Plínio Marcos
Sábato Magaldi
Plínio Marcos (n. 1935) irrompeu na dramaturgia
brasileira em fins de 1966 com Dois Perdidos Numa Noite Suja, a que se seguiu Navalha na Carne. Ficavam de lado quaisquer esquemas
racionais para exame da realidade social, em benefício do aproveitamento de personagens até então praticamente esquecidas: o lumpesinato urbano, as
sobras do processo duro da luta por um lugar ao sol, a marginalidade que os sistemas injustos criam e não sabem como absorver. Violência
insuspeitada toma de assalto o palco e se ela se funda em entranhado realismo, supera de longe os limites dessa escola.
Dois Perdidos, cujo ponto de partida é o conto "O Terror de Roma", de
Alberto Moravia, se passa num quarto de hospedaria barata, depois de um assalto, patenteando o drama do imigrante deslocado na cidade grande e a
inevitabilidade do crime para quem não dispõe de condições dignas de sobrevivência. Navalha na Carne reúne em cena uma prostituta em
declínio, o cáften que a explora e o empregado homossexual do bordel. Antes, em 1959, numa única noite de um festival de teatro estudantil, Plínio
havia conseguido apresentar Barrela, título que, na gíria, significa estupro ou curra. O texto inspirava-se no caso de um rapaz, detido por
motivo menor que, ao ser solto, matou todos os que o estupraram na prisão.
Outro texto expressivo de Plínio é Abajur Lilás: três prostitutas, às voltas
com o dono do prostíbulo, simbolizam o comportamento dos oprimidos em face do poder, nos anos ferrenhos da ditadura. Entre outras peças que exprimem
uma vertente diversa do autor - o seu lado místico - Jesus Homem retoma a solidariedade evangélica do Cristo primitivo.
Repórter de um tempo mau, como gosta de definir-se, Plínio
dramatiza em A Mancha Roxa a história de várias mulheres que, num presídio feminino, descobrem ser portadoras de Aids. Da verificação triste
elas partem para o desafio de propagar a doença pelo mundo, em resposta à incúria da sociedade. Em pleno processo criador, Plínio Marcos continua a
incomodar o gosto repousado do público, em sua trajetória de permanente rebeldia.
SÍTIO OFICIAL
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