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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Paulo Gonçalves (3)

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Sobre Paulo Gonçalves, a revista eletrônica Poetizando registrou, na edição 28, de 10 de março de 2008:

Paulo Gonçalves

PAULO GONÇALVES, pseudônimo de FRANCISCO DE PAULA GONÇALVES, poeta, dramaturgo e jornalista brasileiro, nasceu em Santos/SP a 2 de abril de 1897 e faleceu na mesma cidade a 8 de abril de 1927. Colaborou com A Cigarra, Novíssima, Vida Moderna e outras. Foi considerado o último dramaturgo a figurar no grupo simbolista, destacando em suas peças: a despedida, a renúncia e o abandono. Algumas obras: Yara (versos, 1922); 1830 (comédia, 1925); O Cofre (teatro); As mulheres não querem algumas (teatro); A comédia do Coração (teatro); Lírica de Frei Angélico (versos). Deixou duas obras inéditas: As núpcias de D. Juan (teatro) e Quando as fogueiras se apagam (teatro).

Os Incompreendidos

Ó solitários príncipes de lenda,
Dolorosos irmãos de Antonio Nobre,
Tristes no manto de ouro, que vos cobre,
Sem ter um coração que vos entenda!

Em vossas almas, que ninguém desvenda,
Um sino plange em funerário dobre:
Wilde, humilhado; Cruz e Souza, pobre;
Quental, sem luz; Rudel, sem Melisenda...

Bendito vosso trágico destino!
Através da Beleza, ó torturados,
Vosso infortúnio se tornou divino!

Se tivestes assomos de revolta,
Não fostes mais do que anjos exilados,
Chorando, em desespero, pela volta!

 

Na enciclopédia livre Wikipédia, o verbete Paulo Gonçalves estava assim registrado, na consulta feita em 20 de abril de 2009:

Paulo Gonçalves

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Francisco de Paula Gonçalves, conhecido como Paulo Gonçalves, (Santos, 2 de abril de 1897 - Santos, 8 de abril de 1927) foi um poeta e dramaturgo brasileiro.

Era filho de Benvinda Fogaça Gonçalves e Manuel Alexandre Gonçalves. Exerceu a função de jornalista em diferentes periódicos em São Paulo e em Santos. Foi autor de peças teatrais, do período simbolista, de elevado refinamento e de grande sucesso.

Foram seus contemporâneos, envolvidos intensamente com sua produção teatral, figuras expoentes do teatro brasileiro tais como Oduvaldo Viana, Leopoldo Fróes, Procópio Ferreira e Iracema de Alencar. Sua produção na dramaturgia inclui as peças em verso: "Núpcias de D. João Tenório", "Quando as Fogueiras se Apagam", "O Juramento" e "1830". Foi, também, autor das peças em prosa: "As Noivas", "As Mulheres não Querem Almas" e " A Comédia do Coração".

Foi, ainda, um poeta de rara sensibilidade, cuja obra só não é mais extensa dada sua morte prematura. O "poeta do coração", como era chamado, foi contemporâneo de Vicente de Carvalho e de Martins Fontes, também poetas santistas de grande reconhecimento nos meios literários. Sua única obra poética publicada foi "YARA", que é uma coletânea de poemas vinda a público em 1922. Um segundo livro, "Lírica de Frei Angélico", fragmentário e na forma de manuscrito não chegou a ser publicado devido à morte do poeta.

Idealista, foi, também, um dos fundadores do Partido da Mocidade, em 1925, tendo sido esse um movimento cívico de protesto contra os processos de corrupção e os processos políticos retrógrados que vigoravam no Brasil na década de 1920.

O texto a seguir foi transcrito de um manuscrito inédito, e demonstra a refinada sensibilidade e o lirismo poético de Paulo Gonçalves:

De como nasci para a poesia


Em menino, o meu maior enlevo era ver gravuras. Delirava de contentamento quando me levavam à igreja, a ver os vitrais e as imagens dos santos. Um dia, por suprema contemplação, meu pai consentiu que eu folheasse, depois de ensaboar devidamente as mãos, um Lusíadas enorme que havia em sua biblioteca, e que eu namorava em choros perenes. Tão demoradamente e com tanta volúpia contemplei as ilustrações da epopéia lusa que ainda hoje sei de cor. De todas, porém, a que mais me impressionou foi o retrato de Camões, no seu tabardo cor-de-rosa, todo em pregas, no colo a lira divinatória e um solene ar de domínio no olho único.

Graças à paciência de meu pai, fiquei sabendo o sentido da palavra poeta e que a poesia era a linguagem dos deuses. Facilmente acreditei na veracidade da metáfora, pois já havia notado que em dias de festa em casa, enquanto alguém recitava, os ouvintes se perdiam em atitudes de êxtase.

Meu pai se esqueceu de revelar-me o simbolismo da lira. Daí o perigo. Desabrochou-se n’alma o capricho de ser poeta, menos pelo orgulho do título que pela fascinação do encantado instrumento. Confesso de coração aberto que esse desejo não constituiu uma precoce revelação de gênio. Absolutamente. Não quero iludir a boa fé dos pósteros. Desejei uma lira como poderia desejar um espadim ou um cavalo de pau...

