da vida de uma maneira mais bruta, enquanto outros as percebem de uma
maneira mais delicada. O que importa é que todos estejam produzindo. E o Brasil é um país novo com muita gente se atirando com tudo nas paradas. Nós
não estamos enfrentando uma crise de criadores, mas sim de mercado de trabalho.
VEJA – Você está se queixando de falta de mercado de trabalho somente porque
os diretores das emissoras de TV não deixaram você escrever uma telenovela?
PLÍNIO – Não, eu me queixo de falta de trabalho de uma maneira geral. Então,
quando eu falo no meu show que 28 cinemas paulistas não queriam passar filmes brasileiros, na verdade estou defendendo a formação da
indústria cinematográfica brasileira. O mercado de filmes sendo nosso vai haver indústria de filmes. Agora, de fato eu gostaria de escrever uma
telenovela. Mas o pessoal não topa porque ela é diferente.
VEJA – Diferente como?
PLÍNIO – Fazer novela é fácil. É só a gente ter um segredo que o público sabe e
os atores não sabem; um segredo que os atores sabem e o público não sabe; e um casal que quer fazer amor e os outros não deixam. Sempre dá certo, em
qualquer história. E, ao lado disso, eu montava a minha novela: uma história sobre os bastidores do futebol. Ela está prontinha e todos os dias
ofereço para um diretor de TV. Mas acho que eles se cansam de pensar, não aceitam a história, mas não explicam por quê. Aliás, nunca ninguém me
convidou para fazer nada. Eu sou o artista mais forçado do Brasil. Sempre tem algum amigo dizendo: "Olha o Plínio", "Põe o Plínio aí".
VEJA – Nem para fazer o Vitório?
PLÍNIO – Não. Eu comecei a fazer o Vitório na primeira vez porque o Juca
de Oliveira não quis. Deu certo, eu virei Vitório.
VEJA – E foi bom virar Vitório?
PLÍNIO – Existem aspectos positivos e negativos. Ele me deu uma boa popularidade,
e a popularidade, para todo artista, é importante. Pena que geralmente o público, que faz oba, oba na rua, não vai ao teatro. E este mesmo público
não dá sossego. Os caras acham que a gente tem de dar autógrafo, tem de falar da vida dos outros artistas, coisas que não interessam. Aí é chato.
Agora, sempre é melhor ser popular do que ser apagado. Todo o artista luta para ser popular, e eu não sou daqueles que lutam para ser popular e
depois usam óculos rayban à noite para se fingirem de incógnitos. Eu gosto de ser popular, ainda que dê muito trabalho.
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Na TV, não há tempo para se criar |
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VEJA – E dá tanto trabalho assim?
PLÍNIO – Dá. Outro dia eu peguei um ônibus. Estava sentado, quietinho, quando de
repente a mulher que estava do meu lado, me olhando com aqueles dois olhões fixos, duros, me disse: "Você não é o Vitório?" Eu respondi que
não. Ela ficou quieta e eu pensei: "Bom, dessa eu me livrei". Mas lá ficou ela com os dois olhões duros em mim. E daqui a pouco falou de novo dando
de ombro no meu ombro: "Ah! É você sim. Você é o Vitório". Eu insisti que não era, mas ela não se conformou. Cutucou a passageira que ia no
banco da frente e falou: "Ele não é o Vitório?" A outra passageira concordou que sim, e daqui a pouco estava todo o ônibus olhando para mim e
falando no Vitório. Tive de descer do ônibus, e longe de casa. Andei um bocado.
VEJA – Então você é contra a televisão?
PLÍNIO – Muito pelo contrário. Acho que tem muita coisa
importante sendo feita na TV. Agora, o problema é que não há tempo nem produção para se fazerem grandes criações. Então o trabalho na TV é uma coisa
improvisada, resolvido na base do agrião. É a história da caveira que está faltando durante as gravações de Hamlet, e o contra-regra sai correndo
para ir buscar uma no cemitério. Enfim, a TV brasileira vive exatamente da capacidade de improviso do artista brasileiro. Deve-se partir do
princípio de que ainda não existe no Brasil o empresário da comunicação. Então o cara que ganha dinheiro em comunicação – cinema, teatro ou TV –
aplica seus lucros num outro tipo de negócio. E, enquanto isso não mudar, tanto a TV como o teatro e o cinema não vão para a frente.
[*] Alberto D'Aversa, italiano de Casarano, veio
para o Brasil em 1956. Professor da Escola de Arte Dramática e da Faculdade de Comunicações da Fundação Álvares Penteado, em São Paulo, morreu em
1969, aos 49 anos.
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