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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - Ribeiro Couto - BIBLIOTECA NM
Rui Ribeiro Couto (16-[41])

Clique na imagem para ir ao índice desta obraUma das principais obras de Rui Ribeiro Couto é o romance Cabocla, aqui transcrito em primeira edição digital, a partir do livro publicado em 1945 (terceira edição) pela Livraria Sá da costa Editora, de Lisboa, Portugal, com prefácio de João de Barros, sendo todos os exemplares autenticados com as rubricas do autor e editores. A obra faz parte do acervo de Rafael Moraes transferido à Secretaria Municipal de Cultura de Santos e cedida a Novo Milênio pelo secretário Raul Christiano para digitação/digitalização (ortografia atualizada nesta transcrição - páginas 201 a 204):

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Cabocla

Ribeiro Couto

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XL - De Pequetita Novais, na Capital Federal, a Jerónimo Vieira Pires, na Serra do Caparaó

Jerónimo caríssimo,

Seu pai pede-me para responder à sua carta, acreditando que eu tenha mais recursos literários. É engano dele, sem dúvida. Aliás, não é preciso ter muitos recursos literários para lhe dizer simplesmente isto: - No momento em que recebemos as suas bem traçadas linhas que nos comunicam o nascimento de Jerónimo 2º, já eu era sua madrasta.

Sua madrasta, sim, de você.

À surpresa do seu casamento, em condições tão filme-policial, depois de uma verdadeira fuga do Rio (a segunda das suas fugas, mas também a fuga definitiva, ai de nós!), era preciso que respondêssemos, ele e eu, com uma surpresa não menor. Seu pai e eu somos hoje marido e mulher e embarcamos no próximo dia 8 para a Europa pelo "Arlanza".

Toda a nossa tristeza é não podermos ver dona Zulmira dar de mamar ao Jeroniminho. Enfim, mando-lhe hoje pelo correio, em separado, uma máquina fotográfica, a fim de que você nos remeta uns instantâneos dessas tocantes cenas da Sagrada Família do Caparaó.

Sinto que vou querer muito bem à sua mulher e ao seu filhinho, como quero bem a você, que hoje é, além de meu mais velho amigo, meu enteado.

Seu pai insiste em não querer escrever-lhe e confesso que, nesta altura da carta, interrompi-me para ir lá dentro, à sala de jantar, dizer-lhe que era melhor que ele mesmo o fizesse. Não quer... Diz que não está disposto...

Et voilà.

É inútil acrescentar que tanto ele como eu esperamos que você nos dê sempre notícias. Escreva-nos para o nosso consulado em Paris. Ao ali chegarmos, depois de uma volta por Portugal, Espanha, Itália e Suíça, espero encontrar cartas suas, com os indispensáveis instantâneos da sua fazenda (mande-me o retrato das principais vaquinhas leiteiras) e do Jeroniminho - meu neto.

Meu neto - que delícia nesta palavra!

Na Suíça, entre as montanhas, pensarei muito em você, por analogia, porque, sem dúvida, o Caparaó deve ser uma espécie de Suíça - sem neves e sem turistas. Aliás, é possível que eu descubra também em mim uma vocação rural, mas exigirei todo o conforto. Portanto, jamais o sertão brasileiro. O meu sertão é o sertão europeu - Tirol, Alpes, Pirineus -, sertão onde há cassinos,dancings e os jornais de Paris e de Londres com diferença de horas.

Mais, je bavarde.

Diga uma coisa: sua mulher não ficará com ciúmes se nós continuarmos a nossa correspondência de antigamente? Quand même, ça me ferait plaisir...

Importantíssimo: - enquanto não estivermos instalados em Paris, não espere de nós senão postais.

Seu pai e eu lhes mandamos a nossa bênção, a você, à minha boa nora e ao neto - o brasileiro Jerónimo Júnior.

Até o primeiro postal da Baía ou de Las Palmas!

Ciao!

Pequetita.