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Ora, dá-se o caso que, propiciando um idílio dominical aos namorados, havia no meu lugarejo uma filarmônica. Os músicos pareciam generais nas suas fardas oirejantes. O jardim ficava vedado por um gradil de ferro, onde por vezes me dependurava para assistir à passagem da banda; mas o povo ondeava, aberto em alas à minha frente, tapando os olhos curiosos. Só uma vez consegui vê-la, de perto, faiscante ao sol, no rigor da marcha marcial. Logo na primeira fila, vinha o tocador da lira, bigodudo e gordalhudo. Foi um espanto. Alei-me à casa:

- Papai, diga o nome de um poeta italiano.

- Poeta italiano... Dante.

- Pois eu vi Dante!

Meu pai, sorrindo, beijou-me a testa.

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O misterioso velhinho que, numa noite só, percorre todas as casas do mundo, a encher de brinquedos os sapatos das crianças, trouxe-me certa vez uma lira pequenina. E nunca atinei como é que se podiam arrancar versos das cordas...

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Como para as almas, há um ciclo para o sonho: hoje pago tributo ao delírio da infância. As cordas que espedacei espiritualizaram-se: saudade, amor e sofrimento. Desvendei o mistério da lira.

Antes não o soubesse...

Em 1944/45, a peça A Comédia do Coração era levada à cena pelo Teatro Amador de Pernambuco (TAP), como é registrado em seu site Web (consulta em 20/4/2009):

Imagem: captura de tela do site da TAP

Mais um autor brasileiro é levado à cena pelo Teatro de Amadores de Pernambuco, ocasião em que completa o terceiro ano de sua fundação. A comédia do coração.

"Esquisita e deliciosa. Uma peça para ser vista com os olhos d'alma." Assim se expressou, quando da visita do Teatro de Amadores a Salvador, o cronista F.P. em jornal daquela cidade. Realmente uma peça que surpreende o público, acostumado a ver personagens "vivos" em cena, enquanto, diferentemente, em A comédia do coração ele vai conhecer sentimentos que convivem no interior de um coração de um alguém que sofre, ama, ri, sonha, tem ódio, ciúme, alegria, medo e guarda, lá no fundo da alma, a esperança. Sentimentos onde a razão é centro de todo o entrecho e que se vê vencida pela paixão, sentimentos esses tão reais nos mistérios que habitam os corações de todos nos.

ELENCO:

Alfredo de Oliveira - Sonho
Denise Albuquerque - Paixão
Geninha Sá - Alegria
Dina de Oliveira - Razão
Adhelmar de Oliveira - Ódio
Valter de Oliveira - Medo
Maria de Lurdes Oliveira - Dor
Alderico Costa - Ciúme
* Maria do Céu Meira - Desconhecida (Saudade)
* Estreando no Teatro de Amadores de Pernambuco

O espetáculo contou com a orquestra do Maestro Caparros sob regência de Valdemar de Oliveira.
A direção geral da iluminação ficou sob a supervisão de Alexandre Carvalho enquanto Rosa Turkow e Hermilo Borba Filho ficaram encarregados dos serviços interno e externo da eletricidade.
Eletricista: Aníbal Mota
Contra Regra: Francisco Miranda
Maquinista: João Alves e José Barros
Ponto: Abelardo Cavalcanti
Cenários: Idealizado pelo diretor Turkof
Entidade beneficiada: Cruz Vermelha Brasileira

Remonte em 1945 quando da visita de Pascoal Carlos Magno ao Recife, com renda para a Casa do Estudante do Brasil.

Novamente remontada em 11 de Maio de 1957, com as seguintes alterações no elenco:
Janice Lôbo de Oliveira - Paixão
José Maria Marques - Ciúme
Herci Lapa de Oliveira - Saudade
Demais papéis com os mesmos da estréia.

Cenário e Figurinos: - Janice Cantinho Lôbo de Oliveira
Luz e som: Reinaldo de Oliveira

ALGUNS TRECHOS DE CRÍTICAS E COMENTÁRIOS

"
Para os que não acreditam no destino do teatro brasileiro, recomendaria assistir um dos espetáculos do Teatro de Amadores que honra Pernambuco e o Brasil. Em Comédia do coração - lindamente encenada, iluminada, representada e vestida - lembrei-me daquele conceito de Tains em que afirma ser o teatro um friso vivo. Se os profissionais tivessem a consciência artística dos Amadores do Recife, que bom seria para o Teatro no Brasil! Valdemar de Oliveira é realmente um animador de heroísmo. Ele e os seus colaboradores merecem o aplauso sincero e a homenagem da mais alta admiração" de Pascoal Carlos Magno.

"
Basta esse original para podermos afirmar que já existe um teatro nacional"
Zygmunt Turkof (Foi o diretor do espetáculo. Polonês de nascimento, passou muitos anos no Recife, dando aulas de Teatro e encenando peças de autores da comunidade judaica).

