Uma mulher à frente de seu tempo e que se destacou não só por sua vida intelectual intensa, mas por sua generosidade. Trata-se da jornalista, escritora, cronista e tradutora santista Nair Lacerda, que amanhã completaria 100 anos de nascimento. Falecida em 1996, Nair será homenageada amanhã no Instituto Histórico e Geográfico de Santos, durante solenidade de posse de Alcindo Gonçalves, seu sobrinho-neto, na cadeira ocupada pela escritora e que tem como patrono Alberto Veiga.

"Ela teve uma atuação marcante. Seu primeiro texto, em 1932, já falava sobre a mulher paulista e o voto feminino", lembra Alcindo. A crônica marcava a estréia de Nair em A Tribuna, com o pseudônimo de Sylvia de Lores, em homenagem a dois irmãos falecidos, Sílvio e Dolores.

Durante 64 anos escreveu ininterruptamente para o jornal, sempre em sua máquina Olivetti Studio 45. "Ela gostava de contar a vida e refletir sobre a vida. Tinha interesses múltiplos, gostava de Filosofia, Psicologia, Ocultismo, Ciências, Artes. Era uma pessoa muito agradável".

Alcindo recorda dos vários livros indicados pela tia como boa leitura. Entre eles Liberdade Sem Medo, de A.S. Neill. lido na adolescência. "Marcou a minha vida, passei a acreditar na liberdade como motor da vida".

Mesmo no final da vida, aos 93 anos, manteve-se lúcida e sempre antenada com o mundo. "Ela construiu a si mesma pela intelectualidade sem perder a sensibilidade, a delicadeza. Ela merece a homenagem. A Cidade tem que lembrar dela, Nair não era uma pessoa comum".

Da mesma opinião, Carolina Ramos, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, ressalta que Nair Lacerda era uma criatura muito querida, de família tradicional e ligada às artes. "Ela é muito importante para a Cidade, por isso queríamos que seu sobrinho ocupasse a cadeira dela".

A figura da cronista também é destacada pela professora-doutora Maria Zilda da Cruz, presidente da Academia Feminina de Ciências, Letras e Artes de Santos, entidade que instituiu há quatro anos o Prêmio Nair Lacerda. "A pessoa que recebe o prêmio passa por votação em plenário. O prêmio foi criado por reconhecer em Nair uma mulher lutadora, profundamente culta e que foi à luta numa época em que a mulher não aparecia no cenário público".

Para a professora, a cronista era uma mulher de muitos dotes. "Ela espalhou muita cultura a todos pelo talento de jornalista e cronista".

O poeta e escritor Narciso de Andrade diz que só pode dizer obrigado Nair, pelos exemplos que a cronista lhe ofertou, com seu modo de ser, viver e conviver. O escritor teve um longo convívio de amizade com Nair e a visitava no tempo em que ela morou em Ribeirão Pires e Santo André, onde a cronista teve marcante presença à frente da Secretaria de Cultura. "Ela era, antes de tudo, uma criatura extremamente simples, não obstante suas origens que ultrapassavam os limites da mediocridade quase sempre dominante no ambiente em que vivíamos".

Livro, para ela, diz o poeta, era sempre objeto de respeito. "Leitora infatigável de nossa melhor cultura, dizia ela que o pai recomendara que estudasse muito, lesse muito, para sempre ocupar um lugar destacado na sua atividade. O conselho foi seguido à risca por essa senhora de aparente fragilidade mas com uma rara força moral".

Posse no IHGS - Formado em Engenharia Civil, Alcindo Gonçalves é professor de Ciências Políticas e de Programas de Mestrado de Direito e Gestão de Negócios na UniSantos. Na Unisanta é coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos Sócio-Econômicos (Nese). A solenidade de posse no IHGS será às 20h30. O endereço é Av. Cons. Nébias, 689.