Em seu "A propósito" do dia da estréia assim se pronunciou Valdemar de Oliveira:

"
Vai o Recife, assistir, hoje no Santa Isabel, a uma peça que positivamente se esgotaram as possibilidades técnicas e artísticas do nosso meio teatral. O que se pode conseguir em instalação elétrica suplementar, em artifícios de maquinaria, em jogos de luz e interpretações parte de nossas vocações teatrais - isso foi conseguido, no objetivo de montar, um os mais belos originais teatrais brasileiros - A Comédia do Coração. Trabalho árduo, que demandou a colaboração de um pessoal especializado e um número de ensaios ainda não alcançado, desde a fundação do Teatro de Amadores. Tem-se a impressão de que este atingiu o seu ponto culminante, pela realização de um espetáculo montado sobre o mais severo critério estético."

Segundo Antônio Edson Cadengue, A comédia do Coração, foi "
um espetáculo decisivo na vida do Teatro de Amadores, uma vez que trouxe a consciência do trabalho do encenador, à atualização estética e completa mudança de sua visão cênica"

Do cronista Luiz Teixeira: "
O espetáculo ontem apresentado, no Teatro Santa Isabel, pelo Teatro de Amadores, mereceu impreteríveis aplausos. Preliminarmente conquistou a simpatia e o apoio de nossa melhor sociedade - porque se efetivou sob o intuito profundamente patriótico e humanitário de beneficiar monetariamente a Cruz Vermelha Brasileira. Com esse espetáculo, verdadeiramente impressionante, o Teatro de Amadores comemorou o terceiro aniversário de sua frutuosa permanência no âmbito cultural de pernambucano, como expressão de sadios propósitos em proveito do soerguimento da arte cênica nacional, como presença designativa de autorizada oposição ao histrionismo que pretende fazer dinheiro com a arte sem fazer arte, E representando a peça de Paulo Gonçalves, A comédia do coração, o Teatro de Amadores homenageia a inteligência brasileira, merecida e altamente condicionada no mérito - grande mérito - de poeta e escritor fluminense. (N.E.: erro do cronista: o poeta e escritor era santista...)

"
Redigida com requintada pureza vernácula, A comédia do coração é sugestiva fantasia, sem que lhe faltem, todavia, os atributos de obras fundamentalmente teatral. Penetra a totalidade de seus símbolos - contidos nos personagens; nas situações e nas frases de pensamento, sem a rigidez de sentenças - buscadas e compreendidas as intenções do autor - algumas aliviadoras; outras, contundentes - A comédia do coração, vemo-la, de ficção, de extravagância, transmutada na surpreendente realidade das nossas próprias batalhas sentimentais, na autenticidade dos pendores e comportamentos humanos - edificados sobre o enigma de razões psíquicas ou efeitos de causas essencialmente orgânicas. Todo o enredo da peça se desenvolve na interior de um coração - pobre músculo vezes muitas infamado por outros músculos, os verdadeiros culpados, notadamente, nas graves questões do amor (...) a representação da encantadora peça de Paulo Gonçalves teve a direção geral do ator polonês Sigmunt Turkow.

"Para que o Teatro fique integrado à legítima situação de Arte tem que contar com a proficiência do diretor. A este pertence a orientação da obra sob todos os seus aspectos: itinerários de ação dos interpretes, preparação da atmosfera cênica e muitos outros fatores inerentes ao particular. Não se colocando acima do autor, do ator, do caracterizador, do cenógrafo, e de vários elementos necessários à sólida execução do Teatro, é, sem dúvida o diretor um dos seus principais colaboradores. Embora sem contar com recursos materiais em paridade ao vulto da tarefa, Zgmunt Turkow exibiu-se, em verdade, conhecedor dos complexos delineamentos como das inúmeras minúcias a que se subordina o Teatro. Em especial, no modo de conduzir a interpretação - nada obstante com o auxílio dos amadores por si mesmo capazes - Zigmunt Turkow produziu o bastante para o realce do seu merecimento artístico.

"Os efeitos de luz concorreram para a beleza de desenvolvimento da peça A Comédia do Coração. Enorme é a sugestão da cor sobre a platéia. Sergei Eisentein, famoso diretor russo, com a experiência que lhe confere afirma ser a cor o maior estimulante para as específicas emoções humanas. O espetáculo de ontem, assinalando mais um esplêndido sucesso para o Teatro de Amadores, sem provocar imbecis gargalhadas, nem gerar cachoeiras de prantos - os extremos onde alguns, ingenuamente, situam a função do Teatro - foi raro momento de espiritualidade superior" - Luiz Teixeira, em 5 de maio de 1944 - Notas de Arte do Jornal do Commercio.

Desde 2007, a peça A Comédia do Coração vem sendo representada na capital paulista pelo grupo Amadododito - já em terceira temporada no Teatro Plínio Marcos:

Imagens: captura de telas do site

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